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Linha: o primeiro bicampeão do Cinturão

Sérgio Böhm e Guido Warken relembram histórias sobre a competição realizada em 78 e 79

Tiago Mairo Garcia
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Guido Warken e Sérgio Böhn com a faixa que lembra o bicampeonato do Cinturão Verde – Tiago Mairo Garcia

Seminário São João Batista. Fundado em 1º de março de 1968 em Linha Santa Cruz, a instituição religiosa sempre teve o futebol como uma das principais atividades recreativas entre os seminaristas que estudavam no local. Muitos alunos se destacavam na prática da modalidade em jogos e competições internas, mas devido a regras internas rígidas da época, não tinham a oportunidade de mostrar as suas habilidades fora da instituição. Um cenário que passou a mudar a partir de 1978 quando um dos seminaristas se filiou a um dos clubes participantes do Campeonato do Cinturão Verde e abriu portas para que outros internos participassem das equipes nos anos seguintes, fato que acabou aproximando ainda mais os seminaristas internos com as comunidades através do futebol.

O seminarista percursor foi o secretário executivo da Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul e presidente da Federação Gaúcha e Desportiva de Eisstocksport, Sérgio Luiz Bohn, 63 anos. Natural de Venâncio Aires, Sérgio estudava no seminário São João Batista e após se destacar em jogos amistosos pela equipe da instituição contra times da região, foi convidado para atuar pelo Linha Santa Cruz no Campeonato do Cinturão Verde de 1978, mas lembra que a sua participação na equipe no primeiro ano teve algumas restrições. “Na época o seminário era muito fechado para a comunidade onde no máximo a integração dos seminaristas com os moradores ocorria nas missas de domingo. Eu joguei somente umas três partidas daquele campeonato, pois quando tinha jogo aos domingos coincidia com os amistosos do time do seminário e eu não podia sair para jogar fora. A prioridade era o seminário”, lembra Sérgio, que atuava como meia-direita do Linha Santa Cruz.

Entre as três partidas que Sérgio jogou esta a decisão do Cinturão Verde disputada no dia 09 de novembro de 1978. Ele lembra que os padres autorizaram os internos para irem até o Estádio Osvaldo Marx, do Linha Santa Cruz, para assistirem a final entre Linha x Boa Vista. “Como eu tinha ficha, joguei aquele jogo. Linha e Boa Vista era clássico. A final tinha mais de 2 mil pessoas em volta do campo”, lembra. No jogo ocorreu um empate em 2×2 no tempo normal, gols de Alceu Assmann e Valdoci para o Linha e um novo empate em 0x0 na prorrogação, com a decisão indo para os pênaltis.

Sérgio se recorda que marcou um dos gols na série de cobranças alternadas que decretou a vitória por 5×4 e o primeiro título do Linha Santa Cruz nos titulares. O time do Linha, campeão em 78 foi formado com Schilling, Mimi, Astor Inácio Eidt, Pedro Trinks e Rui Trinks, Afonso Marx, (Manoel), Sérgio Luiz Böhm e Chicão. Norberto C. Fritsch, Rogério Franken, (Alceu Zeferino Assmann), Rubem Sulzbacher, (Valdoci) e Marco Hauth, conhecido por Marquinhos. A equipe foi treinada por Gilberto Rabuske. Nos reservas, o Linha Santa Cruz venceu o Boa Vista por 4×0, gols de Augustinho (2), Lúcio e Alírio, sagrando-se campeão da categoria.

Linha Santa Cruz, bicampeão invicto em 79: Mimi, Gaspar, Adroaldo, Darci, Engelberto, Astor, Schilling e Bertilo (técnico). Agachados: Rubem, Alceu, Célio, Elpidio, Sérgio, Chicao, Guido e Altair – Acervo Pessoal/Sérgio Böhm

O bicampeonato invicto em 79

A ida de Sérgio para o Linha Santa Cruz abriu caminho para outros seminaristas defenderem o Linha e outros times do Cinturão Verde a partir de 1979 após os padres enxergarem o futebol como uma forma de integração dos internos do seminário com a comunidade. Seminarista na época, o diretor geral da Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul, Guido Warken, 64 anos, era meia-esquerda e ingressou no Linha Santa Cruz em 1979, atuando como atleta até 1995. Guido foi reconhecido pelo próprio Linha Santa Cruz como o jogador que mais vezes vestiu a camisa da equipe rubro-verde na história, sendo homenageado com uma placa comemorativa pelo clube.

Guido e Sérgio integraram o time do Linha que em 79 marcou época, sendo o primeiro time campeão invicto da competição. Na final, o Linha enfrentou o Vasco da Gama, de Boa Vista, que era estreante no certame. Na final, o Linha Santa Cruz venceu os dois jogos. Na decisão, disputada em Linha Santa Cruz, no dia 25 de janeiro de 1980, o Linha venceu o Vasco por 3×1, gols de Gaspar, Chicão e Valdoci. A campanha invicta da equipe foi construída com 16 vitórias e quatro empates, com 50 gols marcados e 13 gols sofridos, com média de 2,5 gols por partida.

O time do Linha bi-campeão, foi formado com Schilling, Mimi, Adroaldo Assmann, Gaspar Biasibetti e Altair, Engelberto Henn, Sérgio Luiz Böhm e Elpídio Otto Henn, (Auro), Célio Theisen, (Valdoci), Chicão – Norberto C. Fritsch e Guido Warken, (Rogério – Rogério Franken), time treinado por Bertilo Assmann. Nos reservas, o Linha também sagrou-se bicampeão ao vencer o Vasco na decisão ao vencer por 4 x 0, com gols de Lúcio, Ernani, Ildo e Alírio.

Ao lembrar do time bicampeão em 79, os dois ex-jogadores lembram que o time principal contava com mais seminaristas no time que tornaram a equipe forte tecnicamente e unida com a comunidade. “Naquele ano todo mundo queria ganhar do Linha. Era o time mais visado pelos adversários”, lembra Guido. “Era um time com mais seminaristas e se tornou muito sólido, sendo os mesmos jogadores no time o campeonato inteiro”, destaca Sérgio. Os dois ex-atletas também lembram do jogo das faixas do bi, que Guido guarda até hoje, onde o Linha venceu o Guarani, de Venâncio Aires, em amistosos nos titulares e reservas, ambos por 3×1. “Isso demonstra o quanto time do Linha tinha qualidade naquela época”, conta Guido. “Era um time simples que tinha integração com a comunidade”, destaca Sérgio.

O Linha também tinha torcida organizada com charanga formada por grupo de jovens que abrilhantavam os jogos. “Eles nos acompanhavam todos os domingos, sendo um estimulo para todos os jogadores e uma grande festa nas comunidades”, lembra Sérgio. No ano seguinte, os dois jogadores estudavam no seminário em Viamão e vinham aos finais de semana para defender o Linha Santa Cruz no Cinturão Verde. “A gente vinha de ônibus pela manhã e voltava de madrugada. Tínhamos o prazer de fazer isso porque gostávamos do time e pelo vinculo com a comunidade que nos adotou como se fosse um filho”, conta Guido. “Era voluntário e um lazer dominical para nós. Essa ligação durou por muitos anos com o Linha Santa Cruz”, frisou Sérgio.

Sobre o campeonato, os dois ex-atletas salientaram que o Cinturão Verde teve grandes jogadores nas equipes e grandes jogos realizados aos domingos à tarde com expressiva participação do público. “As pessoas vibravam mais porque tinham afinidades com os times”, lembra Guido. “O que ficou foram as grandes amizades que formamos, sendo um período marcante na vida de muitas pessoas. Era uma grande integração e se valorizava a vida comunitária através do esporte”, finalizou Sérgio.