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Os Canarinhos: vozes que emocionaram

Ana Souza
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Em 1967 ‘Os Canarinhos’ eram destaque no cenário do Rio Grande do Sul, tendo gravado vários discos de vinil, long-playing (LP), compactos e outros. Os jovens estudantes maristas percorreram mais de 100 localidades no Estado, além de se apresentaram no Rio de Janeiro (Congresso Mundial dos Irmãos Maristas), Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Uruguai e Argentina. De início, o grupo era formado por 33 meninos, entre 7 e 12 anos, acompanhados por conjunto musical em torno de seis integrantes, assessorados por casais de pais (que os preparavam nos bastidores). A primeira apresentação foi no dia 12 de maio, Dia das Mães. ‘Os Canarinhos’ chegaram a ser considerados como melhor coral infantil do Brasil, tendo inclusive vencido vários festivais, em votação de júri e popular. Em uma das inúmeras apresentações, se fez presente na Embaixada da Alemanha em Brasília; para o Presidente da República, Emílio Garrastazu Médici e para o Ministro da Educação, Jarbas Passarinho.
Nos anos 70 participaram de diversos programas de TV: o Clube dos Artistas, da Rede Tupi em São Paulo, com Airton e Lolita Rodrigues e o Alô Brasil, Aquele Abraço, na Globo, com Paulo Silvino. Dois anos depois, 1972, na 2ª Festa Nacional do Fumo, em Santa Cruz do Sul, nesta oportunidade se apresentaram para o presidente da República. Através de um convite, um ano depois se apresentaram em Brasília.
 A regência do grupo, esteve a cargo de Carmo  Gregory que também foi arranjador, tocando no início piano, depois gaita e, posteriormente gaita elétrica e teclados como o primeiro órgão “Arbon”.  Atualmente Carmo rege o Coral Municipal de Vera Cruz. O coral, no início, também contou a ilustre participação de Carlo Aspesi, considerado o segundo melhor pistonista do mundo. De origem italiana, também efetuava arranjos para o Coral.
O grupo foi idealizado na época do ex-diretor Ewaldo Neis, considerado fundador. Mas, segundo ele, “Os Canarinhos surgiu através das mãos e perseverança de toda a comunidade marista”, palavras no ano em que o grupo completou 40 anos e fez uma apresentação especial com os meninos, então já crescidos.

LEMBRANÇAS

Entre os mais de 100 integrantes de Os Canarinhos, estava o presidente da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), Mario Kops, em suas palavras relembra a época de estudos e da participação no grupo. “Em 1966 iniciei no primeiro ano primário, a sala ficava ao lado da ‘sala de refeições dos maristas’, que continha uma mesa redonda sobreposta giratória e as andanças do Irmão Pedro ‘grande desenhista’ e sua pastora alemã ‘a Preta’. Sou dos tempos de primário, admissão ao ginásio, curso ginasial e 2º grau. Sempre no São Luís, final de 1974, por indicação do ex-diretor Guido Jungbluth participei de seleção para trabalhar como “Menor Estagiário” no BB e já em 1977, formei-me no curso Técnico em Contabilidade Noturno, turma ‘B’. Para época, o colégio era enorme e surgiam muitas novidades a toda hora, não esquecendo com carinho da primeira turma e da professora Beatriz Schuck. Naquele tempo, quando se falava muito durante as aulas atrapalhando a explicação. ‘O castigo’ invariavelmente acontecia, sendo no mínimo, ficar parado atrás da porta da sala até o final da aula e/ou período. Ao final tudo acabava bem, sem rancor. A avaliação vinha através de um boletim escolar que apontavam um gráfico colorido, indicando o percentual de conhecimento com a classificação (1º lugar, 2º lugar…), bem como do número de faltas.”
Kops enfatiza as lembranças. “Sobretudo dos Canarinhos do Colégio São Luís. Mas, em especial, dos jogos internos (campo do abacateiro e tiririca), dos passeios, dos piqueniques (dia de campo no Parque São Luís), ensaios para o desfile de 7 de Setembro, apresentações no auditório, trabalhos de casa, do escritório ‘modelo’, das ‘quermesses’, das trocas de professores e diretores, dos ensinamentos e das brincadeiras em salas de aula. Das notas boas e das nem tanto. Melhores lembranças: dos bons professores e professoras que permitiam descontração, mas que também exigiam conhecimento e dispunham de todo o tempo para ensinar e erradicar as dúvidas, além de sempre auxiliar e procurar de todas as formas a melhor maneira de explicar o conteúdo, colocando-se a disposição inclusive para aulas de recuperação. O resultado ‘nas provas’, era a melhor forma de avaliação. Como no ano, eram válidas sete verificações e a nota mínima sendo 7, o objetivo era o de alcançar logo os 49 pontos e assim escapar do exame final que exigia o conhecimento (novamente) de todo o conteúdo do ano.”
Lembranças também da professora Solange Seidel, do 3º ano primário. “A mãe Helga Seidel costurou gratuitamente o primeiro uniforme dos Canarinhos. O pai Bruno Seidel foi professor de Educação Física no colégio. Nos davam aulas de etiqueta e acompanharam algumas viagens nos primeiros 8 anos. Meu pai, Lauro Kops, através da Empresa Expresso Gaúcho, foi o motorista titular e não raras vezes minha mãe Ingrid, também acompanhava viagens, até porquê meu irmão Miguel também foi cantor nos primeiros quatro anos.”

UM DOS CANARINHOS

Em 1967, no 2º ano primário, Mario Kops passou a fazer parte de ‘Os Canarinhos’. “Naquele ano letivo vieram dois convites, um para participar de um coral outro de ser um escoteiro. Pensei em ser escoteiro, porém após algumas discussões a decisão final veio de casa: coral. O gosto pela música estava no sangue e felizmente a decisão acertada colaborou para em 8 anos de participação (enquanto só homens e a voz permitia) a possibilidade de conhecer países vizinhos e centenas de cidades dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. Lembranças de inúmeras situações: do compromisso (ensaio de 1h até 1h30m diariamente), apresentações praticamente todos os finais de semana (exceção final de semana da 1ª Comunhão), viagens longas, pernoites em casa de família, colégios, albergues, alojamentos municipais, quarteis, hoteis e outros. As centenas de apresentações em cinemas, centros culturais, colégios, paróquias, ginásios, praças, televisão, rádios, igrejas, anfiteatros, Ministério da Educação e Cultura e embaixadas. Inclusive em 1970, no Palácio do Planalto, em sua sala, para o presidente da república Emílio Garrastazu Médici e a sensação de ter participado de algo maior, como a gravação de dois LPs (cada disco de vinil com 12 faixas musicais) e de um compacto lançado por ocasião do Centenário do Colégio São Luís, com quatro faixas musicais. Nos intervalos das apresentações “Os canarinhos” vendiam os discos, com muita facilidade, e recebiam comissão… no retorno aos palcos (2ª parte da apresentação) contabilizavam os lucros e galanteavam-se dos feitos.”

MENSAGEM

“O aniversário de 111 anos do Colégio Marista São Luís valem regozijo e a confraternização pelo muito que deles saiu em benefício do município, do estado e do País. Ao nosso Colégio Marista São Luís, portanto, sejam dirigidas aqui as nossas mais efusivas congratulações, especialmente à sua direção, à comunidade dos Irmãos Maristas, aos professores, alunos, ex-alunos e amigos.”

Arquivo Pessoal/Mario Kops

Os Canarinhos na Embaixada da Alemanha em Brasília

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“Tivemos muitas alegrias”

Lair Ipê da Silva, Laia, também foi integrante de Os Canarinhos. Seus estudos no Colégio Marista São Luís iniciaram em 1966 com Admissão, depois Ginásio e posteriormente Técnico em Contabilidade, com formatura em 1975.
Segundo Laia muitas lembranças fazem parte de sua vida. “Entre tantas lembro do campo de areia (famoso Abacateiro) que era cuidado pelo Senhor Rodolfo, do Ginásio Luisão, da Banda Marcial, da Semana Champagnat com torneios de futebol, Capela, das Quermesses, Festa da Bergamota, Reencontro dos Canarinhos que marcou os 40 anos. Tudo muito emocionante.”
Lair participou dos Canarinhos no período de 1970 a 1973. “Foi uma época de muitas viagens e alegrias. Iniciei como apresentador, guitarra base e solo. Muitas viagens fizemos pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, e muitas outras.” Por vários anos ele também participou da Associação dos Ex-Alunos Marista, Assemar. “Hoje ainda mantenho o vínculo com o Colégio participando do Movimento Champagnat da Família Marista e o colégio continua não só formando a mente, o racional mas também educando o coração.”
O aprendizado marista foi a base para a carreira profissional, conforme Lair Ipê. “Fui indicado pelo senhor Lauro Brum, que na época era coordenador do curso Técnico do Colégio, para trabalhar no Banrisul. Após realizar provas internas como datilografia, conhecimentos bancários e gerais fui efetivado no Banrisul em maio de 1976 onde trabalho até hoje.”