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Chama crioula: O símbolo maior do tradicionalismo

Chama trazida pelos Cavaleiros da Integra‹o aguarda o in’cio das festividades

Grasiel Grasel
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Desde o dia 1º deste mês a chama crioula já está em Santa Cruz do Sul. Ela vem aguardando, sob o resguardo de entidades locais e dos Cavaleiros da Integração, grupo que buscou a centelha, o início da Semana Farroupilha. Foram 415 quilômetros e 18 dias de estrada saindo de Tenente Portela, cidade onde a pira principal foi acesa, para trazer este importante símbolo da cultura gaúcha à nossa cidade.
Companheirismo é o que não falta no grupo de 15 cavaleiros, pois, segundo o coordenador da cavalgada deste ano, Luiz Carlos Back, as amizades formadas nos dias de estrada ficam marcadas na vida dos cavaleiros. A vontade de cultivar e fomentar a tradição gaúcha dá as forças necessárias para enfrentarem o frio e cerração dos primeiros dias, assim como a certeza de chegarem ao destino de cada dia sabendo que serão bem acolhidos e atendidos pela equipe de apoio.
Back diz que a motivação para cada nova cavalgada sempre vem do apreço ao tradicionalismo. “Eu me orgulho muito de ser gaúcho, isso me dá a vontade e a força necessária pra cavalgada. Eu já fui ao Chuí, 618 quilômetros de estrada, e vou onde estiver a chama”, diz ele, que finaliza afirmando ter certeza que a Semana Farroupilha é o melhor evento cultural dos estados brasileiros e se orgulha muito pela oportunidade que teve de liderar os Cavaleiros da Integração neste ano.
Composto por 30 associados e ex-associados de entidades tradicionalistas santa-cruzenses, os Cavaleiros da Integração realizam sua cavalgada há 25 anos. O grupo foi fundado por integrantes do CTG Laço Velho e o CTG Garrão de Potro, posteriormente acolhendo novos membros de diferentes CTGs. Em diversas oportunidades, representaram a 5ª Região Tradicionalista na busca pela chama crioula, mas Luiz explica que nesta oportunidade a jornada foi em favor de Santa Cruz, contando com o indispensável apoio de todos os setores do poder público municipal e a ATS.
A partir de hoje, dia 13, a programação da Semana Farroupilha se inicia e, com ela, as rondas crioulas passam a ser compromisso de diversas entidades-membro da Associação Tradicionalista Santa-cruzense (ATS). A cada noite, respectivamente, a chama será mantida acesa nas sedes dos PTGs e CTGs Laço Velho, Areial Santa Cruz, Estância Alegre, Tio Itia, Rincão da Alegria, Garrão de Potro e Camboatá. Também farão parte das rondas o grupo Cavaleiros da Integração, o DTG José Altivo dos Santos, a 6ª CRE e a Secretarias Municipais de Educação e de Cultura. Haverá jantar e animação em todas as noites de ronda.

LANCEIROS
O CTG Lanceiros de Santa Cruz terá programação própria, com uma Semana Farroupilha organizada individualmente. No dia de hoje, sexta-feira, o grupo do setor de campeira irá buscar uma centelha da chama em Tenente Portela, mas neste caso sem cavalgada. Além das demais programações previstas, a quinta-feira, dia 19, será de ronda crioula, contando com um jantar baile e apresentações dos grupos artísticos da entidade.

UM POUCO DE HISTÓRIA
Com a constituição varguista de 1937, ficava proibida a manifestação cultural dos estados brasileiros. Em um evento simbólico, o então presidente Getúlio Vargas, gaúcho nascido em São Borja, assistia a bandeira do Rio Grande do Sul ser queimada na Praça Roosevelt, no Rio de Janeiro, ação que fazia parte de sua campanha pela nacionalização do país, que passava a permitir o hasteamento de apenas uma bandeira: a do Brasil. Com isto, o movimento tradicionalista gaúcho estava praticamente extinto.
Foi somente em 7 de setembro de 1947, após a promulgação da nova constituição de 46, que a cultura farroupilha voltaria a arder no coração dos gaúchos. Ao final dos festejos da Independência do Brasil em Porto Alegre, à meia noite, quando o fogo simbólico da pira da pátria seria extinto, Paixão Cortes desceu de seu cavalo e, com um cabo de vassoura e um pedaço de pano embebido em querosene, acendeu uma centelha para si e gritou: “Está acesa a chama gaúcha, a chama crioula!”. Após, Cortes e outros 8 amigos se dirigiram ao Colégio Júlio de Castilhos, onde fizeram uma ronda de 13 dias, até 20 de setembro, data que marca o início da revolução farroupilha.
Depois do esforço de Paixão Cortes e seus amigos em reviver a cultura gaúcha, virou tradição repetir o feito dos tradicionalistas. Hoje é regra aos mais apaixonados pelo significado da Semana Farroupilha organizar uma cavalgada para buscar uma centelha da chama crioula, assim como garantir que haja uma ronda que a mantenha acesa até o dia 20 de setembro, o dia dos gaúchos.