Início Valério Garcia A REUNIÃO DO SÉCULO

A REUNIÃO DO SÉCULO

Em tempos antanhos era muito mais fácil manter ocultas práticas de dominação coletiva dos aparelhos estatais sobre a coletividade, eis que se impunha a ferro e fogo o silêncio sobre a imprensa, e as instituições então existentes. Muitas vezes faziam ouvidos moucos em relação as muitas atrocidades que aconteciam nos porões da ditatura. Os fatos são incontestáveis, e se agora vivemos tempos estranhos, mas alguma esperança ainda existe, pois o Estado Democrático de Direito nos permite, ou melhor, nos impõe o direito ao contraditório e a ampla informação.

É bem verdade que as reações institucionais não são as mais republicanas, que se diga, da trágica e vergonhosa “reunião” de ministério do governo federal. Não há nada de razoável naquilo que foi visto pela sociedade brasileira. Daí o General Heleno falar em risco a segurança nacional, caso fosse retirado o sigilo sobre a filmagem da reunião, demonstra de forma muito clara que parte dos militares do governo ainda não estão acostumados com os ares da democracia.

O que veio à tona na reunião somente demonstra a visão do atual governo sobre a gestão do público, seja para bem ou para mal, mas ficou muito evidente para o bom entendedor, que não há qualquer projeto de governo, mas apenas um grupo desvairado, que necessita sempre de álibi para sua total incapacidade de compreensão do papel da gestão pública. Somente para exemplificar, o Presidente achar que precisa armar a população contra um inimigo que talvez seja na visão dele a imprensa, o judiciário, o legislativo, os partidos políticos, ou qualquer outro órgão que questione seus autos, comprova a sua incapacidade para o cargo.

Mas o preço da exposição é exatamente este, ou seja, por mais danosas que as atitudes acima mencionadas pareçam ao País em primeiro momento, elas tem papel propedêutico de dizer em alto e bom tom, é claro, para aqueles que ainda querem ouvir, que é necessário a vigilância permanente sobre todos os agentes que detêm muito poder, eis que não estão imunes aos desvios de conduta, e quando são agentes estatais, os limites devem ser mais rigorosos ainda, pois sua atribuição é a defesa da coletividade, e não seus interesses individuais ou de grupos que pretende proteger.