Início Sem categoria Defender o justo

Defender o justo

A internet é feita de tendências que surgem de tempos em tempos. Até ver em minha timeline, eu conhecia muito pouco da economista Maria da Conceição Tavares. A impaciência e firmeza em defender suas ideias e teses é um alívio para quem está cansado do conformismo de uma esquerda que adotou para si o discurso derrotista contra o neoliberalismo.
Ela perde a paciência a despeja toda a sua raiva ao falar das classes dominantes, mas nunca com os seus alunos. De forma didática, deixa claro a crueldade da economia pensada para alguns poucos. Fuma, atropela palavras, grita, xinga. É possível ver paixão naquilo que defende. Talvez seja o que tanto precisamos: deixar de naturalizar que as coisas são assim mesmo.

A economia parece algo ainda mais abjeto quando ela fala sobre a quem servem estes projetos que buscam a todo custo privatizar os lucros e dividir os prejuízos. Conceição Tavares evoca em suas expressões a sua revolta de forma genuína, o que a fez viralizar em meio a tantas coisas na internet. Essa revolta, eu diria, é compartilhada por mais pessoas cada vez mais. Ao recitar os dogmas da cartilha neoliberal, ela reforça o que foi dito como se fosse algo pornográfico, uma ofensa a si e aos demais. E não está errada, afinal é.

Não deixa de ser uma ofensa à inteligência o que muitos jornais dizem dia após dia. É incrível como no Brasil tudo se normaliza. Chacina com adolescentes? Normal. Bala perdida que mata bebê em comunidade? Normal. Mais de 600 mil mortos? Normal. Mais de 19 milhões passando fome? Idem. Que me perdoem os normalistas, mas é preciso ter um pouco mais de raiva ao defender nossas ideias. É possível agitar, emocionar e engajar a população se falarmos que está tudo bem? Não, não é possível.

Vejamos um exemplo claro: ainda estamos lidando com uma pandemia que permitiu ao grande público descobrir que muita gente nem mesmo tem banheiro em sua casa. Ou seja, não tem saneamento e nem acesso à água potável as tarefas indispensáveis para um ser humano. Passado um ano desde o início da pandemia, o governador do Estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) ignora esse dado e decide levar adiante o projeto de privatização da Corsan.

Em Santa Cruz do Sul, a cada ano o discurso sobre a necessidade de romper o contrato com a Corsan é renovado. As recentes amostras do transporte coletivo deixam muito claro a lógica mercantilista da privatização: privatiza-se dizendo que está ruim, alguns poucos ganham muito, inclusive com subsídio público para não cumprir com as suas obrigações e repassar os prejuízos aos trabalhadores. Por isso, toda solidariedade aos trabalhadores do Transporte Coletivo de Santa Cruz do Sul. Com a Corsan não há como imaginar que não seja diferente, pois isso se repete toda vez, como uma completa farsa.

Diante disso, não há como deixar de pensar na sabedoria de Conceição Tavares que não tem papas na língua para chamar os demais de canalhas, cretinos e tantos outros adjetivos que parecem pouco para o que fazem com a maioria da população. Defender o justo, com entusiasmo, paixão e, é claro, sem naturalizar as coisas como são. Afinal, esse é um importante passo para desconstruí-las e conseguir mudar a realidade.