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Despedida no Bar

Não, não estou esperando ninguém. Senta aí, cara. Garçom, traz uma gelada, por favor.
Como andam as coisas? Como assim, no fim dos teus dias? Ah, entendi. Na verdade tá no fim das tuas horas. 2012 tá na fila e é o próximo. Você deu trabalho, hein? Bem capaz, nada! Deu sim. É, não posso reclamar muito, mas “sacumé”… fim de ano, trabalho, confraternizações, academia… até hobby vira compromisso.
Cara, tô aqui contigo e amanhã preciso enviar um artigo ao jornal, acredita? Não, ainda não sei sobre o que escrever. Ãh? Sim, claro que já pensei, dormi com a cabeça embaixo do travesseiro, andei de costas, plantei bananeira, e… nadica de nada. Devo ser fraco das ideias,  mesmo. Ao contrário de muitos jovens, me sinto um iniciante.
No jornal Riovale? Comecei no mês de julho. Colaboro semanalmente. Sim, sim… Tenho minhas crônicas prediletas, mas não vou dizer a preferida. Nãnaninanão. Hehehe. Já foram tantas… Por conta do que tenho escrito já fui chamado de “filósofo” por um amigo. Isso é uma enorme injustiça aos filósofos. Sinto admiração por eles, mas não sou nem estou perto de ser filósofo. Não me sentiria mal se fosse um deles, mas, de longe, não é meu objetivo. Dizem que de filósofo e louco, todos temos um pouco. Talvez eu faça parte deste “todos”. Neste caso, este “pouco” também faz parte de mim.
Psiu! Garçom, traz mais uma, por favor. Ôpa, que essa tá gelada. Não sou entendedor de cerveja, e não me ouçam os degustadores alemães, mas cerveja tem que ser gelada.
Falar alguma coisa? Olha, dizem que numa mesa de bar os homens falam de mulher, carros ou futebol. Então imagina você, dentro de um carro confortável, com uma mulher, assistindo a uma partida de futebol. Belisca e diz que é sonho. Sai dali buzinando até depois de um zero a zero. Não, beliscar eu, não. Para com isso, nem gosto de futebol.
Velho, tô cansadaço. Mas fico mais cansado quando alguém me aconselha ir à praia. Imagina eu estirado na areia pegando sol. Depois virando pra bronzear o outro lado. Depois aquelas marcas da sunga na pele, que você nunca consegue se sentir pelado, parece que tá sempre de calção. Pó pará. Ah… mas agora você tá apelando. Não tem como comparar. Mulher pode, claro. E marquinhas de biquíni são tudo. Cara, uma vez vi na praia uma mulher linda, corpão e tal, mas ela tinha esquecido de tirar os óculos de sol enquanto se bronzeava. A marca dos óculos no rosto parecia a máscara do Zorro ao contrário, branca ao invés de preta. Hahahaha. O quê, falar disso no artigo de amanhã no jornal? Tu tá loco, meu? Perdeu a noção? Comeu bolinha de cinamomo? Fumou capim-loucura? A cerveja já tá pegando? Depois vão pensar o quê?
Te deixar um mensagem de despedida? Ah, não faz isso comigo, ano velho. Ok, mas só deixo uma mensagem se valer pro ano novo. Deixa eu pensar…ah! No filme A Sociedade dos Poetas Mortos o professor Keating, personagem do ator Robin Williams, disse: “Escute, está ouvindo? – Carpe – ouve? – Carpe, carpe diem, colham o dia garotos, tornem extraordinárias as suas vidas.”