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O pão nosso de cada dia

Novembro do segundo ano da peste. Chove agora, após um período sufocante que, é certo, vai voltar. Um bar novo te enche de esperança, os velhos amigos ainda estão por aí – não todos. Estamos mais velhos e os planos mais ousados andaram recebendo doloridas injeções de realidade. A alegria tem que ser imune também à percepção da decadência do corpo e o mundo, que em determinado momento chegou a parecer pequeno, agora volta a ficar repleto de lugares distantes aos quais no fundo sabemos que não vamos.


Tudo vagueia no complexo mercado do tempo, commodity muito peculiar. Falta, sempre falta! Refazemos as contas e os planos com prazos exíguos e menos dinheiro, como um triste ministro da fazenda.


Será que ela já se foi? Será que ela volta, a peste? Já decretamos o seu fim tantas vezes e ela renasce a cada semana em bolsões de negacionistas e não vacinados espalhados pelo mundo, onde todos – e não só eles – pagam o preço da ignorância e da irresponsabilidade política.


Que grande egoísta sou eu, aqui, preocupado com o passar do meu tempo, enquanto para tantas famílias todo dia é a luta pelo alimento daquele mesmo dia e não mais. Isso que eu chamaria de “viver o presente”!


Dezembro está logo ali, com suas inverossímeis demonstrações de solidariedade humana, seu consumo, suas festas e suas solidões. E a premente necessidade de apresentar para os outros e para si mesmo um balanço positivo, uma imagem vencedora. Que cor daríamos a esse mês, agora que os meses têm cores?


A prisão de Steve Bannon, ainda que como investigado, ainda que já tenha sido liberado sob condições, não deixa de ser uma luz sobre este ainda começo de século e um bom presságio para 2022. O gênio do marketing político que repaginou Goebbels, utilizando-se de dados subtraídos das redes sociais para classificar e melhor manipular pessoas no mundo inteiro através das mesmas redes, tendo a mentira intensamente divulgada como método para destruir instituições democráticas e semear autocracias pela Europa e pela América, passou a ser visto como um marginal político pelo Estado norte-americano. Que o estigma avance sobre seus pupilos pelo mundo afora e tenhamos mais paz, sempre imperfeita paz, e voltemos a conviver civilizadamente com as nossas salutares diferenças políticas.