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A morte do Super-Homem

A cultura da década de 1990 vem sendo revisitada nos últimos anos. Aproveitando essa onda, vale lembrar de um evento interessante daqueles tempos. Em 1992, foi lançada a história em quadrinhos ‘A morte do Super-Homem’, que, na época, foi notícia em diversos veículos de comunicação. Poucas vezes uma história em quadrinhos repercutiu tanto na imprensa, e isso ocorreu porque o Super-Homem, eternizado na televisão e no cinema, conhecia a morte em sua mídia original, os quadrinhos.

Claro, não foi uma morte definitiva, pois, em 1993, o personagem voltaria a ser publicado. De toda forma, o impacto de uma história em quadrinhos chama a atenção, e ‘A morte do Super-Homem’ apresenta, além de uma ação e uma violência desenfreadas, alguns pontos de reflexão que ajudam a situar-nos um pouco melhor nos anos 90. É importante dizer que, na época, o Super-Homem tinha de lidar com seu próprio anacronismo, pois já era um personagem um tanto antiquado (lançado em 1938). Então, para atrair o público leitor, uma morte causada por longas sequências de ação parecia uma boa oportunidade para colocar o ‘Homem de Aço’ no contexto da década de 1990.

O interessante, em ‘A morte do Super-Homem’, é que o anacronismo do Super-Homem acaba por ser uma resposta para problemas da década de 1990. Em um trecho da história, um jovem, que sofre com a desestruturação familiar, é bastante arrogante e depreciativo em relação à própria mãe. O jovem, praticamente uma versão adolescente do cantor Axl Rose (da banda Guns N’ Roses, sucesso nos anos 90), é uma antítese da envergadura moral do Super-Homem. Curiosamente, quando sua família sofre uma grande ameaça, o jovem pede pela ajuda do ‘Homem de Aço’, que atende ao chamado, embora fosse quase impossível fazê-lo. Aí entra o elemento da suprema compaixão, tão característica desse super-herói.

Em outro momento da história, o Super-Homem critica uma propaganda de luta livre, o que é irônico, se levarmos em consideração o teor de ‘A morte do Super-Homem’. Obviamente, os anos 90 não criaram a violência como fator de diversão, mas foram um dos ápices da comercialização da violência. ‘A morte do Super-Homem’ atende às preferências de boa parte do público da época, ao mesmo tempo em que tece uma crítica ao próprio ‘modus operandi’ que agradava a esse público.