
Guilherme Athayde
Guilherme Athayde
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Gestores municipais de diversos municípios do Vale do Rio Pardo se reuniram em Santa Cruz do Sul na última sexta-feira, 13, para discutir soluções para as dívidas dos agricultores gaúchos, intensificadas após seguidas safras prejudicadas por estiagens e recentes enchentes no Rio Grande do Sul. A reunião teve a presença do secretário estadual de Agricultura, Edivilson Brum; do deputado federal Marcelo Moraes (PL-RS) e da deputada estadual Kelly Moraes (PL), além de vereadores e agricultores da região.
A mobilização foi organizada pela Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), presidida pelo prefeito de Candelária, Nestor Ellwanger (Progressistas). A intenção dos gestores é obter mais prazo para que os agricultores paguem seus débitos e menores taxas de juros.
Em 2025, o governo federal propôs a suspensão das dívidas por seis meses de forma emergencial, e a ampliação dos prazos de pagamento por até três anos. No Senado, tramita um projeto de lei do senador Luis Carlos Heinze (Progressistas-RS) que pede até 20 anos para o pagamento das dívidas, com juros de até 3%. A matéria aguarda parecer da Comissão de Assuntos Econômicos.
Segundo Brum, a proposta de renegociação apresentada pelo governo federal beneficiou parcialmente pequenos e médios produtores. “O governador Eduardo Leite ofertou R$ 136 milhões, que seria o pagamento de juros de um ano, para fazer o adiamento (da dívida). No momento que tu adia por quatro anos (foi atendido somente três) essas dívidas, dá tempo de reestruturar. Mas temos que reestruturá-las em bases sólidas, que o governo federal aceite, e que atendam os agricultores, que querem três anos ou 20 anos para pagar, com juros de 4,5%. Temos que criar um fundo que equalize esse juro, mas o Ministério da Fazenda tem que acolher essas propostas”, destacou Edivilson Brum.
Para o deputado Marcelo Moraes, falta sensibilidade ao governo federal para atender as demandas dos produtores gaúchos. Ele ressaltou a importância da agricultura para a economia das cidades e defendeu uma mobilização envolvendo o maior número possível de prefeitos, deputados e entidades, para pressionar o governo a aceitar o pedido dos agricultores.
“Nós estamos desde o final do ano passado buscando alternativas para que os agricultores pudessem refinanciar as dívidas que foram buscadas nos anos anteriores. Já são cinco anos de seca, que fizeram que nós chegássemos num momento aqui no Rio Grande do Sul, onde os agricultores, mesmo que tivessem uma safra com chuva e sol sob encomenda, ainda assim teriam dificuldades de pagar suas dívidas, em função de terem rolado essas dívidas por muitos anos. O que estamos buscando é que tenham de três a quatro anos de carência, para que o agricultor possa se reorganizar, e que tenha um juro abaixo de 4%, fazendo com que essa prestação possa ser alongada até 20 anos.”
Agricultores enfrentam dívidas, perdas e pedem renegociação urgente
O agricultor Lucas Castilhos Flores participou da reunião representando o Movimento Securitização Já, criado em Pantano Grande, e que desde maio realiza manifestações em estradas, pedindo apoio à renegociação das dívidas junto ao governo federal. Ele destacou que muitos produtores já cometeram suicídio em função de não conseguir mais produzir e pagar os débitos. O cenário de consecutivas secas, abalado ainda mais após as enchentes do ano passado, trouxe uma realidade muito cruel a quem faz da agricultura o seu ganha-pão.
“Precisamos estar mobilizados, é um movimento ordeiro, apartidário, mas tentando mostrar para a sociedade que algo está errado com a agricultura. Não estamos sendo atendidos e precisamos de ajuda. Somos uma indústria a ceu aberto. Imagine enterrar cinco, seis ou dez mil reais por hectare, sem saber se no final tu vai poder colher. Nem do preço de nosso produto temos controle. Por isso a agricultura precisa ser olhada de uma forma mais delicada, com mais atenção”, acentuou Lucas.