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A tradição defensiva do Inter

Foto: Ricardo Duarte

A passagem recente do técnico Miguel Ángel Ramírez no Internacional, em 2021, reforçou uma ideia importante no futebol do Rio Grande do Sul: a relevância do aspecto defensivo para os times gaúchos. Ramírez tinha uma proposta de futebol ofensivo, com o esquema 4-3-3, mas, entre outros aspectos, seu time foi criticado porque o Inter demonstrou uma fragilidade defensiva, permitindo contra-ataques dos adversários com facilidade.

Tanto Inter quanto Grêmio, ao longo da história, são responsáveis por uma certa preocupação defensiva do futebol gaúcho. Em 1993, em uma entrevista para a Rádio Gaúcha, o então técnico do Inter, Ênio Andrade, falava sobre a importância do equilíbrio em um time de futebol, entre defesa e ataque. Na época, achei a ideia bem convincente e, de fato, o equilíbrio em uma equipe é algo que faz sentido, embora a preferência por um futebol ofensivo não me pareça ruim. Pelo contrário.

No Rio Grande do Sul, Ênio Andrade foi muito influente na concepção do futebol com preocupação defensiva: ele treinou tanto Grêmio quanto Internacional, além de ter comandado outras equipes gaúchas.

No Inter, um marco que pode ser considerado relevante para que o clube adotasse o “futebol força”, foi a ascensão do “movimento mandarim” à direção colorada, em 1969. Até então, o Inter se caracterizava por um futebol mais leve e ofensivo, mas não obtinha os resultados desejados, enquanto o Grêmio, na década de 60, conquistava os campeonatos gaúchos com o “futebol força”.

Com a ascensão dos “mandarins”, em 1969, e a adoção do “futebol força”, o Inter quebrou a hegemonia tricolor. O “movimento mandarim” diluiu-se já no início da década de 70, mas seu trabalho repercutiu fortemente durante os anos setentistas. Em 1976, o Inter foi octacampeão gaúcho e bicampeão brasileiro com o técnico Rubens Minelli, que montou um time preocupado com a marcação. O time de Minelli era capaz de colocar três ou quatro jogadores para pressionar o jogador adversário que estava com a bola – algo que assemelhava o Inter à grande Seleção Holandesa de 1974.

Em 2006, quando o clube retomou suas grandes conquistas com o título da Libertadores, no jogo decisivo contra o São Paulo, o comentarista Ruy Carlos Ostermann definiu o sistema defensivo do técnico Abel Braga, como um “sistema de quatro zagueiros”. Não dois zagueiros e dois laterais, e sim quatro zagueiros de área: Índio, Bolívar, Fabiano Eller e Edinho. Um sólido e forte sistema defensivo.