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Mergulho na alma feminina

 

Nesta terça-feira, 12 de julho, a Associação Amigos do Cinema exibe o filme “A dupla vida de Véronique” (de Krzysztof Kieslowski, 1991, Polônia/França, 98min). A sessão será realizada às 20h, na sede do Sindibancários, localizada na Rua Sete de Setembro, 489.

Confira a crítica do blog ‘Cult Movies’:

“Véronique mora na França e Weronika, na Polônia. Ambas nasceram no mesmo dia e compartilham, além do nome, a aparência física, o gosto pela música e o mesmo sentimento de melancolia e tristeza. Elas não se conhecem, apenas se cruzaram um dia em Cracóvia, mas ambas possuem uma intuição de que não estão sós, e que a outra existe em algum lugar. Uma fatalidade do Destino irá revelar a profunda relação entre elas.

Muito pouco deve ser dito sobre essa obra-prima, que já foi rotulada como ‘drama metafísico’, dirigida pelo polonês Krzystof Kieslowski pouco antes do cineasta iniciar sua trilogia das cores com ‘A Liberdade é Azul’. Kieslowski criou uma fábula poética, bela e comovente, que não precisa de explicações para os simbolismos e questões filosóficas que desperta no espectador, pois o que realmente importa é a emoção com que o cineasta mergulha na alma feminina, auxiliado pela atuação arrebatadora de Irene Jacob em seu papel duplo.

Absolutamente cativante, a sua interpretação é suave e emocionante, e chama a atenção logo nos primeiros minutos do filme, em que parece que cada detalhe captado pela câmera do diretor foi minuciosamente planejado para trabalhar em razão da sua presença no filme. Uma atriz de rara luminosidade, mas que não vingou no cinema americano, “A Dupla Vida de Véronique” ainda é o seu melhor trabalho, com o qual obteve o Prêmio de Melhor Atriz em Cannes e o Prêmio da Crítica Internacional.

O filme trabalha sobre um tema recorrente à cultura ocidental: o mito do duplo, o ser complementar à cada indivíduo, que coexiste em algum lugar e ao qual se está ligado emocionalmente e espiritualmente. Diferentemente das fábulas fantásticas em que o tema se encaixa, pela visão de Kieslowski ele ganha mais espaço para o lirismo e o impacto emocional, em um cinema sensorial que exige o máximo possível dos sentidos do espectador, através de imagens e de sons que compõem um quebra-cabeças que cada um deve compor mentalmente na medida em que as peças vão sendo distribuídas de forma discreta ou através de fatos diretos. Em uma das passagens do filme, por exemplo, Véronique descobre o paradeiro de seu pretendente através do som gravado em uma fita cassete.

Kieslowski aproveita a história de Véronique e Weronika para fazer pequenas referências, ainda que discretas, aos conflitos sociais e políticos da época em que o filme foi feito, e toma emprestado temas que seriam utilizados em seu projeto seguinte, de como a humanidade convive entre si e de como as pessoas interagem através de laços que elas mesmas desconhecem em um universo regido por leis naturais e não-naturais.

Esplendidamente fotografado por Slawomir Idziak, ‘A Dupla Vida de Véronique’ possui ritmo lento e um pouco solene que incomodará aqueles não acostumados ao estilo introspectivo de seu cineasta, mas a  direção inspirada, a maravilhosa música de Zbigniew Preisner e a interpretação de Jacob conduzem o drama das personagens com maestria. Um filme ao mesmo tempo simples e intrigante.”