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Meu jubileu

Dom Sinésio Bohn *

Fiquei muito surpreso quando Dom Dadeus Grings, Arcebispo de Porto Alegre, me convidou para celebrar com ele, na Catedral de Porto Alegre, nosso jubileu de ordenação sacerdotal. Foi cinquenta anos atrás, no dia 23 de dezembro de 1961, na Igreja Sagrado Coração de Jesus, na Via Aurélia Nova, em Roma.
Minha Primeira Missa foi no altar da manjedoura na Basílica de Santa Maria Maior.
Santa Helena, mãe do imperador Constantino foi à Terra Santa e trouxe para Roma a Manjedoura de Belém.
Foi emocionante. Desde aquele dia nunca deixei de celebrar, a não ser em viagem ou quando doente.
A celebração jubilar contou com a presença de muitos padres da Arquidiocese de Porto Alegre e vários bispos, entre os quais Dom Canísio Klaus, meu sucessor na Diocese de Santa Cruz do Sul.
Lembrei-me de minha família, dos meus pais e dos nove irmãos. Lembrei-me da oração do terço, à noite, durante o qual os pequenos dormiam e eram levados para a cama sem acordar.
Minha avó paterna costumava dizer: “Vale a pena gastar a sola dos sapatos para assistir uma primeira Missa”.
A idéia de ser padre veio-me depois da primeira Comunhão. Falei para Jesus: Eu vou ser padre! Só entrei em dúvida quando notei que a menina do vizinho olhava diferente para mim e gostava da minha presença.
Certo dia eu disse para mim mesmo: a vizinha é bonita e querida, mas ser padre é mais bonito. E nunca mais duvidei.
Aliás, durante a viagem para Roma, um grupo de passageiros costumava reunir-se no convés do navio para conversar, tomar bebidas alcoólicas e comer sorvete. Costumavam convidar-me para a roda. Insistiam comigo para não ser padre, mas assumir uma profissão lucrativa. Certo dia veio uma tempestade, que jogava o navio como uma caixinha de fósforo. Passada a tempestade, quem podia refugiava-se dentro do navio. Veio uma onda atrasada, jogou todo mundo num monte, para desespero dos passageiros. Quando vi, corri para ajudar as pessoas desesperadas. Naquela tarde, o grupo me convidou. Ganhei porção dupla de sorvete e me disseram: “Tu vai ser padre, pois tu, em vez de fugir, vieste em socorro de todos”.
Fiz parte da primeira turma de alunos do Seminário de Bom Princípio, em 1948. O Seminário São José de Gravataí deixou saudades. Foi de lá que Dom Dadeus e eu fomos enviados para Roma, onde fizemos os estudos de Filosofia, Teologia e Direito Canônico. De volta ao Brasil, fui Vigário Paroquial na Paróquia São Jorge, no bairro Partenon. Depois, na Paróquia São Pedro, no bairro Floresta, e de lá fui ao Seminário de Viamão. Acompanhei 83 padres até o altar e 64 seminaristas, nos diversos graus de formação.
Mesmo resistindo muito ao convite de ser bispo, acabei aceitando sob a insistência do Núncio Apostólico. Tinha feito a promessa de nunca dizer não à Igreja. Fui Bispo Auxiliar de Brasília, Bispo de Novo Hamburgo e o 2º Bispo de Santa Cruz do Sul. Agora estou treinando ser Bispo Emérito e celebro 50 anos de ministério sacerdotal, minha vocação desde criança.
Agradeço a Deus e quantos me ajudaram a viver a vocação de servir. É assim que sou feliz.

 * Bispo Emérito de Santa Cruz do Sul