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Picasso e o cubismo

Na metade da primeira década do século XX, o espanhol Pablo Picasso já era um artista bem sucedido aos 24 anos de idade. Morava em Paris, e vários Marchands queriam representá-lo. Havia muitos clientes interessados em seus trabalhos. Obras-primas de Picasso já ficariam marcadas na história da arte. O óleo sobre tela La vie (1903) era um marco do seu período azul. Family of Saltimbanques (1905), outro óleo, este do período rosa. Tudo indicava que Picasso continuaria pintando no mesmo estilo, deixando-se levar pelos ventos que já sopravam a seu favor, o impulsionando ao sucesso. Mas havia algo em Picasso que o inquietava. Queria ir além, ultrapassar as barreiras do lógico, como navegar por mares desconhecidos. Um tipo de impulso desafiador que caracteriza as grandes personalidades da história humana.
Em 1907 Picasso pintou Les desmoiselles d’Avignon, um óleo sobre tela que posteriormente muitos consideraram a mais importante pintura do século XX. Nele, Picasso parece declarar guerra à pintura realística. Estava ali a iniciação do estilo artístico chamado cubismo.
Pelo menos uma de suas biografias cita que após a morte de Picasso foram descobertos 175 cadernos mantidos por ele de 1894 a 1967. Destes cadernos, oito são dedicados aos esboços preliminares de Les desmoiselles. Foi também descoberto um esboço preparatório a óleo. Uma preparação fascinante para um único quadro, o que também aconteceu para outros quadros famosos de Picasso. Ver o quadro Les desmoiselles passa a impressão de que a obra não foi completamente terminada. Na época nenhum outro artista acompanhou seu novo estilo. Acharam louca aquela pintura. Picasso colocou a tela de lado e não a exibiu publicamente por muitos anos. O valor de Les desmoiselles veio a ser reconhecido mais tarde. 
Durante um tempo Picasso teve um amigo e parceiro de pintura, Georges Braque, que o acompanhou na iniciação do movimento cubista. Certa vez Picasso declarou: “quando nós inventamos o cubismo, não tínhamos nenhuma intenção de inventar o cubismo, mas simplesmente de expressar o que estava em nós”.
Em 1927 Picasso conheceu uma mulher em uma livraria parisiense, e ela viria a ser uma de suas grandes paixões. Ela se chamava Marie-Thérèse, e foi inspiração para muitas de suas telas, desenhos e esculturas no período cubista do artista.
Ante aos padrões de estética e estilos do início do século XX, Pablo Picasso revolucionou a arte com criatividade e coragem, característica das pessoas com pensamento inquieto e reflexivo. Arrisco dizer que o cubismo pode ter representado o prenúncio de uma série de movimentos evolutivos sequenciais, que culminariam no abstracionismo. A exemplo do quadro Les desmoiselles, Picasso não tinha a real noção da importância da sua obra naquela época, mas tinha a intenção de expressar o que estava nele, o que sentia. Da mesma forma, Marie-Thérèse não tinha noção de que as telas, desenhos e esculturas nela inspirados seriam, no futuro, apreciados e admirados em tantos museus mundo afora. Isso nos remete à reflexão de que aquilo que fazemos hoje também poderá encontrar eco no tempo. Muitas vezes também não temos noção da importância do que fazemos, ou daquilo que deixamos de fazer. Assim como Picasso, devemos querer expressar o melhor de nós, pela forma que escolhemos fazer. Somos frutos das nossas escolhas.