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Coronavírus impacta mercado e dólar dispara

PIB chinês deverá desacelerar em um ponto percentual no primeiro trimestre de 2020

Grasiel Grasel
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Já passa de 350 o número de mortos na China em decorrência do coronavírus, com isso, a segunda maior economia do mundo começa a preocupar o mercado internacional e gerar consequências. Na tarde da última sexta-feira, dia 31, o dólar atingiu a máxima nominal (desconsiderando a inflação) histórica de R$ 4,28. Economistas já demonstram preocupação com possível impacto nas exportações.
No dia 29, quarta-feira passada, durante um comunicado oficial do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos), o presidente da instituição, Jerome Powell, disse que ainda existem incertezas sobre a influência da doença na economia global, mas “o vírus deve afetar a atividade econômica da China e talvez do mundo”.
Os primeiros desdobramentos de uma possível influência do surto do vírus na China já partem do próprio governo chinês, que admite que o crescimento de seu PIB nos três primeiros meses do ano pode desacelerar em um ponto percentual. “O crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2020 pode ser de cerca de 5%, e não podemos descartar a possibilidade de cair abaixo disso”, disse Zhang Ming, economista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, instituto de análise do governo, à revista Caijing.

Exportações devem cair
Depois da OMS ter declarado o surto como um caso de emergência de saúde pública global, o mercado internacional se retraiu com a possibilidade de haver restrições no comércio com a China, no entanto, como elas não vieram, a Ibovespa ainda fechou com alta de 0,12% na quinta-feira. A possibilidade, no entanto, já possui efeitos calculados pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Em entrevista ao jornal “O Globo”, o presidente da AEB, José Augusto de Castro, disse estar esperando uma queda superior a 3,5% nas exportações deste ano para a China, especialmente em decorrência da desaceleração prevista na economia do país. “Não há como prever, na atual conjuntura, de quanto será a queda nas exportações, mas certamente poderá ser maior do que a atual estimativa (de queda de 3,5%)”, disse.
A China foi o principal destino das exportações brasileiras em 2019, com US$ 62,8 bilhões em produtos brasileiros enviados ao país. O segundo colocado, os EUA, não importa nem a metade deste valor, US$ 29,5 bilhões. No que diz respeito ao principal produto de exportação da região do Vale do Rio Pardo, o fumo, no ano passado o Brasil vendeu US$ 2,1 bilhões em tabaco para outros países, sendo 18% deste total (US$ 382,8 milhões) somente para os chineses, que ultrapassaram os americanos e se tornaram nosso segundo maior importador, ficando atrás apenas da Bélgica (US$ 525,5 milhões).
Tentamos contato com o Sinditabaco para verificar se o sindicato patronal possui alguma perspectiva quanto a possíveis impactos no mercado de tabaco local, mas a entidade informou que prefere não se posicionar sobre o assunto.

Dólar atinge maior valor da história
Na sexta-feira, dia 31, o mercado foi surpreendido com uma disparada do dólar, que fechou o dia com aumento de 0,55% e bateu a marca de R$ 4,28, maior valor nominal (desconsiderando a inflação) intradia já registrado na história. O último recorde havia ocorrido em novembro de 2019, quando a moeda americana bateu R$ 4,25. Somente em 2020, a moeda já acumula alta de 5,22%.
Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, afirma que mercados emergentes como o Brasil, que dependem muito de exportações de commodities, são os que tendem a sofrer mais com o impacto do coronavírus no câmbio. “Com a expectativa de revisão para baixo da demanda chinesa por esses produtos, a perspectiva é de que entre menos dólar nesses países (que dependem de commodities), e por isso a procura pela moeda aumenta, e o preço sobe”, explicou à Reuters.
Segundo Velloni, caso o cenário na China fique mais positivo em função de algum fato novo, como uma possível vacina para o vírus, o câmbio pode rapidamente voltar a um patamar mais baixo. “Em momentos de crise o pessoal precifica muito mais alto. E depois o mercado volta à racionalidade”, afirmou.