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Quando o povo se reconhece

Recentemente, a grande mídia brasileira fez extensa cobertura sobre as eleições dos Estados Unidos. Não há dúvida de que a influência estado-unidense é bastante presente em nosso país. Trata-se de uma característica histórica do Brasil, e isto se refere por exemplo ao jornalismo em si, pois, há décadas, veículos de grande porte mantêm correspondentes nos EUA. Mas tal influência se refere também a outras áreas, como o cinema e a música.

Na música, aliás, o Brasil demonstrou, ao longo dos anos, uma capacidade de resposta bastante potente na concorrência com os Estados Unidos. Seja do ponto de vista mercadológico, seja do ponto de vista artístico. Tanto sob o aspecto comercial, quanto em relação à qualidade, um dos expoentes da música brasileira é o cantor e compositor Chico Buarque. Um dos elementos interessantes da sua obra está justamente em retratar o Brasil nas suas belas letras, através das quais o país pode se enxergar e se perceber – algo que é essencial diante de tanta influência estrangeira.

Na música ‘Bye Bye Brasil’, composta em parceria com Roberto Menescal no final da década de 1970, Chico Buarque relata as aventuras de um personagem que viaja pelo país. Um trecho da música destaca o intercâmbio cultural com indígenas: “No Tocantins, o chefe dos parintintins vidrou na minha calça Lee”. Outro trecho aborda a destruição da natureza em prol do suposto desenvolvimento: “Tomei a costeira em Belém do Pará. Puseram uma usina no mar. Talvez fique ruim pra pescar, meu amor”.

“Somos um povo simples”, disse, certa vez, o cineasta Glauber Rocha. Autorreconhecer essa simplicidade, e também a nossa complexidade, é algo que devemos realizar, seja em músicas, seja em filmes, seja no jornalismo ou em outras áreas. Artistas como Glauber, Chico, Menescal e o diretor de cinema Cacá Diegues (que em 1980 realizou o filme ‘Bye Bye Brasil’ com a trilha de Chico e Menescal) são exemplos da autoidentificação que todo povo, todo país, deve concretizar.