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Os primeiros títulos não se esquece

Atrás das cores dos clubes escondem-se ideais políticos, fé religiosa, pobres, ricos, héteros, LGBTQIAP+, cultos e analfabetos, malandros, inocentes. O futebol é uma geleia geral.

Domingo que passou o FC Santa Cruz, que nasceu em 26 de março de 2013, chegou a seu segundo título em nível estadual. Nunca antes nessa história de 108 anos havia tido essas honrarias. A primeira conquista veio ainda no ano passado, quando venceu a Copinha e agora, menos de um ano depois, levantou a taça de Campeão da Segundona. Parece pouco? – Claro que não.

Esse título veio de forma heroica. O time saiu na frente, o Gaúcho empatou, virou o jogo e o Galo ainda teve que empatar e fazer mais dois gols para partir para uma emocionante cobrança de pênaltis e se tornar o campeão.

O “Campeão em Tempos de Pandemia” seria o título do livro que escreveria, parodiando “O Amor em Tempos do Cólera” de Gabriel García Márquez. Uma história que combinaria amor e dor.

Dentre os que adotaram Santa Cruz como lugar para viver me incluo como um apaixonado pelo Galo. Meu sonho não realizado é ter sido uma espécie de Paulo Santana do FC Santa Cruz. Não fui. Não porque não quisesse, mas por falta de talento, com certeza.

Gostaria de estar entre os que viajavam no carro de bombeiros para apresentar a conquista para a comunidade, mas naquele instante estava preparando o almoço para a família e sei que jamais seria convidado para tanto.

A conquista do meu time e que divide o coração com o Grêmio vai ficar para a eternidade guardada na minha memória e farei isso com a glória dos que estiveram em campo. Pena que não deu para estarmos no estádio. Essa vitória merecia o grito da Barra do Galo, dos que ficam no pavilhão ou se agarram às telas atrás do gol feito, eu e alguns amigos.

Resta agora, além da memória, que os torcedores se coloquem à disposição para auxiliar na montagem de um elenco qualificado para, em 2022, levar esse clube ao lugar de onde jamais deveria ter saído – a Primeira Divisão do futebol gaúcho em 2023 e novamente termos por aqui a dupla GreNal, CaJu, BraPel e quem sabe o Avenida, nosso maior rival.

Mas quando se pensa que nada mais pode acontecer de alegrias para o preto e branco, surge a possibilidade do presidente Tiago Rech – o Torcedor Solitário e Presidente Vencedor, ser incluído no prêmio FIFA de Torcedor.

Aí, a glória será estupenda. Imagina só ver aquele menino sentado na arquibancada do antigo Estádio Olímpico com um copo de refrigerante ao seu lado, erguer esse troféu em nível mundial. Será muito além do esperado.

Nessa terça-feira foi feita a foto da galeria com o clube perfilado para a posteridade. Dirigentes, funcionários e atletas posaram marcando o último encontro dessa formação exitosa. A história não irá esquecê-los.

E dentro desta história memorável tem também um personagem que merece destaque, que é o Palito, servidor do clube por décadas e ex-atleta que só deixou as quatro linhas por uma grave lesão. O Palito tem sua vida dedicada ao Galo. Nas suas veias, certamente, além de sangue corre o suor de anos vivendo momentos bons e momentos muito ruins. Esse cidadão é a história viva da trajetória do clube e merece ser lembrado como aquele cara que está sempre à disposição. Certamente já poderia estar em casa aposentado, mas o Galo em seu coração fala muito mais alto.