Viviane Scherer Fetzer
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Foi com essa frase que o vice-presidente da República do Brasil, Antonio Hamilton Martins Mourão, iniciou sua palestra-almoço para o Projeto Gerir – Workshops de Gestão Organizacional, iniciativa da Gazeta Grupo de Comunicações que aconteceu no Hotel Águas Claras Higienópolis, nesta terça-feira, 6 de agosto. O evento reuniu mais de 180 convidados. Segundo ele, “o Brasil precisa mudar e temos um duplo desafio para isso, que será resgatar o país da recessão econômica e entender a nova realidade global”.
O vice-presidente explicou que ninguém tem dúvida do grande porte do país, mas sim da dificuldade que é transformar ele em uma potência. Citou as favelas em que o Estado não chega, mas o traficante paga tudo e comanda até o ir e vir das pessoas, “se não buscarmos a solução para esse problema social, será um eterno enxugar de gelo na luta contra o crime organizado. Nós, como governo temos que entender isso em todos os níveis”.
A crise, segundo Mourão, não é só do Brasil, “é uma crise psicossocial centrada nessa instabilidade mundial que afeta também a juventude, que muda a sociedade em seu modo de se relacionar e, essa mudança está afetando”. Já em relação à crise política, ele aponta como um grande problema a fragmentação partidária do país, tendo 26 partidos dentro da Câmara dos Deputados. “Precisamos fortalecer o sistema partidário, o partido tem que representar efetivamente o pensamento de parcela da população, se isso não mudar será um eterno problema para qualquer governante, mas o que é preciso deixar claro é que o Congresso nunca foi tão livre, para produzir aquilo que é de interesse da nação, como é hoje”.
A crise econômica brasileira foi apresentada e segundo o vice-presidente, é uma tempestade. “Ela começou com a Constituição de 1988, previu uma série de despesas e não previu as receitas, foi quando o então presidente José Sarney disse ‘o país ficará ingovernável’, a conta chegou senhoras e senhores”. A partir disso, o vice-presidente apresentou os motivos que levaram o Brasil a chegar a essa crise econômica, como o Plano Real em que se buscou equilibrar receitas e despesas através do ajuste fiscal e do equilíbrio das contas. Depois com o aumento dos impostos elevando o PIB de 25% a 31%, e que hoje está em 33% e “faz com que todos nós andamos curvados sob o peso dessa carga de 33%, porque se pagássemos isso de impostos, mas tivéssemos estradas alemãs, hospitais suíços e escolas britânicas estaríamos todos satisfeitos. Mas não, pagamos tudo isso e não recebemos nada em troca do Estado”. Apontou os erros cometidos pelos governos Lula e Dilma em que se criou uma nova matriz econômica, segundo a apresentação do vice-presidente, baseada no endividamento, na valorização do câmbio, nas desonerações que hoje são em torno de R$250 bilhões, redução de juros por decreto. “Tudo isso levou a uma escalada da dívida pública que hoje beira os 80% do PIB, também entrou a contabilidade criativa, as pedaladas e o déficit fiscal foi escalonado geograficamente”.
Mourão apresentou ainda que desde 2014 o Brasil está no vermelho e que se tudo correr bem no próximo ano a previsão é que se chegue a R$-40 bilhões, um número significativo em relação ao de 2019 que é de R$139 bilhões. Citando Machado de Assis que fala que ‘quando alguém tem a vocação da riqueza, mas sem a vocação do trabalho, a resultante desses dois impulsos vai ser uma só, dívida’. “O aumento extraordinário da dívida pública é resultado de um arranjo baseado na expansão do consumo e no aumento do gasto público apelando ao mercado para se financiar”.
Como isso será resolvido
Conforme o vice-presidente tudo começou na eleição de 2018 em que um movimento dentro do país passou por cima do que a grande imprensa formadora de opinião estava apresentando. “Estamos buscando o nosso orgulho como nação. Nosso compromisso é reestabelecer a confiança no país e nas instituições. E retomar o crescimento e fortalecer a segurança pública”.
Para isso foram apresentados dois problemas estruturais da nossa economia, o ajuste fiscal e a produtividade. “Vamos reajustar as contas públicas com a nova previdência, porque nós ficamos mais velhos, tem menos gente ingressando no mercado de trabalho, aquele pacto de gerações em que os mais novos trabalham para garantir a aposentadoria dos mais velhos, está rompido. Se não fizermos nada a geração de filhos e netos vai olhar para nós e dizer o seguinte: onde vocês estavam que não enfrentaram isso aí?” Ele ainda salientou que a aprovação da reforma foi exaustiva, pois as negociações duraram mais de cinco meses e que se nada for feito agora, no último ano de governo só serão pagos salários, porque não vai ter dinheiro para pagar papel, água, luz e outras contas.
A busca pela desburocratização também é incessante neste governo, “temos que privatizar e conceder, privatizar tudo aquilo que é ineficiente. Vamos vender, fechar, fazer abertura para o mercado de ações e vamos fazer as concessões de aeroportos, estradas, terminal portuário, linhas de transmissão, trazer a iniciativa privada por meio do programa de parceria e investimentos. Só assim a gente consegue dar uma destravada no gargalo da infraestrutura, óbvio que tem alguns investimentos que só o estado pode fazer, por isso, nós precisamos daquele espaço fiscal para que o Estado recupere a sua capacidade de investir”.
“O nosso sistema tributário é um manicômio. Nós temos tributos federais, tributos estaduais e tributos municipais, tem 5.570 municípios no Brasil, cada um tem a sua legislação. Esse sistema custa R$70 bilhões por ano para o estado e para as empresas, para ser mantido”, afirmou o vice deixando claro que é preciso enxugar esse sistema, mesmo que seja um processo complicado por serem muitos interesses em jogo, mas que já está sendo traçado um plano e logo será aprovado, solucionando os problemas.
O Brasil no mundo
Citando suas viagens a Washington (EUA) e Pequim (China), o General Mourão afirmou que viu um grande interesse pelo que está acontecendo no Brasil, “nesse contexto de acirramento de tensões geopolíticas nós temos que ser pragmáticos e flexíveis. Perseguir os nossos interesses, os interesses brasileiros e não interesses estrangeiros. O êxito internacional precisa ser conquistado aqui dentro do Brasil. Precisamos recolocar o país no caminho do desenvolvimento”.
Segundo ele, o Brasil não é o culpado pela situação do meio ambiente mundial e os brasileiros precisam rebater a afirmação de que a Amazônia está terminando, “quem trabalha com a terra preserva a sua terra porque sabe que dali sai o seu ganha-pão’.
O vice-presidente apresentou ainda os pilares da civilização ocidental e as ações do atual governo para recuperar o país e finalizou dizendo que “todos nós temos que mudar, entender nossa responsabilidade e o nosso papel nesse mundo de hoje”.














