Débora Dumke – [email protected]
Marli Silveira que é natural de Santa Cruz do Sul foi eleita para a Academia Rio-Grandense de Letras. Sua graduação é no curso de Filosofia e atualmente é doutora nessa área em Educação. Seus estudos continuam com o pós doutorado em Letras pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A autora se considera uma poeta, que possui uma trajetória que de alguma maneira já é reconhecida na região e que gradativamente ocupa seu lugar no Estado. Com isso, também existem muitas críticas dos livros que escreveu, no qual já saíram em alguns veículos de comunicação da capital. Dessa maneira, as obras têm se afirmado, principalmente nos últimos anos, mais especificamente, nos últimos 15 anos. “Isso é uma trajetória, realmente, em que vamos nos afirmando e escrevendo. Existem duas marcas em tudo que eu faço: a poesia e a filosofia”, destacou.
Marli conta que começou a escrever muito jovem, com 16 anos já havia escrito um “livrinho”. “Ao mesmo tempo em que fui consolidando na poesia, escrevendo muitas obras, eu também fui escrevendo muita coisa no campo da Filosofia, ensaios, compondo outros itinerários como obras na área acadêmica, no cruzamento entre filosofia e literatura, contos e outros desdobramentos na educação. No entanto, eu me afirmo na filosofia e da poesia e não saberia dizer se minha poesia tem um tom filosófico ou se minha filosofia tem um tom poético. Penso que tenho uma aderência dentro de uma perspectiva mais absolutista, no campo poético e minha filosofia também tem uma aderência à perspectiva mais fenomenológica e existencial”, informou Marli.
São praticamente 30 livros, entre autorais, coletâneas e em parceria. Marli salienta que já recebeu vários prêmios, já foi Secretária de Cultura, Coordenadora de Cultura, vários conselhos e continuo nas entidades culturais e artísticas, sendo que contribuiu para construir essa trajetória. A poesia é minha formação e meu trabalho. “Hoje eu participo de várias entidades, dentre elas a Academia Rio-Grandense de Letras, mas também temos a Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, que participo desde a fundação e sou uma das sócias-contadoras, há uma participação efetiva na vida artística, cultural e literária da região que vai costurando minha trajetória de poeta, escritora , ensaísta e filósofa.
Prêmio
Na tarde de quinta-feira, 9, o presidente da Academia Rio-Grandense de Letras o escritor Airton Ortiz ligou para Marli. “Isso é um rito, quando os acadêmicos reunidos ali elegem o novo acadêmico da Academia Rio-Grandense de Letras. Eu recebi a notícia com muita alegria e satisfação. Isso é a confirmação, pois quando você faz parte de uma academia e ser eleita é a confirmação de uma obra e de uma trajetória. Isso significa que a minha história representa a história e a literatura do Estado e da região”, contou.
Marli salienta o quão feliz está e o quanto essa eleição representa para a sua vida e para a sua trajetória até aqui, no qual é o reflexo da dedicação e entrega para a literatura. Ela ainda destaca um segundo ponto que é a responsabilidade, pois quando você refere que aquele escritor ou um acadêmico está na maior academia do Estado é evidente que as pessoas esperem que façam por onde. “Porque eu sei que isso marca também a qualificação do ofício, com empenho em representar a literatura do Estado e em respeitar e corresponder aos eleitores que possuem uma vinculação com sua arte. Esses são os dois pontos muito importantes: de um lado é a confirmação de um nome e do outro é a responsabilidade de quem é o acadêmico, ou seja, que a literatura seja importante e que tenha um impacto.
Assim que ela recebe esse reconhecimento, e com um sentimento muito gratificante por ser a primeira mulher da região à assumir uma vaga na Academia Rio-Grandense de Letras. “Que sirva como uma porta aberta e que esse fato também tenha repercussão na vida de tantas escritoras da nossa região. Que essas pessoas também se sintam convidadas a continuar escrevendo. Penso que é uma possibilidade de ensejar motivos e desejos. Quero continuar pensando isso que minha entrada na academia signifique a relevância de uma trajetória e de uma entrega que pode ser reconhecida e que isso sirva de incentivo e possibilidade para que outros se sintam convidados a continuarem. Isso pode ser pensado como uma ponte de aproximação da leitura, qualificação e construção de possibilidades para afirmar e potencializar caminhos de acesso à leitura de livros, que possamos ser vistos como pontes para a aproximação do leitor no acesso ao livro”, destacou.
Obras e livros
Marli Silveira tem cerca de 10 dezenas de livros publicados, dentre eles, livros autorais, parcerias e coletâneas. O grande número de obras é no gênero poesia, mas também em filosofia, ensaios e obras entre lugares – que não estão dentro de um gênero só, mas que repercutem mais gêneros.
No ano passado, lançou o livro “Singularidade Arredia”, livro pela Bestiário, anteriormente “Quantos dias cabe na noite?”, “Daseinspedagogia” – uma obra de filosofia para a educação, “Liberdade rasurada – narrativas de dor e liberdades e “O dia da rua”. Ela contou que praticamente em todos os últimos anos ela tem lançado um livro por ano ou até dois, mas nunca do mesmo gênero.
Em breve será lançado o livro “Cartas de Liberdades”. “Um livro de cartas e esperamos que seja uma obra importante que encontre a seu lugar, terá também, uma antologia da Academia de Santa Cruz do Sul, verberando textos que foram publicados no e-book, e tudo indica que será lançado durante a feira do livro e irei participar de um livro de filosofia, que irei ter participação em um capítulo que reúne diversos autores nacionais e internacionais com o tema da formação humana da educação”, informou.
Importância e significado
“Estar na Academia Rio-Grandense de Letras, que é a academia que representa a literatura do Estado do Rio Grande do Sul é reconhecer a sua importância por representar a literatura do Estado, principalmente para autores que falariam do interior do Rio Grande do Sul. A nossa região passa a ter a primeira mulher, mas tem outros autores, e temos mais dois outros nomes que são da região ou que moraram que é o caso de Airton Ortiz e Nilson May”, ressaltou Marli.
A escritora e poeta ressalta que a importância é impar. “Ela confirma uma trajetória, uma obra e repercute e acaba me colocando em uma posição que não me incomoda, muito pelo contrário porque todo escritor que quer buscar o seu lugar, encontrar o tom e quer ter a sua obra lida. Um autor que seja chamado para participar de eventos é alguém que é lido nas escolas e universidades, que busca a sua singularidade, seu jeito e sua maneira. Não é estranho esse compromisso para mim, de que agora as pessoas passam a enxergar a minha obra e demandar que eu sempre continue com uma qualidade e a altura integrada a academia. É o compromisso de realizar uma literatura sempre comprometida com a qualidade, público leitor e com as pessoas que nos acompanham. Eu me sinto feliz e encorajada a continuar”, destacou.
É necessário ressaltar que em um país como o Brasil, que não necessariamente tenha uma parcela significativa de quem lê uma literatura mais ampliada, pois a maior parte das pessoas que leem optam apenas por um gênero específico. Na nossa sociedade é importante criar essa ponte e aproximações entre o publico leitor de literatura, com essa proximidade de eu também ser a região. “Espero que isso seja possibilidade. Possibilidade para quem escreve, lê e para quem faz outras atividades dentro do campo da arte. Que seja possibilidade para nossa região, para as mulheres, acho que é isso que eu tenho pensado como importante”, salientou.
Marli finaliza reconhecendo o papel dos leitores, familiares, amigos, pessoas as quais conviveu e que animam a sua vida e a sua trajetória. O quanto ela é grata a tudo isso. O quanto um escritor ou uma escritora vai se constituindo nesta ousadia do encontro, são os encontros que vão tornando possível que a obra tenha vinculação e aproximação com os leitores e com as pessoas que seguem nesta caminhada. “Sou grata a tudo isso, pois todas elas ajudam a consagrar a minha trajetória para a minha obra”, concluiu.