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Troca de afeto entre mãe e bebê

Pediatra e mãe, Jenifer Grotto ressalta a importância do aleitamento materno no vínculo com o recém-nascido

Jenifer ao lado do marido e da filha Manu (num momento de vínculo afetivo ao mamar) – Foto: Divulgação)

Luciana Mandler
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Mais do que um vínculo de amor e afeto, a amamentação proporciona inúmeros benefícios para o bebê. Nas primeiras horas após o parto, é importante tanto para mãe quanto ao recém-nascido. Diminui o risco de doenças crônicas e alguns tipos de tumores para a genitora, ajuda a reduzir o peso adquirido na gestação e os sangramentos pós-parto.

“Para o bebê, traz proteção contra diversas doenças, transmite fatores imunológicos prontos para a criança, além de ser nutricionalmente o alimento feito para atender exclusivamente as necessidades desse bebê”, esclarece a médica pediatra Jenifer Grotto. E ainda, não menos importante, fortalece o vínculo da mãe com o bebê.

A recomendação é que nos primeiros seis meses de vida o aleitamento deva ocorrer de forma exclusiva. E, mesmo após a introdução alimentar de sólidos, siga amamentando até, pelo menos, os dois anos. É no leito materno que a criança encontra não só as substâncias necessárias para sua nutrição como também anticorpos fundamentais para protegê-la no início da vida.

A fim de esclarecer e conscientizar a população sobre a importância da amamentação, foi criado o movimento Agosto Dourado. Durante todo este mês ocorre a Campanha Nacional de Aleitamento Materno. Neste ano, o lema é “Fortalecer a Amamentação: Educando e Apoiando”, focando nos pais e também nos trabalhadores da saúde, tendo em vista o importante papel que desempenham na orientação sobre dúvidas recorrentes no momento inicial da aleitação.

Além de médica pediatra, Jenifer é mãe da pequena Manuela, de um ano e um mês. Para ela, o Agosto Dourado é importante para reforçar a relevância do aleitamento materno e apoiar as mães que estão nesse processo. “Também é um momento de desmitificar a amamentação. Hoje em dia muitas pessoas ainda acham inadequado amamentar em público, quando, na verdade, é atenção às necessidades básicas de um bebê. Qual mal há nisso?”, indaga. “O Agosto Dourado é conscientização, é apoio, é amparo a quem amamenta. Como não apoiar uma causa tão nobre?”, reflete.

Para a maioria das mães, os primeiros dias de aleitamento não são fáceis, mas, com persistência, paciência e amor, o processo acontece normalmente. Jenifer, por exemplo, começou a amamentar a Manu na primeira hora de vida. Isso foi possível graças ao comprometimento da equipe que prestou o atendimento no nascimento.
“A Manu foi mantida em contato pele a pele durante todo o tempo que tivemos na sala de parto, foi amamentada logo que nasceu”, recorda. “Ela pegou logo o seio, fez a pega correta, mas mesmo assim amamentar foi um processo complexo. Nos primeiros dias tive dor, desconforto no mamilo. Também na primeira semana tive um fluxo aumentado de leite, o que também causava dor. Mas, com o passar dos dias e adaptação do meu corpo, tudo foi fluindo e melhorando.”

Assim, a pequena Manu seguiu em aleitamento materno exclusivo até os seis meses. “Hoje, com um ano e um mês, sigo amamentando junto com alimentação complementar”, revela Jenifer. A pediatra tem a intenção de fazer um desmame gentil, respeitando o tempo da filha. “Gostaria de manter pelo menos até ela completar dois anos”, afirma. Ela observa ainda que uma das maiores queixas recebidas em seu consultório é referente à falta de apoio.

“Muitas mães me falam que amamentar é mais desafiador do que o parto, até porque depende de uma série de fatores. Depende de bem-estar físico e emocional da mãe, de tolerância e, principalmente, de rede de apoio. Muitas mães não se sentem apoiadas nesse momento inicial e crítico da amamentação”, aponta. “Alguns familiares, ao invés de dar apoio e reforço positivo, muitas vezes insistem em mamadeiras e bicos, o que pode atrapalhar ainda mais esse processo. O apoio às mães é fundamental para que a amamentação tenha sucesso”, enfatiza a pediatra.

UM VÍNCULO DE AMOR

Mais do que um momento de nutrir o bebê, a amamentação é um momento de troca de afeto, que, segundo Jenifer, é maravilhoso. “Por mais que no início seja doloroso, que seja cansativo (mesmo quando o bebê já está maior), há uma recompensa muito grande nesta troca de afeto. São momentos da mãe e da criança, momentos que a gente simplesmente está ali uma para a outra. Até hoje, os momentos de amamentação da minha filha são momentos de troca de afeto, coisas que não tem preço”, sublinha.

Para as mamães de primeira viagem ou até mesmo àquelas que já têm experiência, Jenifer Grotto orienta, primeiro de tudo, a persistir na amamentação. “Uma das coisas que costumo dizer é que subir uma montanha é algo que traz dificuldades e dor, mas a vista que tu tens de lá de cima compensa. Amamentar no início é isso, é tolerar essas dificuldades iniciais para aproveitar depois todos os benefícios que traz”, pondera.

Outro ensinamento é buscar ajuda diante das dificuldades, quando isso for possível. “Nós, como pediatras, temos um papel importante neste momento, de avaliar, traçar estratégias para melhorar. Também há profissionais que atuam especificamente em consultoria de amamentação e fazem um trabalho impecável”, frisa Jenifer.

Aleitamento: alimentação, vínculo, proteção e carinho

Para a securitária Rafaela Landesvatter, amamentar foi e é prazeroso, um momento de conexão

Rafaela amamentando Edu, de nove meses, ao lado da filha Isadora, de sete anos (Foto: Arquivo Pessoal)

Após o nascimento, já nas primeiras horas de vida do bebê, a mamãe desempenha importante papel: o de amamentar. Inicialmente, não é tarefa fácil. Mas, com o tempo, se torna prazeroso e um momento de aproximação mais íntima entre mãe e recém-nascido. A securitária Rafaela Moser Landesvatter, de 32 anos, garante: o aleitamento materno é fundamental no desenvolvimento do bebê e na ligação com o filho. “Vai muito além da alimentação, é vínculo, é afeto, proteção, troca e carinho”, define.

Para ela, existem particularidades e sentimentos diferentes de uma mãe para outra. Por isso, é totalmente a favor que esse processo seja agradável e não imposto. “No meu caso, foi e é muito prazeroso, sinto que nos conectamos ainda mais. Sentir a mãozinha me tocando e os olhares trocados durante as mamadas é divino”, orgulha-se. “E, além de tudo isso, é o momento em que desacelero da rotina diária e relaxo.”

Rafaela é mãe da Isadora Landesvatter Fagundes, de sete anos, e do bebê Edu Landesvatter Rieger, de nove meses. A secretária lembra que amamentou a filha mais velha de forma exclusiva até os seis meses e complementando a alimentação até o 13º mês. Com o pequeno Edu parece que a história se repetirá. Ela o amamentou exclusivamente até os cinco meses e meio e mantém o procedimento com complemento alimentar.

No caso da filha, Rafaela conta que parou o aleitamento quando Isadora foi diagnosticada com alergia à proteína do leite. “Devido ao que eu comia, estava prejudicando-a, então resolvi parar. Mas amamentei bastante, pois não estava trabalhando na época”, recorda. “Com ele (Edu), a amamentação foi exclusiva até os cinco meses e meio devido à minha volta ao trabalho. Tive que introduzir a alimentação 15 dias antes dos seis meses para que ele pudesse ir se acostumando, em complemento à amamentação, para poder diminuir as mamadas diurnas”, explica. Atualmente, ela amamenta pela manhã, antes de ir trabalhar; no intervalo de almoço; à tardinha, quando chega em casa, à noite e na madrugada. Ou seja, livre demanda.

Com as duas crianças, o aleitamento materno foi tranquilo, garante Rafaela. “Foi muito fácil. Desde o nosso primeiro contato já houve uma ótima pega. Os dois começaram a mamar no instante em que foram colocados junto a mim”, lembra. “Edu sempre mamou muito bem, engordando além do esperado a cada mês”, revela. Porém, ele passou a emagrecer quando começou a comer. “Demoramos dois meses para conseguir introduzir de fato a alimentação. E, devido à baixa quantidade de amamentação em comparação ao que mamava antes e por não estar conseguindo comer, perdeu bastante peso”, explica.

Rafaela reforçou que com Isadora amamentou até onde pôde. Com Edu, por sua vontade, amamentaria até quando ele quisesse. “No entanto, percebo que, pela diminuição de mamadas no dia, meu peito já não produz leite como antes e temo que logo não irei mais produzir”, lamenta.