
Grasiel Grasel
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A tecnologia vem servindo a humanidade e ampliando sua capacidade de produção cada vez mais e, claro, já era de se esperar que os avanços aos poucos chegariam às pequenas propriedades rurais, proporcionando maior facilidade no processo produtivo, maior qualidade do produto e, principalmente, um fator sanitário melhorado, garantindo que a saúde do consumidor seja assegurada desde os primeiros passos do produto até a sua chegada nas prateleiras dos mercados.
Jair Breuning e a esposa Sandra possuem uma propriedade de cerca de 10 hectares na zona rural de Monte Alverne, na qual produzem leite há 7 anos. Investimentos com recursos adquiridos por um antigo programa de financiamento da Prefeitura de Santa Cruz do Sul permitiram ao casal comprar um sistema de ordenha canalizada, que ampliou a capacidade produtiva do negócio e gerou recursos suficientes para uma ampliação do plantel de animais. Hoje são 32 vacas, com 26 em ordenha e as outras 6 em período de seca.
O produtor conta que saiu de casa aos 25 anos achando que só era possível plantar fumo na propriedade, pois a região é bastante acidentada. Trabalhou por dois anos como motorista e foi convidado por seu chefe para trabalhar em uma fazenda dele, onde ficou outros quatro anos até decidir voltar pra casa para investir no próprio negócio. “Resolvi voltar por me identificar muito com a atividade rural e por querer uma independência. Não queria trabalhar como funcionário”, conta Jair.

COOPERATIVISMO
A família Breuning faz parte de um sistema de integração com a Cooperativa Languiru, que garante descontos em insumos para o gado, convênios com fornecedores de serviços e outros benefícios, como assistência técnica especializada e três porções de material genético para inseminações ao mês. Tudo o que for comprado na cooperativa é descontado mensalmente na chamada ‘conta leite’, um relatório com o desempenho de produção e qualidade do leite coletado na propriedade. Só no ano passado a família Breuning produziu cerca de 450 mil litros de leite, um número surpreendente para quem cria os animais em um terreno tão acidentado.
Graças ao sistema de ordenha canalizada, que pode operar com quatro vacas ao mesmo tempo, cada uma das duas que são feitas diariamente (uma na manhã e outra no final da tarde) levam cerca de 60% de tempo a menos do que levariam se fossem feitas manualmente. Hoje a coleta leva uma hora e vinte minutos para ser concluída e, caso não contasse com a tecnologia, a família Breuning levaria em torno de três horas.
Outra grande vantagem da ordenha por canalização é que não existe contato humano com o leite, que sai diretamente da vaca para o transferidor e posteriormente para o resfriador, onde ele é mantido em uma temperatura ideal para que nenhuma bactéria possa se proliferar. Em boa manutenção e higienização o índice de contaminação do leite é baixíssimo, o que garante uma qualidade muito alta ao produto, que pode ser vendido dentro dos padrões de exigência do mercado europeu.
A propriedade da família possui uma certificação especial auditada por uma empresa terceirizada pela Languiru, a Genesis Inspeções, que tem cerca de 60 requisitos dentre sanidade animal, alimentação do rebanho e organização da propriedade para que o reconhecimento seja concedido. Aos produtores que cumprem as exigências, a cooperativa paga mais R$0,03 no litro de leite. “Um dos requisitos da certificação é que o leite tenha uma contagem bacteriana muito baixa. Hoje o leite do Jair tem uma contagem 70% mais baixa do que a lei exige”, explica Eduardo, técnico do leite na cooperativa.
As novas normas que regem como é controlada a qualidade do leite são bastante rígidas, mas utilizando um equipamento adequado não é difícil cumpri-las. Grandes investimentos por parte do produtor não se fazem necessários porque as regras não requerem maquinários caros, mas sim práticas sanitárias adequadas e uma boa organização da propriedade.
De acordo com a Emater, a estimativa é de que 10 a 15% dos produtores gaúchos não consigam se adequar à nova normativa, mas eles tendem a ser donos de propriedades rurais de idade avançada, pessoas que já estariam se afastando da atividade de qualquer maneira. Eduardo afirma que na Languiru até mesmo cooperados que realizam coleta manual já estão adequados e sequer vão precisar investir em novos equipamentos.

AS INOVAÇÕES NÃO PARAM
Alguns equipamentos um pouco mais avançados do que o utilizado pela família Breuning já existem, como o sistema de ordenha canalizada com extração, no qual um sistema mecanizado faz o trabalho de remover o ordenhador do úbere, sobrando como único trabalho colocá-lo novamente na próxima vaca. Agora, para produtores maiores, com rebanhos de mais de 100 animais, existe o sistema de carrossel, no qual podem ser ordenhados cerca de 35 animais ao mesmo tempo num período de 10 minutos.
Ainda sobre os avanços tecnológicos do setor, em breve o Vale do Rio Pardo também vai contar com seu primeiro robô de ordenha, um dos equipamentos mais avançados na indústria do leite, em uma propriedade de Venâncio Aires que está em fase de preparação das instalações para receber os equipamentos. Aqui o serviço manual é completamente eliminado, pois os animais são atraídos por ração até os equipamentos que fazem todo o trabalho de limpeza e ordenha sozinhos. Só é necessária a presença de técnicos que garantem a manutenção e o bom funcionamento das máquinas.














