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Indústria: apreensões e caminhos para o futuro

A guerra na Ucrânia e a variante Ômicron do coronavírus, que têm causado novas interrupções de produção na China e problemas logísticos, poderão causar uma queda de até 2% no Produto Interno Bruto (PIB) da indústria de transformação em 2022. A estimativa é da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Assim, segue mais um capítulo da desindustrialização brasileira, que chama a atenção de economistas de todo o mundo não apenas pelo tamanho da queda de sua participação no PIB nacional, mas pela velocidade com que ela está ocorrendo.


Ao analisarmos as 30 maiores economias, e que representam 90% da indústria de transformação no mundo, o Brasil se apresenta como o país que mais se desindustrializou nos últimos 48 anos (1970-2017). Coincidentemente, em 2020, o Brasil completou 40 anos de crescimento econômico (PIB) abaixo da média mundial. Ou seja, o nosso pífio crescimento nesse período tem como principal componente a desindustrialização do país.


Em meados da década de 1980, o peso da indústria de transformação no PIB era de 27,3%; baixou para 17,8% em 2004; e caiu de 11,79% em 2019 para 11,30% em 2020. A indústria brasileira, que em 2005 representava 2,5% da indústria mundial, caiu para 1,7%. As causas da desindustrialização já há muito são conhecidas: tributação disfuncional, insegurança jurídica, infraestrutura precária, políticas cambiais equivocadas, financiamento caro e inadequado, protecionismos e incentivos anacrônicos e mal dirigidos, burocracia – aquilo que apelidamos de Custo Brasil – associada a um descaso de governos, e até da própria sociedade, para com a educação básica e profissional técnica de qualidade.


À medida que os países vão crescendo economicamente, a participação do setor de serviços aumenta. O que chama a atenção no Brasil, além da força do agronegócio, que cresceu muito pela sua competência e desenvolvimento tecnológico, é a rapidez da redução da participação da indústria de transformação no PIB, o que nunca houve em país nenhum do planeta. Isso é muito grave.


Países com indústria forte e competitiva (EUA, Alemanha, Coreia do Sul, China, Índia, etc) sempre tiveram políticas públicas específicas para a indústria ou as adotaram nas últimas décadas, que favoreceram sua pujança.


Mesmo com a maior carga tributária de todos os setores da economia, mesmo sendo a maior contribuinte da seguridade social, ainda é a indústria brasileira o setor que mais investe em P&D (inovação), mesmo sendo pouco, e ainda paga os melhores salários.


Santa Cruz do Sul é eminentemente uma cidade industrial. Tanto em questão de impostos, quanto na questão de empregos. Entre as 20 maiores empresas do nosso município pelo critério do Valor Adicionado Fiscal (VAF), duas são do comércio, duas são do segmento de logística e distribuição, e nada menos do que 16 são indústrias. O fato de o município ser um dos maiores PIB do RS é fundamentalmente por causa da indústria. É a maior geradora de impostos e a maior fonte de emprego e renda. Normalmente são as cidades e Estados industrializados que apresentam melhor qualidade de vida e melhor renda per capita.


Para revertermos este quadro da indústria nacional, além de políticas públicas que finalmente ataquem o Custo Brasil, é fundamental estabelecer parcerias e sinergias entre governos, iniciativa privada e academia. Melhorar, e muito, nossas posições vexatórias nos rankings mundiais de inovação e produtividade através da transformação digital, com as tecnologias disruptivas, a indústria 4.0 e a internet das coisas. É fundamental que o setor privado e as instituições abracem a agenda ESG – environmental, social and governance (ambiental, social e governança, em tradução) – e que o setor público e a sociedade encarem a educação de qualidade como prioridade número 1 para formarmos cidadãos e profissionais qualificados.
É fundamental para o futuro do país que a indústria também seja pop e volte a ser forte!

Cesar Antônio Cechinato
Presidente da Associação Comercial e Industrial de Santa Cruz do Sul