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Turismo pra quem não tem nem mar nem neve

Lendo “O Homem que Comeu de Tudo” do crítico gastronômico da Revista Vogue norte-americana, dei-me conta que é possível, mesmo que não se tenha mar para o verão ou neve abundante no inverno, fazer com que se atraia turistas para algum lugar por características peculiares daquela localidade. Jeffrey Steingarten é especialista em comida. Para escrever sobre o assunto, viaja o mundo todo em busca de novidades, tradição, sofisticação, racionalidade e identidade dos pratos que comenta. Para quem costuma viajar para outros países, recomendo a leitura desse raro, irônico e divertido livro que é encontrado por R$ 74,90 na Companhia das Letras.

O tema é alucinante e sempre atual. Comida é turismo, cultura, lucro.

Aqui em Santa Cruz, onde de fato temos bons restaurantes conhecidos e de várias especialidades, não tem (ou não conheço), nenhum especializado em comida alemã à exceção das nossas tradicionais cucas e isso só corrobora com o que penso. A Festa das Cucas é referência em atração de pessoas de outros lugares e daqui mesmo para provar essas doces delícias. Mas deveríamos ter mais, muito mais. Mas por que não tornar isso atração o ano todo?

De maneira alguma tenho a pretensão de tratar deste assunto como sendo eu o dono da verdade. Pelo contrário, gostaria de uma discussão ampla, democrática e distinta, com a intenção de criarmos por aqui um turismo gastronômico permanente e não somente na Oktoberfest ou na já lembrada Festa das Cucas, quando vemos incipientemente um joelho de porco bem feito concorrendo com pastéis, xis, pizzas e algodão doce de sobremesa.

Pela vocação da festa alemã de Munique, o carro-chefe é a cerveja e a comida típica. Cerveja temos com produções maravilhosas para todos os gostos e bolsos, mas comida alemã, não. Falta-nos por algum motivo, ampliar a discussão deste tema com afinco e, nisto, talvez, a Associação das Entidades Empresariais (Assemp) junto com a Secretaria de Turismo e a Secretaria de Cultura possa contribuir com cursos, debates e até auxílio financeiro para instalar uns vários restaurantes com essa finalidade.

O ponto de partida é a Bierhaus no Parque da Oktoberfest. Ali dá para instalar um verdadeiro restaurante germânico aberto para o púbico durante todos os dias do ano, servindo eissbein, kassler, chucrute, costeletas de porco, tudo com sofisticação, ótimo atendimento e preço justo.

Claro que nada cai do céu e investimentos precisam ser feitos. O mais “caro” é o do conhecimento. Para o leitor ter uma ideia, lendo o livro mencionado no primeiro parágrafo, tive uma grande vontade de fazer chucrute (várias receitas) em conserva e vender por aí. É possível e é inédito para nossa região que só produz, mas poucos sabem onde encontrar chucrutes artesanais. Isso precisa ser mostrado, valorizado, divulgado.

A região tem propriedades onde a criação de porcos é feita com muito esmero. A região tem na agricultura familiar produção de hortifrútis de qualidade. É preciso criar patos, marrecos, rãs, sim, mas temos como iniciar e irmos aperfeiçoando. A região é riquíssima em vontade de trabalhar. Unindo essas vocações à produção de comida, aceleraremos uma cadeia fantástica, favorecendo a rede hoteleira, comércio, o que já temos de pronto e despertaremos os olhares de muitos curiosos, mas também de quem quer provar, gostar e continuar aproveitando.

Digamos que este devaneio se vista de realidade para se produzir campanhas publicitárias nas redes sociais e veículos de comunicação com a finalidade de instigar que pessoas venham até nós para viver esse prazer. Comer é uma arte.

Em uma passagem do livro, Jeffrey diz que Nova Iorque não sabe cuidar de sua culinária, pois oferece franquias que podem ser encontradas em qualquer shopping em qualquer lugar do planeta. Nós, que não estamos em Nova Iorque, temos McDonald’s, Subway, hot dogs, hamburguerias e não temos a nossa “chucruteria”. Será que somos mesmos exportadores de turistas e não conseguimos atrair para cá os viajantes curiosos?