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Células-tronco: O tratamento que pode mudar vidas para melhor

Tiago Mairo Garcia
Grasiel Grasel

Um tratamento de saúde que é visto pela ciência com ceticismo. O potencial das células-tronco é mundialmente reconhecido, no entanto, ainda existem dificuldades de provar cientificamente a sua eficácia em terapias. Atualmente, no Brasil, somente são permitidos pelo Conselho Federal de Medicina as modalidades de transplante de medula, o que gera o chamado “turismo terapêutico”, que leva pacientes a buscarem tratamentos não reconhecidos em outros países.
Nesta reportagem especial, o Riovale Jornal conta as histórias de Casandra Meirelles e Fernando Goerck Kappel, dois cidadãos santa-cruzenses acometidos pela fatalidade do trânsito e que tiveram diagnósticos médicos de viverem sem nenhuma perspectiva. No entanto, com o apoio e incentivo de familiares e amigos, eles encontraram no tratamento com células-tronco a oportunidade de evoluir na recuperação de suas sequelas, com seus familiares relatando os consideráveis avanços, fazendo que eles retomassem a esperança de alcançar uma nova perspectiva de vida.         

A arte como retrato da superação

Cumplicidade e doação ao próximo. Essas palavras simbolizam a nova vida de Casandra Meirelles, a santa-cruzense que teve seu destino mudado após um violento acidente de trânsito onde sofreu uma lesão no cérebro com sequelas físicas e neurológicas graves. O quadro de saúde, que parecia fadado a um diagnóstico de consciência comprometida permanente, ganhou contornos de milagre graças à fé, ao amor, às atividades multidisciplinares de reabilitação física e neurológicas e à introdução das células-tronco, com ela sendo uma das primeiras na região a ir em busca do tratamento no exterior.  
Com o passar do tempo, Casandra foi reagindo e uma nova vida se iniciava para a família. Visando buscar meios de auxiliar na recuperação, a paciente esteve no Hospital do Sarah, em Brasília, quando descobriu o tratamento com células-tronco no exterior. 
Entre 2010 e 2018, a família viajou quatro vezes para realizar o tratamento, totalizando 23 aplicações de células-tronco na paciente. O esposo relata que obteve resultados satisfatórios e positivos com a realização do tratamento. “Ela reagiu bem com as aplicações das células tronco que melhoraram a autoestima, o equilíbrio, a mobilidade e as partes cognitiva e neurológica, além de diminuir a ansiedade e a depressão”.
Além das aplicações das células-tronco, Casandra sempre realiza o tratamento contínuo com os médicos locais e suas devidas medicações. Ela também realiza semanalmente as atividades multidisciplinares físicas e neurológicas (fisioterapia, pilates, equoterapia, psicóloga, acupuntura e outros) para a reabilitação corretiva e preventiva. “Buscamos sempre o tratamento contínuo para a sua saúde e alternativas para estimular a vontade de viver e a busca de uma qualidade de vida com dignidade. Além dos tratamentos é também necessário muita disciplina, determinação, persistência, comprometimento e doação para que o resultado seja positivo”, disse o marido. Visando continuar com o tratamento de células-tronco, a família pretende voltar para realizar novas aplicações no exterior. 
Mesmo com a melhora considerável, Casandra ainda apresenta sequelas físicas, cognitivas e neurológicas importantes, onde requer muitos cuidados, mas devido aos tratamentos, ela já consegue andar com apoio de uma muleta, sempre acompanhada e auxiliada por uma profissional da saúde para suas atividades diárias. O tratamento também despertou na paciente a paixão pela pintura, sendo um exercício benéfico para a sua saúde. 
O casal destaca que a experiência é uma reflexão sobre valores de vida, salientando a importância de se ter fé, de ir em busca e acreditar sempre que é possível alcançar os objetivos. “Quando surge uma dificuldade na vida devemos superar e buscar outros caminhos, outras possibilidades e alternativas para darmos continuidade na nossa jornada. Um dos exemplos foi ela buscar na pintura a vontade de viver e superar os desafios da vida, sendo um exemplo de superação para todos nós”, finalizou o esposo. 

Casandra Meirelles (à esquerda) com a professora Noeli Krumenauer (à direita) e um de seus quadros como fonte de inspiração e superação de uma família impulsionada pelo tratamento com células-tronco e de reabilitação multidisciplinar.

Tratamento trouxe evolução para Nando

Uma história de luta, superação e um amor incondicional. Sentado em sua cadeira de rodas, tendo ao seu lado a calopsita Mel, sua fiel amiga e companheira, o santa-cruzense Fernando Goerck Kappel, o Nando, 30 anos, vive a expectativa de retornar para a Tailândia, um dos países que desenvolve o tratamento com células-tronco, para realizar a segunda etapa do seu tratamento com o objetivo de buscar uma evolução ainda maior para diminuir as sequelas em decorrência de um grave acidente de trânsito que sofreu em 2010.
Conforme o relato da mãe, Ivone Goerck, Nando tinha uma vida normal, sendo um rapaz ativo e inteligente. Ele trabalhava como auxiliar de marceneiro e à noite cursava faculdade como técnico em informática pela Unisc, estando próximo de se formar no curso. No dia 05 de fevereiro de 2010, o jovem, na época com 20 anos, retornava do trabalho conduzindo uma motocicleta quando teve a frente cortada por um automóvel em uma sinaleira. Em razão da colisão, Fernando sofreu graves ferimentos com múltiplas fraturas e traumatismo craniano gravíssimo. “No hospital fomos informados que o Fernando tinha 1% de vida e me falaram em uma possível doação de órgãos. Pedi para o médico tentar salvar a vida dele e me apeguei na mínima chance de vida que ele tinha em se recuperar. Hoje ele está conosco no convívio da família”, lembra a mãe.
Nando permaneceu 30 dias na UTI, sendo que nos primeiros 20 dias ele estava entre a vida e a morte. Após, seu quadro de saúde começou a evoluir e ele foi para o quarto, onde permaneceu por mais dois meses. Devido à gravidade das lesões, Nando passou por 20 cirurgias, mas ainda possui graves sequelas devido a uma Hidrocefalia, que atingiu o cérebro, a Hemiplegia, que paralisou o lado esquerdo, a perda da visão e a dificuldade na fala. A mãe se recorda que após a alta hospitalar, o filho foi para casa e passou a se alimentar por sonda, sem falar, sem movimentos e usando fraldas, sendo completamente dependente de auxílio. “Foi um período difícil. Ele se alimentava com sonda, por mamadeira e colher. Depois passamos a trabalhar com fisioterapia e fonoaudióloga, sendo três anos e meio até ele falar as primeiras palavras e descobrimos que ele não enxergava mais. Após consultas, tivemos a confirmação que ele estava cego”, conta Ivone.
Em 2015, Ivone conheceu a história de Casandra Meirelles com quadro semelhante ao do filho e descobriu o tratamento com células-tronco na Tailândia. Com a ajuda de amigos e familiares, teve início uma campanha em 2016 em benefício de Kappel para auxiliar a família a custear o tratamento. Com os valores arrecadados, o filho e a mãe viajaram em 2017 para o país asiático. 
Durante 25 dias, o jovem ficou internado no Beeter Being Hospital, em Bangkok, capital do país, para ser submetido a diversas aplicações com células-tronco pelos médicos tailandeses. “Tem terapias muito fortes e depois temos seis meses que precisa ser trabalhado e o organismo dele aceitar ou rejeitar. Felizmente o organismo aceitou e trouxe grande melhora para ele”, destaca a mãe, salientando que depois do primeiro tratamento, o filho não precisou mais usar fraldas para as necessidades fisiológicas, além de evoluir o quadro das lesões sofridas.
Mesmo com todas as sequelas sofridas, Kappel ainda mantém a sua audição apurada. “Ele não tem a visão, mas escuta tudo. Digo para ele fechar os olhos e enxergar com o coração. Ele tem algo muito bonito para fazer neste mundo”, diz a mãe, que destaca ainda o sonho de ir novamente com o filho para a Tailândia e dar sequência no tratamento com o objetivo de recuperar a locomoção e visão do filho.  “Se conseguir levar ele novamente, ele vai conseguir caminhar e voltar a enxergar. Tenho muita fé que ele vai conseguir”, disse a mãe. 
Sobre o tratamento de células-tronco, a mãe conta que os médicos asiáticos são especialistas na área e muito atenciosos. Ela salientou que na primeira vez o tratamento teve o custo de U$$ 35 mil (dólares), o equivalente a aproximadamente R$ 150 mil. Para retornar ao país asiático em 2020, Ivone terá que custear o mesmo valor da primeira viagem. “Precisamos reunir 50% do valor e pagar 20% de entrada para agendar o tratamento. Temos R$ 25 mil arrecadados, mas ainda restam R$ 50 mil. Se precisar, eu penso em penhorar a nossa casa e pegar empréstimo no banco para conseguir arrecadar o restante do dinheiro e custear a segunda viagem. A meta é voltar para retomar o tratamento em 2020 e com fé em Deus, acredito que vamos conseguir”, salientou a mãe. Para conseguir arrecadar os recursos necessários, Nando e sua família contam com o apoio dos grupos de apoio Quanto Vale um Sorriso e Enxugando Lágrimas, além de caixinhas espalhadas no Supermercados Miller e pizzaria do Primo.

Fernando Goerck Kappel e sua companheira, a calopsita Mel. Jovem teve melhora após tratamento na Tailândia e família pretende retornar para novas aplicações

Maratonista organiza campanha para Nando

Quem também está apoiando Nando é o corredor santa-cruzense Samuel da Silva Ferreira. Integrante do grupo de apoio Quanto Vale Um Sorriso, ele conheceu a história de Nando e decidiu organizar uma campanha com o objetivo de angariar recursos para o jovem realizar o tratamento no país asiático.
O maratonista correu sozinho a prova de 82km da Travessia Torres-Tramandaí (TTT),  realizada no dia 25 de janeiro, no litoral norte. Na campanha, ele pede a doação em dinheiro por cada quilômetro percorrido na prova. Todo valor arrecadado será doado para auxiliar Nando na realização do seu tratamento na Tailândia. “Me inspirei nesta história quando eu estava machucado e pensei em ajudar ele. Essa campanha será toda revertida para ele”, destacou o atleta. Silva pensa em realizar outras ações sociais a serem definidas para ajudar Nando. A campanha está disponível nas redes sociais do atleta e vai até o dia 04 de março de 2020. “Para mim, fazer o bem ao próximo é gratificante”, salientou o corredor.
Após a data estipulada para finalizar a campanha, Samuel irá entregar o dinheiro arrecadado para a família. Ele pede o apoio da comunidade para se engajar na iniciativa. As doações para a campanha podem ser realizadas através de uma vaquinha online disponível no site www.kickante.com.br/campanhas/todos-por-fernando-kappel-km-solidario-0 ou diretamente com Samuel Ferreira.

Corredor Samuel Ferreira está realizando campanha para ajudar Fernando Kappel

No próximo sábado: Como está a pesquisa de células-tronco no Brasil