
GrasielGrasel
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Em uma noite histórica, Hollywood quebrou de vez um dos maiores tabus do Oscar. Por muitos anos a Academia foi criticada por não premiar produções estrangeiras, saindo do eixo de países de língua inglesa. No entanto, a maestria do cineasta sul-coreano Bong Joon-ho, diretor do longa “Parasita”, foi mais forte que essa sina. Na noite da cerimônia de premiação, ocorrida no domingo, dia 9, no Teatro Dolby, salão no distrito de Hollywood, em Los Angeles, o asiático levou para casa nada menos do que 4 estatuetas.
Aclamado em outras premiações, como no prestigiado Festival de Cannes, “Parasita” vinha sendo reconhecido como potencial vencedor do Oscar de Melhor Filme, mas com a ressalva da Academia costumeiramente valorizar mais as produções de Hollywood. Porém, no desenrolar da premiação, depois de vencer os prêmios de “Melhor Filme Estrangeiro”, “Melhor Roteiro Original” e, principalmente, de “Melhor Diretor”, acabou ficando mais claro que o longa poderia levar o prêmio máximo da noite.
No filme, BongJoon-hoconta a história de uma família pobre, que vive em um porão, mas que aproveita uma oportunidade para se “infiltrar” em uma casa de família abastada como funcionários, onde se aproveitam da ingenuidade de seus empregadores. Visto por esta perspectiva, o leitor pode entender que o “parasita” é a família pobre, se aproveitando da vida de luxo de seus patrões, mas o diretor sul-coreano faz questão de desenhar outra história, que tem um desfecho impressionante.
O azarão da noite, 1917, era cotado para ser o provável grande vencedor da noite, pois foi indicado em 11 premiações. O longa dirigido por Sam Mendes conta a história de dois mensageiros que recebem a missão de entregar uma ordem que pode salvar milhares de soldados. Seu grande trunfo é a técnica, pois todas as cenas são exibidas “sem cortes”, fazendo com que o espectador se sinta quase que como um personagem que está junto dos protagonistas. O filme acabou recebendo apenas os prêmios de “Melhor mixagem de som”, “Melhor fotografia” e “Melhores efeitos visuais”.

Mais espaço para o cinema estrangeiro?
Professor do curso de Realização Audiovisual da Unisinos e pós-doutor em cinema coreano pela Universidade de Sorbonne, na França, Josmar de Oliveira Reyes acredita que o tom mais acessível do filme para o público geral, misturando aspectos de diferentes gêneros como o humor e o terror, foi o que levou Parasita à vitória. “Ele tem um trânsito inteligente entre o cinema mais comercial, mais popular, e os filmes de maior profundidade, de excelência cinematográfica, aí que está a genialidade do BongJoon-ho”, explica.
Para Reyes, o histórico do sul-coreano também foi de muita importância, pois produções anteriores como “O Hospedeiro”, “Expresso do Amanhã” e “Okja” aproximaram Joon-ho da indústria norte-americana. Embora sejam filmes populares, que tiveram uma aceitação considerável do público geral, em todos os casos eles carregavam mensagens importantes que o cineasta buscava passar.
Sobre a possibilidade de vermos mais filmes estrangeiros sendo prestigiados no Oscar, no entanto, o professor não vê esta como uma grande possibilidade. “Isso (a vitória de Parasita) pode despertar um interesse em uma filmografia internacional, que não seja americana, de ‘blockbuster’, mas as coisas não mudam assim rapidamente”, conclui. Para ele, a mudança completa depende muito de uma questão educacional dos próprios consumidores de cinema, que precisam perder preconceitos sobre filmes que não vêm de Hollywood.
Vencedores das principais categorias
Melhor Diretor – BongJoon-ho – Parasita. A direção do sul-coreano em “Parasita” é primorosa, especialmente nas escolhas estratégicas que levam a história do filme a desfechos inesperados. A forma como a mensagem que o cineasta busca passar é retratada na tela, através da estética e direção de atores, é realmente digna de premiação nesta categoria.
Melhor Ator – Joaquin Phoenix – Coringa. Joaquin Phoenix vinha sendo cotado como o favorito nesta categoria desde o momento em que foi anunciado como concorrente. Foi sua atuação um dos principais motivos para Coringa ter recebido o Leão de Ouro, maior prêmio do Festival de Cinema de Veneza. Ele encarna muito bem uma versão mais próxima da realidade de um dos principais vilões dos quadrinhos, trazendo uma profundidade nunca vista para o personagem.
Melhor Atriz – Renée Zellweger – Judy: Muito Além do Arco-Íris. Depois de passar muitos anos longe do tapete vermelho, Renée Zellweger interpreta a atriz e cantora Judy Garland, conhecida por sua atuação em “O Mágico de Oz”. Zellweger incorpora muito bem a personagem, que vive uma grave crise emocional nos últimos momentos de sua vida
Não deu para o Brasil
A brasileira Petra Costa acabou não vencendo o Oscar de Melhor Documentário por “Democracia em Vertigem”. Esta foi a sétima oportunidade que o Brasil teve de levar sua primeira estatueta de Hollywood, mas a academia optou por premiar “Indústria Americana”, longa que mostra a chegada de uma fábrica chinesa nos Estados Unidos, a qual sofre dificuldades para prosperar pelas diferenças no mercado de trabalho dos dois países.














