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Dia do Metalúrgico | Forjados entre desalentos e conquistas

Gilberto Saraiva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santa Cruz: avançamos muito nos direitos trabalhistas

A metalurgia é, essencialmente, a transformação de metais em artefatos, e sua história pode confundir-se com a história da humanidade. Entretanto, acredita-se que, até em torno de 7.000 A.C., o ofício, hoje essencial para a manutenção de nossa sociedade civil, não era conhecido. Com a descoberta da manipulação do cobre e da fabricação do bronze – combinação cúprea mais resistente e durável –, foi o fim da chamada “Idade da Pedra”. Culminando depois na descoberta do ferro, a exploração dos metais auxiliou, ao longo da história, a manufatura de ferramentas de caça, o desenvolvimento agrícola e a construção e manutenção das cidades. No Brasil, com o início da colonização, o ofício começou irregular e desorganizado. A matéria prima era rara, pois majoritariamente importada. O país produzia, principalmente, metais preciosos (ouro e prata), que era uma das principais motivações coloniais das coroas ibéricas para a exploração das terras.

Hoje, dia 21 de abril, é o Dia do Metalúrgico. Mesmo partindo de um contexto incipiente em relação a outras partes do mundo, a indústria metalúrgica nacional cresceu rapidamente, e há muitos que encontraram lugar para a paixão pela profissão. Gilberto Moraes Saraiva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santa Cruz do Sul, é um desses casos, como conta em entrevista:

Como começou tua história com a profissão? Por que a metalurgia?

 “A história de virar metalúrgico, no meu caso, foi a seguinte: fui fazer uma visita e levar uma vianda de comida para um amigo meu que estava fazendo curso do Senai. Cheguei lá, vi o cara trabalhando num torno; me apaixonei de cara. E aquilo me fissurou de uma forma, de que eu acabei querendo fazer o curso de torneiro mecânico. Dali em diante, fiz os dois anos do Senai, e depois saí de Santa Cruz já empregado”.

E o começo da vida sindical?

“Depois que me formei, fui pra Guaíba, e lá eu fiz curso técnico em mecânica. Em Porto Alegre, a gente participava do Sindicato como delegado sindical. Aí começou a história do movimento sindical. Nós lotávamos ônibus em Guaíba, para levar o pessoal às assembleias, e isso me fez entender um pouco de direitos trabalhistas. Depois que voltei pra Santa Cruz, o Sindicato aqui não existia, era a lei da selva. Passamos a fazer uma conversa com os trabalhadores nas empresas em que eu passei. Eu trazia panfleto de Porto Alegre, panfleto que já tinha sido rodado por lá, e aí a gente mostrava pro pessoal como era a forma de interagir com os trabalhadores, e começaram a gostar. Comecei a conversar com o pessoal pra montarmos uma chapa do Sindicato, e foi ali, em 1987, que começamos a montar essa chapa. Ganhamos as eleições, e a partir dali, o Sindicato mudou a sua linha de atuação. Passamos, então, a fazer um sindicalismo de trabalho de corpo a corpo com os trabalhadores. Antes, era só médico, dentista. E hoje não, hoje fazemos assembleias nas portas de fábricas, se faz acordos individuais de dissídio coletivo com as empresas, com a participação total dos trabalhadores. Avançou-se muito nos direitos trabalhistas, mas temos que manter os direitos que a gente ainda tem, ampliar eles e lutar, junto com os demais sindicatos, junto com a CUT, com a nossa central e com os deputados, para que tenhamos êxito em Brasília, com as mudanças que têm que ser feitas. Esse é o papel dos metalúrgicos nesse ano”.

E, além desses desafios políticos, há também os do tempo, dos avanços tecnológicos, da era das máquinas. Quais as perspectivas do lugar do metalúrgico em meio a isso?

“As máquinas são todas com sistemas tecnológicos avançados, na base da eletrônica, porque é tudo automatizado. Então, na nossa profissão, ou estuda, ou fica pra trás. Mas, assim mesmo, ainda tem dificuldade. O cara que é soldador, por exemplo: ainda não chegou, aqui, a estar tão avançado ao ponto dos robôs fazerem trabalho de solda. Isso tem nas montadoras, nos grandes centros. Mas, por enquanto, aqui não tem; tem que ser na unha mesmo, tem que ser um bom profissional. Esses, ainda estão ganhando bem. Agora, quem trabalha com automação, ou estuda ou não ganha mais emprego. A situação está bem caótica”.

Entretanto, o Sindicato, além de operar nessa frente trabalhista, pensa em outros lados de da situação, oferecendo vários serviços e benefícios para os sócios. Quais são esses serviços?

 “Já é o segundo ano consecutivo em que ganhamos o prêmio de melhor sindicato da região. No Sindicato, temos médicos, dentistas, fazemos limpeza de dente, tratamento de canal, pra toda família do associado. Também temos uma sede campestre, que é um espetáculo. No verão temos piscina semiolímpica, campo de futebol, quadra de areia, área de camping, praças de brinquedo, e uma sede com jogos de snooker, pingue-pongue, bilhar, salão de festas, e não tem custo algum para os associados. Nesse sentido que a gente trabalha bastante a área de lazer. Também trabalhamos muito fortemente na área social, com as associações de moradores, apoiando, com o movimento de pequenos agricultores também, e também é um trabalho voltado com os demais sindicatos filiados a CUT. Nós temos a regional da CUT, de que nós temos muito apoio. O que não pode é andarmos sozinhos, quanto mais organizado, melhor fica para a classe trabalhadora. Nesse ano, a meta nossa é mudar os direitos trabalhistas. Só sobreviveram aqueles sindicatos que realmente estavam estruturados, que puderam fazer alguma coisa para seus associados”.

Então, qual a mensagem que tu deixas nesse Dia do Metalúrgico?

“A mensagem que deixamos é que o sindicato é todos nós. Sozinhos, nós estamos ferrados. Então, eu peço que todos, independentemente do sindicato, associem-se e mantenham a união, tanto dentro da fábrica quanto no Sindicato. Na área em que qualquer trabalhador estiver atuando, fortaleça sua entidade, pra poder ter perspectiva de futuro”.

SAIBA MAIS

Como atuam os metalúrgicos?

Os metais são, geralmente, encontrados em combinação com outros minerais no solo. Esses minerais, quando economicamente valorizados, são chamados de minérios. Os profissionais da área, a partir disso, atuam em várias etapas de preparação dos metais, como a extração, a purificação e a transformação em produtos metálicos. Esses produtos precisam, posteriormente, passar por outros processos, que se dividem em, basicamente, três ramos distintos. São eles:

 Metalurgia Extrativa

Ocupa-se dos procedimentos de extração de minérios do solo, bem como da produção de ligas metálicas de refino. Um dos mais importantes resultados dessa fase é o primário ferro-gusa, do qual são obtidos vários tipos de aço. De modo geral, os métodos extrativos dividem-se em hidrometalúrgicos (com soluções aquosas), eletrometalúrgicos (eletrólise) e pirometalúrgicos (com aquecimento).

 Metalurgia Física

Debruça-se sobre as estruturas físicas internas dos metais, seus acabamentos, suas propriedades e suas aplicações práticas no desempenho. Trata de desde o comportamento mecânico estático e dinâmico do produto até as suas imperfeições e aparência. Nessa fase, pode-se fazer, também, a manutenção e a proteção dos metais da corrosão, por meio de técnicas eletroquímicas.

 Metalurgia de Transformação

Nessa etapa, busca-se a forma final do metal, tanto em termos de dimensão quanto de suas propriedades; são utilizados meios termodinâmicos de moldagens e alterações na forma dos metais. A siderurgia, que trabalha sobre o ferro e o aço, é um exemplo. Há, também, os recursos de fundição, forjamento, soldagem, laminação e trefilação.