
Sara Rohde
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Os motoristas são os profissionais responsáveis pelo cenário da logística. É graças a categoria que chegam as mercadorias, tanto os alimentos, medicamentos, vestimentas e demais produtos nas casas dos brasileiros. Um trabalho arriscado, que leva horas e até mesmo dias nas entradas.
A Lei 12.619 visa regular a profissão e o tempo de direção do motorista profissional do transporte rodoviário de cargas e de passageiros. Para se ter uma ideia, a Lei vigente desde 2012, regulamenta a jornada de trabalho, impõem regras e estipula direitos, como descanso e pausas durante os trajetos.
O Riovale Jornal conversou com o motorista Sauro Roberto dos Santos, de 51 anos, que há mais de 30 anos está em cima de um caminhão, uma paixão que existe desde pequeno em sua vida.
Sauro começou a dirigir profissionalmente no exército, mas começou a lidar com caminhão aos 16 anos. Posteriormente se alistou no exército e durante dois anos serviu ao quartel onde tomou gosto pela direção. Ao sair, sem pensar duas vezes, começou a trabalhar como motorista em uma empresa de Novo Hamburgo. Santa Cruz do Sul era o próximo destino do Sauro, local que escolheu para viver. Na época trabalhou por aproximadamente 18 anos na Trevisan Engenharia que hoje é conhecida como Treviplan Engenharia. Ataulmente Sauro é motorista na Transportes Transrauber.

Para todo trabalho tem sua primeira vez. E antes de tudo começar teve a primeira viagem de Sauro com a carreta com destino a Pato Branco no Paraná, na época tinha 21 anos. “Me lembro muito bem que eu tremia, só no embarcar no caminhão eu comecei a tremer. Aí pensa, você embarcar num caminhão com 27 toneladas nas costas, sair para fazer uma viagem que você não sabe nem o trajeto, nem o caminho e nem como vai ser. Foi nesse momento que enxerguei que era isso que eu queria, trabalhar com caminhão e viajar. Porque sair de onde está, para ir a um lugar que você nunca viu, não sabe nem para que lado fica, e ter que ir estudando o trajeto para chegar no destino, é muito marcante ”, disse. E assim foi o começo do seu aprendizado. “O profissional que trabalha com caminhão dentro da cidade acha uma coisa, mas ao sair para a estrada para viajar é totalmente diferente, precisa ter noção que o viajar é sair e às vezes sem dia para voltar, e se voltar”, frisou.
E esta foi a escolha certa do profissional. Sauro disse que além de adorar ser motorista, ele tem um carinho pelo veículo, gosta do caminhão e zela por ele. “Não tenho hora para dirigir, se a gente tiver que rodar, a gente roda o tempo todo sem parar, claro, tudo com as medidas de segurança. Pelo tempo de trabalho, eu me considero um bom profissional. Tenho cuidado com o veículo que é um patrimônio do patrão e não meu, por isso cuido mais o caminhão do que o meu carro. Procuro respeitar todos os meus colegas de estrada e auxiliá-los sempre que possível e tiver ao meu alcance, pois a vida na estrada é assim, temos que ser unidos um com o outro”, contou.
Sauro ainda salientou o quanto a humildade é crucial na vida de estrada, “temos que ser humildes com os parceiros e fazer amizades aonde chegamos. Fiz muitos amigos e faz tempo que não os vejo, sempre que dá a gente conversa por WhatsApp ou telefone. Têm colegas e amigos que coloquei na estrada, ensinei a dirigir, e hoje são motoristas, eram guris que começaram em cima de um caminhãozinho e me perguntavam como fazer tudo. Também ensinei pessoas mais velhas a trabalhar com caminhão, um exemplo foi uma vivência onde um senhor me disse que nunca tinha trabalhado com certo tipo de caminhão, então ensinei como trabalhar com aquele modelo”.

Nesta trajetória de vida, longos caminhos e estradas percorridas, momentos marcaram o roteiro. E um momento que comoveu o caminhoneiro e o deixou triste foi uma notícia que ele assistiu na televisão durante uma parada do percurso. “Eu carreguei uma carga de madeira em Restinga Seca para levar ao Paraná e subi por dentro, por Erechim. Fui pagar o ICMS por acaso e parei no Posto Fiscal, num escritório que o pessoal faz isso pra gente, e conversando com uma menina sobre o valor da nota e outros detalhes, me chamou a atenção uma notícia que estava dando na televisão. Era sobre o desabamento de um prédio em Novo Hamburgo que matou uns quatro trabalhadores e como minha família é toda de lá, fiquei preocupado e parei para assistir. Foi nesse momento que começou a passar os nomes das vítimas, e por sinal, o nome de um tio meu estava entre elas. Fiz uma viagem muito chata, triste, uma viagem pesada, eu não tive como me despedir do meu tio, e ficar sabendo da notícia pela televisão foi algo que mexeu comigo”.
Idas e vindas, uma profissão que Sauro não trocaria por nada. Profissão que rendeu muitas alegrias, tristezas, mas também aprendizado. Conforme o motorista, “seria difícil achar outra profissão que eu me encaixasse, e que eu me desse tão bem como me dou com o caminhão. E assim é a vida que eu vivo, não penso em trocar de profissão e trabalho com gosto e respeito e sempre digo: tenha medo do caminhão, pois é o medo que te deixa vivo e é assim meu ponto de vista, por isso estou na estrada até hoje”, finalizou.














