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Técnica em Enfermagem conta como é trabalhar como voluntária durante pandemia

Conheça uma das profissionais que se voluntariou pela saúde dos santa-cruzenses

Grasiel Grasel
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Suzana: “A gente vai fazer de tudo para salvar todos” – Crédito: Grasiel Grasel

É provável que em nenhum outro momento valorizamos tanto o trabalho dos profissionais da saúde quanto nos que mais precisamos deles. Enquanto uma pandemia assola o mundo e provoca efeitos que poderão nos acompanhar ao longo dos próximos anos, estes verdadeiros heróis, que ao invés de capas usam seus jalecos brancos, estão na linha de frente, salvando o maior número de vidas que podem. Por mais que a área já seja nobre, existem ainda os que decidem se oferecer voluntariamente para ajudar.

Em Santa Cruz do Sul, um verdadeiro esforço de guerra foi levantado para que um ambulatório de campanha fosse instalado no prédio do ginásio Poliesportivo, o “Arnão”, que está em operação desde o dia 23 de março. No local, além dos funcionários ligados à Secretaria de Saúde, estão também os voluntários que decidiram aderir ao cadastro da prefeitura que visa garantir uma reserva de profissionais caso os servidores sejam infectados ou precisem se ausentar. Entre eles, alguns enfermeiros e técnicos em enfermagem já estão atuando, como é o caso da jovem Suzana Alves de Brito, de 27 anos.

Natural de Cachoeira do Sul, a jovem se formou como técnica em enfermagem em agosto de 2013 e já tem mais de cinco anos de experiência na área, atuando em redes hospitalares. Desde o primeiro chamado da Secretaria de Saúde, ocorrido logo no segundo dia de funcionamento do ambulatório, ela vem trabalhando na triagem e acompanhamento de pacientes, mantendo os enfermeiros e médicos informados sobre a situação de quem chega ao Poliesportivo. Para entender um pouco melhor o trabalho que Suzana vem desempenhando, o Riovale Jornal conversou com ela.

Jovem conta como é estar na linha de frente do combate à Covid-19 – Crédito: Grasiel Grasel

Riovale Jornal – Como você vê o seu emocional e o dos seus colegas do ambulatório? Existe alguma apreensão por uma eclosão de casos repentinos?
Suzana Alves de Brito –
Nós recebemos treinamento e estamos preparados, o que ajuda no psicológico. Não dá tempo de pensar nisso, mas no momento estamos tranquilos, fazendo tudo o que a gente pode e cuidando cada detalhe no atendimento do paciente. Caso a situação se torne um caos, com certeza isso vai atingir o emocional de alguém, mas nós estamos ali nos apoiando, somos uma equipe e precisamos uns dos outros.

RJ – Como você vê o trabalho que a prefeitura vem fazendo no ambulatório?
Suzana –
Na primeira vez que cheguei aqui como voluntária, logo no segundo dia depois da abertura do ambulatório, a enfermeira responsável nos recebeu e nos mostrou como estava a montagem do lugar, o que eles já tinham feito até o momento e disse que estavam aceitando ideias. Quando eu entrei, eu não acreditei. Era muito bem organizado, eles pensaram em tudo! Pensaram no bem-estar do paciente desde o momento em que ele chega e sempre estão mudando algo para acrescentar ou agilizar o atendimento. Eles (da prefeitura) estão de parabéns. Eu tenho orgulho de fazer parte dessa equipe, são todos bem preparados, profissionais qualificados.

RJ – Enquanto profissional da saúde que está na linha de frente, como você vê a ideia de muitos que querem retomar a rotina normal?
Suzana –
Fico um pouco desanimada quando vejo que as pessoas não estão se prevenindo ou tendo os cuidados básicos. Entendo que muitas pessoas precisam trabalhar, que é difícil ficar em casa sem ter uma vida social, mas é melhor que perder a vida… Eu achava que, a partir do momento que tivesse o primeiro caso confirmado aqui em Santa Cruz, as pessoas iriam se cuidar ao máximo possível, mas elas se cuidaram mais antes, quando não tinha nenhum caso, do que agora que tem. Eu não entendo.
Todas as informações sobre os cuidados, quarentena e isolamento estão aí, mas às vezes quando saio do trabalho vejo movimento intenso na rua e filas. A escolha é de cada um, mas eu fico um pouco desanimada com isso, porque nós não estamos livres de contrair a doença.

RJ – O que você sente quando vê que profissionais da saúde estão tendo que escolher os pacientes que vão sobreviver em países como na Itália e na Espanha?
Suzana –
Deve ser uma decisão muito tensa e muito forte para o psicológico do profissional. Aqui quem determina isso são os médicos, mas caso eu veja isso acontecer, eu vou ter que focar nos que mais precisam da minha ajuda, porque eu não consigo salvar ninguém sozinha.
O objetivo nosso é cuidar de todos e dar atenção para todos os detalhes, para não chegar a um estado crítico, em que a gente precisaria tomar essa decisão. A gente vai fazer de tudo para que não chegue a isso.

RJ – Alguns grupos têm disseminado campanhas contra o voluntariado no ambulatório. Qual é a sua opinião sobre isso?
Suzana –
Ainda não vi nenhuma campanha assim, mas sei que alguns que não gostam da ideia de trabalhar no hospital e ser voluntário aqui, porque tu está se expondo lá e se expondo aqui.
Cuidamos uns dos outros e Deus cuida de todos. Aqui ainda tem o pessoal da prefeitura que atende, mas se a maioria pega o novo coronavírus, é preciso ter os reservas, que seriam os voluntários. É por isso que eles fazem tantos treinamentos conosco.

RJ – Por que você decidiu se voluntariar e o que te faz querer voltar ao ambulatório mais um dia?
Suzana –
O que me fez querer ser voluntária foi o meu juramento que fiz no dia da formatura, que diz que devo dedicar minha vida profissional a serviço da humanidade, respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana.
Tem uma frase da Florence Nightingale, pioneira da enfermagem moderna, que também gosto muito. Ela diz que escolheu servir ao próximo porque sabia que todos nós um dia precisamos de ajuda e que escolheu ser enfermeira porque ama e respeita a vida.

RJ – Se pudesse mandar uma mensagem para todas as pessoas que estão se cuidando, o que você falaria? E o que falaria para os que não estão se prevenindo?
Suzana – Não
somos só nós, profissionais da saúde, que merecemos aplausos como as pessoas têm feito pelo Brasil. Todos que estão em casa e deixaram de trabalhar para cuidar de si e do próximo também merecem.
Para os que não estão se prevenindo, eu acho que eles poderiam pelo menos se proteger com álcool gel e máscara. Como a doença é assintomática, as pessoas não sabem se estão com o vírus, então é importante usar a máscara para não contaminar ninguém. Eu sei que deve ser ruim ter que ficar em casa, mas se saírem, pelo menos usem a máscara.

TEMPO DE AGRADECER

Atualmente a prefeitura conta com 457 pessoas inscritas no cadastro de voluntários para atuarem no combate ao novo coronavírus. Destas, 157 são da área da saúde, sendo 104 técnicos em enfermagem, 44 enfermeiros e nove médicos. Caso você, leitor, queira somar esforços se voluntariando, basta acessar o site da prefeitura pelo link “bit.ly/VoluntariosSCS”.

Atendendo ao pedido de Suzana, que no ápice de sua bondade e empatia pede para que não apenas o trabalho dos voluntários, mas de toda a equipe do ambulatório seja reconhecido, o Riovale Jornal estende o agradecimento a estes profissionais que estão na linha de frente do combate à Covid-19, arriscando sua saúde pela nossa.