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Homenagem aos Pioneiros do Novo Mundo

Os colonos germ‰nicos vieram ao Brasil e deixaram marcas de sua cultura, reverenciada ainda hoje

LUANA CIECELSKI
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Muitas pessoas podem se perguntar: por que é feriado em Santa Cruz do Sul no Dia do Colono e não na data do aniversário da cidade, como acontece em outras cidades? A resposta é: por um motivo muito especial. Essa data marca o início da colonização germânica no Brasil e no RS, e Santa Cruz do Sul, como um dos locais colonizados pelos germânicos, optou por comemorar a chegada daquele povo ao Estado ao invés de comemorar a data em que a cidade passou a ser independente de Rio Pardo. A justificativa é bastante simples: Santa Cruz, afinal de contas, começou com a chegada das famílias alemãs, e não em 28 de setembro de 1878, data em que instalou-se a Câmara Municipal. 
O Dia do Colono foi instituído pela Lei Federal de número 5.496 de 5 de setembro de 1968 e foi assinada pelo então presidente Costa e Silva. A ideia, já na época, era homenagear os primeiros 39 imigrantes alemães que chegaram ao Brasil nessa data, no ano de 1824, desembarcando no Porto de Tebas na Real Feitoria de Linha Cânhamo, onde hoje é a cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. 
Atualmente vivemos tempos em que imigrantes muitas vezes são barrados na entrada de países, por que, então, naquela época o Brasil recebeu tantos deles? O que a história nos diz, é que a realidade do Brasil – e de outros países que receberam imigrantes em séculos passados – era muito diferente. No nosso caso, a colonização foi iniciada pelo próprio governo central em 1822, porque quando foi declarado independente, o país não dispunha de um exército eficaz para a defesa de todo o território nacional, principalmente na região sul, na época subdesenvolvida e muito exposta às investidas espanholas. 
A imigração europeia foi a solução encontrada para mudar esse cenário. Os colonos preencheriam as lacunas e serviriam como exército de reserva. Para que isso funcionasse, o governo investiu em propaganda na Europa, para convencer as pessoas a virem com suas famílias para o Sul do Brasil e ofereceu vantagens nem sempre cumpridas em sua plenitude, como passagens pagas, direito à cidadania, isenção de impostos e direito a posse de uma ou duas colônias de terra o que correspondia a terras de 24 a 48 hectares. 
Como a Europa vivia um período de intensas transformações, onde as condições de vida também não eram as mais favoráveis – especialmente pela exploração motivada pela Revolução Industrial, e pela movimentação de pessoas indo dos campos para as cidades, cada vez mais populosas, mas sem estrutura – muitos acreditaram na promessa de um futuro promissor no sul do Brasil. E assim, no primeiro período da imigração que vai de 1824 a 1830, chegaram a São Leopoldo 5350 imigrantes. Eles ficaram conhecidos como os “Pioneiros do Novo Mundo”
Em Santa Cruz do Sul, a comemoração da data foi proposta pelo vereador Hardi Lúcio Panke e sancionada em agosto de 1993, pelo então prefeito Edmar Hermany. Sua primeira comemoração foi em 25 de julho de 1994 e ela segue sendo uma das principais datas comemorativas do município. 

OUTROS COLONIZADORES
Mas os germânicos não foram os únicos colonizadores. Muito pelo contrário. O Brasil recebeu grupos de pessoas de variados locais do mundo. Os primeiros a vir para cá, por exemplo, foram o portugueses, a partir no final do século 15 e durante o século 16, mas com mais intensidade nos anos de 1700. 
É difícil calcular quantos deles vieram. Numa primeira fase, até 1700, estima-se que foram cerca de 100 mil pessoas. Entre os primeiros portugueses estavam os imigrantes mais abastados que aqui se fixaram principalmente em Pernambuco e na Bahia. Vieram para explorar a produção de açúcar, uma das atividades mais rentáveis no período. Posteriormente, entre os anos de 1760-1791 e 1837-1841 esse número cresceu muito. Em alguns anos, cerca de 10 mil imigrantes podem ter desembarcado no país. 
Também é preciso destacar o grande número de africanos que foram trazidos ao Brasil na condição de escravos. Até o século XIX, por ano, a Bahia importou uma média de cinco a oito mil escravizados, sendo que muitos deles eram da Angola. Estima-se que cerca de 1,7 milhão deles tenham embarcado rumo ao país. Desses, quase 200 mil morreram durante a travessia, dessa forma, 1,5 milhão chegou vivo aqui. Eles não foram imigrantes de forma espontânea, mas ajudaram a construir a cultura do país tal como ela é hoje.

E O DIA DO MOTORISTA?
Além do Dia do Colono, o dia 25 de julho é também o Dia do Motorista. E origem dessa data vem do santo padroeiro desses profissionais, São Cristóvão, que também recebe homenagens em 25 de julho. A data foi estabelecida no Brasil a partir do Decreto nº 63.461, de 21 de outubro de 1968, e passou a ser comemorada a partir de 1969.
Segundo a história religiosa, Cristóvão significa “aquele que carrega Cristo”. Em vida, ele trabalhava transportando pessoas nas costas para que pudessem atravessar um rio. Certa vez, Cristóvão colocou um menino nas costas e a cada passo que dava o seu peso ia aumentando. Cristóvão disse: “Parece que estou carregando o mundo nas costas”, então o menino respondeu: “Tiveste às costas mais que o mundo inteiro. Transportasse o Criador de todas as coisas. Sou Jesus, aquele a quem serves”. 
Assim, São Cristóvão passou a ser conhecido como o protetor e padroeiro dos viajantes e motoristas. E assim é que, comemora-se duas importantes datas no mesmo dia. 

POLÊMICA 
No fim de 2017 uma polêmica envolveu o feriado. O vereador Hildo Ney Caspari propôs que o feriado se tornasse flutuante, ou seja, que quando o dia 25 caísse em uma terça, quarta ou quinta-feira, o feriado fosse transferido para a segunda ou sexta-feira, a fim de fazer feriadão. 
A justificativa do vereador tinha como base o fato de que no interior, muitas festividades acabam acontecendo fora da data por essa ser um dia de semana, e também o prejuízo às empresas locais. O Projeto de Lei, entretanto, foi questionado por historiadores e tradicionalistas – gerando, inclusive manifestações – e acabou sendo vetado pelo Prefeito Telmo Kirst.