Tiago Mairo Garcia
[email protected]

As restrições para o fechamento do comércio como medida de prevenção ao avanço do novo coronavírus está atingindo diretamente a classe dos caminhoneiros que diariamente trafegam pelas estradas para transportar a produção e movimentar a economia. Em entrevista concedida para o Canal Rural na última terça, 24, o presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (ABCAM), José da Fonseca, relatou o drama que a classe vem enfrentando nas estradas em razão da crise do coronavírus.
Ele destacou que as cancelas dos pedágios ainda não foram liberadas para os caminhoneiros durante o período das restrições, os profissionais ainda não receberam álcool gel e máscaras e por não estarem protegidos, alguns estão sendo barrados e obrigados a saírem de pontos de apoio, com alguns ficando sem ter o que comer nas estradas. O presidente também salientou a dificuldade dos motoristas descarregarem as suas cargas nas empresas. “Recebi o relato de uma indústria onde 25 caminhoneiros não conseguem descarregar a carga porque metade da fábrica está parada por conta do coronavírus”, disse o presidente na entrevista concedida ao canal.
Na estrada desde o dia 20 de março, o caminhoneiro Osvaldo de Vargas confirma a situação de medo e tensão que os profissionais estão enfrentando no trecho. Motorista autônomo, ele conta que saiu de Candelária, cidade onde reside, carregou fardos de arroz em Agudo e seguiu até o Espírito Santo onde efetuou a entrega para 17 mercados de diferentes municípios. Após, ele carregou uma carga de pó de pedra e seguiu viagem até Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde chegou na manhã de ontem, 27, para efetuar a entrega. Se tudo transcorrer dentro da normalidade, o profissional deverá carregar uma carga de soja e levar até o Porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.
Por telefone, Vargas conta que não está fácil circular pelas estradas em razão das restrições. “Não está fácil à situação. Está um deserto nas estradas que dá até medo”, conta ele, destacando a preocupação dos profissionais sentem de serem atacados e terem as cargas saqueadas. O motorista relata que o comércio está parado nas cidades, havendo poucos estabelecimentos atendendo os profissionais. “Os restaurantes atendem a gente pela porta. Um ou outro que abre para sentar na mesa. A maioria está tudo na base da marmitex”, destacou o profissional, que elogia o trabalho de voluntários que estão auxiliando os caminhoneiros distribuindo comida.
Para realizar a manutenção do caminhão ele conta que depende da boa vontade de alguns estabelecimentos para conseguir seguir viagem. “As oficinas atendem de porta fechada. Quando acontece alguma coisa, como no meu caso que estragou o alternador, alguns me atenderam e outros não. Assim vamos indo e vamos levando”, relatou ele.
Sobre a possibilidade dos caminhoneiros também pararem as suas atividades, o profissional destacou que haverá um caos ainda maior no país. “Se nos parar, ai sim complica a coisa no Brasil. Já tivemos a prova com a greve onde passamos 11 dias parados e virou um caos. Imagina se parar por 20 dias? O caminhoneiro é acostumado a passar trabalho e segue as regras. Estamos tomando os cuidados necessários, cada um fazendo a sua parte e levando a vida com normalidade”, finalizou o profissional.














