
Rosibel Fagundes
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A perda repentina e trágica de uma soldado durante confronto com assaltantes no Vale do Taquari representa uma perda não só para a Brigada Militar da região, mas para todo o estado. Marciele Renata dos Santos Alves, 28 anos, atuava no 23º Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Santa Cruz do Sul, foi sepultada no fim da tarde da última terça-feira, 26, no Cemitério Municipal de Cachoeira do Sul após ter sido atropelada por assaltantes durante uma barreira policial. A despedida marcada pela presença de familiares, amigos e colegas de farda reuniu centenas de pessoas. Além das homenagens feitas em Cachoeira do Sul, de onde ela era natural, às 17horas, mesmo momento em que era realizado seu sepultamento, um sirenaço seguido por um minuto de silêncio foi realizado em todas as unidades da Brigada Militar do Rio Grande do Sul em respeito a policial. Em Santa Cruz, os colegas de farda reuniram-se na Praça Getúlio Vargas. A cerimônia também contou com representantes do Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal e Polícia Civil. Com a morte de Marciele, o número de policiais mortos em todo o estado somente em 2019, já chega a seis.
De acordo com o major Fábio Vilnei da Silva Azevedo, que responde pelo comando do 23º BPM, a fatalidade serve para a Brigada Militar fazer uma avaliação, um feedback do trabalho que está sendo desenvolvido. “Quando acontece uma fatalidade como essa, onde os criminosos tombaram e a gente também perdeu uma policial, nós avaliamos no que poderíamos melhorar como instituição para que o desfecho trágico não ocorra. A gente não busca o confronto, apenas fizemos o enfrentamento daquilo que é posto no momento de cada ocorrência. Como o Coronel Reis sempre nos diz, ‘as ocorrências policiais a gente só sabe como elas começam, não sabemos como elas terminam’. Então, a gente sempre busca fazer uma análise disso. É uma ocorrência que deixa traumas emocionais que dificultam o dia-a-dia e a retomada do nosso trabalho. Mas, sabemos que todos os dias com resiliência temos que recomeçar. Tombamos, perdemos aquela batalha? Perdemos, mas a gente busca reanimar, reagrupar e seguir em frente. Por que esta é a nossa missão, mesmo com o risco da própria vida. Não queremos isso, mas tudo é tão verdadeiro que sepultamos nesta semana a soldado Marciele”, lamentou.
A Policial Militar morta no confronto será homenageada durante sessão na Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. A proposição é do vereador e também policial civil, Gerson Trevisan (PSDB). A expectativa é de que a cerimônia seja realizada na próxima sessão que ocorre na segunda-feira, 2 de dezembro, na presença dos familiares, amigos e companheiros do pelotão.
Sobre o confronto
A soldado Marciele que há três meses fazia parte do Pelotão de Operações Especiais (POE) de Santa Cruz do Sul, assim como outros colegas participava de uma operação na tarde da última segunda-feira, 25, no interior de Sério no Vale do Taquari. Conforme o comandante, major Fábio Vilnei da Silva Azevedo, os policiais monitoravam uma quadrilha que estaria cometendo uma série de roubos de veículos em Venâncio Aires. Após a Brigada Militar rastrear o sinal de GPS de uma camionete Toyota Hilux SW4, de cor prata, roubada no Centro de Venâncio há alguns dias, um reforço no policiamento foi feito por policiais militares de toda a região dos Vales, incluindo o POE de Santa Cruz. Além da camionete, os criminosos estariam em um automóvel Chevrolet Celta, de quatro portas de cor escura, utilizado como “batedor”. Durante a Operação uma barreira policial foi montada no interior do município de Sério, na divisa de Canudos do Vale como explica o comandante. “Estávamos acompanhando a movimentação dos criminosos e barreiras foram montadas na região após recebermos a informação de que os indivíduos estariam indo naquela direção. Eu solicitei apoio do 22º BPM que pertence a Lajeado. A equipe do Setor de Inteligência chegou a cruzar pelos indivíduos que estavam subindo na direção contrária e informou a força tática do nosso batalhão que estava um pouco mais atrás. Neste meio tempo, quando eles retornavam para dar apoio à equipe, os criminosos perceberam que se tratava de uma ação policial. Ao receberem a ordem de parada, o bando respondeu com fogo e acelerou a camionete jogando para cima da nossa equipe. A soldado Rodrigues conseguiu escapar, mas infelizmente a soldado Marciele não, e acabou sendo atropelada. Os criminosos só não se evadiram da barreira, porque além da camionete bater no nosso veículo ela acabou trancando em madeiras que haviam na rodovia em função de uma obra. E mesmo quando a Hillux trancou, eles continuaram atirando na BM, que revidou”.
A policial ferida chegou a ser encaminhada ao Hospital de Caridade São José, em Sério, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu em seguida. “Assim que o tiroteio cessou, os policiais entraram em contato com uma ambulância que prestou o atendimento inicial a Marciele, e a encaminhou para o Hospital. Mas, devido à gravidade dos ferimentos ela veio a óbito. Nossa intenção era transferi-la para o Hospital Bruno Born em Lajeado, mas infelizmente não foi possível, ela não resistiu”, afirmou major Azevedo. Além da policial, três criminosos também morreram no confronto e um ficou ferido. Um dos mortos foi identificado como Eloir Muniz Jandrey, de 50 anos, ele era o motorista da Hillux. Natural de Barros Cassal, o homem residia em Venâncio Aires. Apesar de estar em liberdade, Jandrey possuía diversas passagens pela polícia por crimes como furto de veículo, sequestro com cárcere privado, receptação entre outros. Os outros dois comparsas mortos, um ocupante do Celta e outro da Hillux foram identificados como Ezequiel Martins Ferreira, de 25 anos, natural de Esteio e Euclides Carvalho Neto, de 31 anos, de Porto Alegre. Ambos tinham uma extensa ficha criminal. Os exames de necropsia nos dois corpos que estavam no Posto Médico Legal de Lajeado foram concluídos nesta quarta-feira, 27. O único sobrevivente do bando durante a ação é um adolescente de 17 anos, morador de Farroupilha que foi atingido por um tiro de raspão. Ele acabou apreendido pela Brigada Militar e apresentado a polícia judiciária.
Quem era a policial:

Natural de Cachoeira do Sul, Marciele Renata dos Santos Alves tinha 28 anos. Em 2012, formou-se no curso da Brigada Militar em Lajeado e após o estágio probatório, atuou no policiamento ostensivo de Taquari. Enteada do sargento aposentado da BM, Gildo Alceu Kappel. Na polícia, ela seguiu os passos de Kappel e após ser transferida para Santa Cruz do Sul, ocupou o lugar dele no Serviço de Inteligência da BM. Na sequência, atuou no pelotão de motos da Brigada Militar, também conhecido como Rondas Ostensivas com o Apoio de Motocicletas (Rocam), tornando-se a primeira mulher do pelotão em Santa Cruz. Atualmente, a soldado integrava o Pelotão de Operações Especiais (POE). Em 2017, Marciele formou-se em Fisioterapia e realizava especializações em Porto Alegre e Santa Maria.














