Grasiel Grasel
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Poucos espaços públicos de Santa Cruz do Sul tem uma vista tão linda quanto a da sacada da Casa das Artes Regina Simonis. Do terceiro andar do prédio, é possível ver o coração da cidade, a esquina da Julio de Castilhos com a Marechal Floriano, onde ficamos na altura das tipuanas e podemos imaginar o que cada uma veria. No entanto, ao voltar os olhos para dentro do prédio, a visão não é tão agradável, pois o aspecto envelhecido da tinta descascando na parede e o assoalho apodrecendo são praticamente um pedido de ajuda. Há quem não saiba, no entanto, que a situação já esteve pior.
Para permitir a entrada de visitantes no terceiro andar, grandes placas de compensado naval foram presas ao chão, cobrindo praticamente todos os buracos formados nos locais onde o assoalho foi apodrecido pela ação do tempo e cupins. Alguns ladrilhos do banheiro “vintage” são os que melhor sobreviveram, permanecendo quase intactos desde a época em que houve moradores no espaço, que serviu inicialmente de casa para o gerente do antigo Banco Pelotense, extinto em 1931.
Há pouco tempo o prédio corria o risco de ser fechado caso não se adequasse ao Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) do Corpo de Bombeiros, no entanto, em dezembro de 2019, a JTI, por intermédio do deputado estadual Adolfo Brito (PP), realizou a doação de R$ 25 mil que possibilitou os ajustes necessários.
As necessidades da Casa das Artes, no entanto, não se resumem a isto, pois existe um enorme projeto de restauração completa de suas estruturas desde 2013, que nunca saiu do papel pela dificuldade em levantar os recursos financeiros exigidos. Segundo Milton Keller, presidente da Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul, entidade mantenedora do prédio, o montante necessário para que toda a obra seja executada fica atualmente em torno de R$15 milhões.
Responsabilidade é da Pró-Cultura
Embora que atualmente a propriedade da edificação seja do governo do Estado, que o adquiriu logo depois do fechamento do Banco Pelotense para torná-lo uma sede do Banrisul, o contrato de comodato em que ele é fornecido à Pró-Cultura torna a manutenção uma responsabilidade da entidade.
Na visão de Keller, foram dois os principais fatores que levaram à falta de manutenção no prédio: o primeiro e principal deles é financeiro, já o segundo foi acreditar que o projeto de restauração, anunciado em 2013, poderia se tornar uma realidade em pouco tempo. “A gente pensava, ‘poxa, se a gente investir (na manutenção), depois não vai valer a pena, por causa de toda a restauração’, então os investimentos iam para outras áreas”, explica. Segundo ele, o caixa deixado por gestões anteriores foi extremamente importante para os ajustes necessários feitos no último ano.
Cenário ainda não é ideal
Segundo o presidente da Pró-cultura, a autorização para captação de recursos já foi dada, no entanto, o que trava a iniciativa da entidade é o medo de iniciar o projeto sem poder finalizá-lo o quanto antes. “Com a atual situação de governo e de país, ainda temos um pouco de receio de fazer o lançamento de captações de recursos”, afirma.
Keller explica que, quando o processo de restauração for iniciado, ele não pode parar, porque todas as esquadrias do prédio serão removidas e levadas até uma marcenaria especializada em revitalizações, tentando chegar ao mais original possível. Os ladrilhos também deverão ser todos retirados e numerados um por um, para que cada um seja devidamente restaurado. “É praticamente um processo de demolição do prédio, não tem como não fazer tudo (de uma vez), até o telhado é retirado e todo refeito”, explica.
Nova galeria será estratégica
A principal aposta da Pró-Cultura no momento é a abertura de um novo espaço no prédio, uma galeria que ficará no segundo andar para abrigar obras de artistas gaúchos, no entanto, ao contrário das exposições do salão principal, esta será permanente, com o objetivo de vendê-las para arrecadar fundos. A parte estrutural já está concluída, agora basta definir um estatuto que regre como serão escolhidas as peças que ficarão expostas, definição de valores e outros processos burocráticos.
Grande parte das reformas feitas no espaço foram realizadas a partir de doações de empresas da comunidade santa-cruzense. A Afubra, por exemplo, forneceu toda a tinta utilizada nas paredes do andar, a pia do banheiro foi construída com recursos da Marmoraria Santa Cruz e da JO. “Até minha mãe doou os vasos sanitários”, conta Keller, rindo.
Casa já está aberta
Nesta quinta-feira, dia 6, a Casa das Artes foi reaberta ao público, iniciando suas atividades com a primeira exposição do ano, com obras da artista plástica que leva em seu nome, Regina Simonis. O próximo passo é fazer a substituição do piso de madeira do terceiro andar, restaurar as esquadrias e dar um uso efetivo para o espaço. “Eu acho que Santa Cruz é tão carente em fazer as pessoas entenderem a arte, então poderia ter ali (no terceiro andar) ateliês, espaços voltados para a arte, cultura, música, enfim… Mas antes ele precisa ser minimamente restaurado”, conclui Keller.
Para o presidente da Pró-Cultura, é extremamente relevante que a comunidade e representantes de empresas visitem a Casa das Artes e conheçam suas estruturas, pois essa é a melhor maneira de entenderem sua importância. Ele explica que cada novo associado é um grande passo em direção ao objetivo de iniciar o projeto de restauração do prédio, mas continuar recebendo cada vez mais doações de empresas santa-cruzenses traz o sonho cada vez mais próximo da realidade.
Visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira das 10h até meio-dia e das 13h30 às 17h30. Nos sábados a casa não fecha para almoço, ficando aberta das 10 até as 17 horas.














