Início Geral Amamentação: momento de nutrir e conectar mamãe e bebê

Amamentação: momento de nutrir e conectar mamãe e bebê

“Nem sempre essa vivência é fácil, porém, com persistência é possível torná-la tranquila e prazerosa”. É o que afirma Angélica, mãe da pequena Clara

Luciana Mandler
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A amamentação é a principal forma de fornecer ao bebê os nutrientes necessários para sua sobrevivência e seu desenvolvimento, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). A recomendação é que nos primeiros seis meses de vida deva ocorrer o aleitamento materno exclusivo. É no leite materno que a criança encontra, não só as substâncias necessárias para sua nutrição, mas também, anticorpos fundamentais para protegê-la no início da vida.

A fim de promover o aleitamento materno e a criação de bancos de leite, garantindo assim melhor qualidade de vida para as crianças, é que foi criado o Dia Mundial da Amamentação, celebrado em 1º de agosto, ou seja, neste domingo. A data foi criada pela Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação (World Alliance for Breastfeeding Action – WABA), sendo comemorada dentro da Semana Mundial de Aleitamento Materno, que ocorre em diversos países anualmente entre os dias 1º e 7 de agosto.

Mais do que nutrir, a amamentação proporciona para mãe e bebê um momento de maior vínculo. Para a mamãe da pequena Clara Jappe Mallmann – que irá completar oito meses neste dia 1º de agosto -, Angélica De Cesaro Jappe, o aleitamento materno sempre foi algo importante, mesmo antes de engravidar da filha. “Acredito que o ato de amamentar é muito mais do que nutrir um bebê, mas um momento de conexão, carinho e amor entre mãe e filho”, afirma.

Apesar do início da amamentação ter sido muito difícil, Angélica não desistiu do ato. Pelo contrário, com muito apoio do marido Fernando Mallmann e acompanhamento da pediatra e doula, mãe e filha se mantiveram firmes na tentativa de que desse certo. “Demorou um mês até nos acertarmos e a amamentação se tornar algo prazeroso e satisfatório”, recorda.

A mamãe de Clara conta que logo que a pequena nasceu, ainda no hospital, a enfermeira trouxe-a para mamar, e ela logo pegou o peito, porém, Angélica deu um grito de dor. “Infelizmente não tivemos a Golden Hour, em virtude de algumas complicações do nascimento. A Clara não nasceu chorando como a maioria dos bebês e a pediatra precisou examiná-la e garantir que estivesse tudo bem com ela. Nosso parto foi demorado”, lembra. “A pediatra e a doula que nos acompanharam durante o parto estavam junto e aparentemente a Clara estava mamando da maneira correta, mas não. Ela logo machucou o meu seio”, acrescenta.

Demorou algumas semanas para sarar e parar de doer, segundo Angélica, e enquanto isso era preciso continuar amamentando. “O início é difícil, dolorido, sofrido até, pois o nosso corpo passa por muitas mudanças e precisamos nos adaptar (adaptar ao corpo, à nova rotina, à falta de sono, ao puerpério, ao baby blues) e ao mesmo tempo atender aquele bebezinho que precisa tanto da nossa atenção e cuidados”, reflete. “Posso dizer que o maior desafio é não desistir”, destaca. “A amamentação sempre foi algo importante para mim e por isso eu não desisti”, frisa.

“O início não é fácil, mas buscamos auxílio de profissionais que pudessem nos ajudar. Além da doula, Micheli Pommerehn, que esteve nos acompanhando durante a gestação, parto e pós-parto, também contamos com a consultoria das meninas da Maternagem, a Ingre e a Maitê”, relembra. “Elas prestam consultoria em amamentação e fazem a aplicação de laserterapia, para ajudar a sarar mais rápido os machucados nos seios, decorrentes de uma ‘pega incorreta’”, esclarece.

“O Fernando sempre esteve ao meu lado, me apoiando e também auxiliando no processo da amamentação. Ele não me deixou desistir, sempre muito atencioso, me traz água (pois sim, a gente sente muita cede amamentando) e comida. Ele também ajudava com a Clara, principalmente quando ela era bem pequena. De madrugada, quando a Clara acordava para mamar, ele ficava com ela, enquanto eu precisava tirar um pouco de leite e preparar a mama para poder amamentar, pois quando a mama está muito cheia (e de madrugada é quando o nosso corpo produz mais leite), fica mais difícil para o bebê conseguir fazer a pega correta. (Isso acontece até o nosso corpo se acostumar ao ritmo do bebê. No início a gente produz mais leite, mas depois a produção se regula de acordo com a demanda do bebê)”, aponta.

A persistência resultou em mamadas tranquilas e uma conexão que só Angélica e Clara têm. “A Clara está completando oito meses, neste dia 1º de agosto, e continuar amamentando-a, para mim, é uma grande conquista”, alegra-se. “Sei que o tempo mínimo indicado para amamentação é de seis meses, mas sei também que o leite é considerado o principal alimento dos bebês até eles completarem um ano”.

A maior satisfação da mamãe Angélica é estar com Clara. “A amamentação é o nosso momento de conexão. “A gente se olha, se abraça, se beija, seguro a mãozinha dela, faço carinhos, e enquanto ela mama e se nutri, eu me recarrego de amor e satisfação”, declara. “É um sentimento que não tem como explicar. Neste momento, todo o cansaço, momentos difíceis, preocupações do dia, tudo vai embora”, diz.

Além do leite materno, Clara, desde o 6º mês, vem se alimentando de frutas e outros alimentos, pois já iniciou a introdução alimentar. “Mesmo assim, ela não deixa de mamar”, conta. Faz um mês que Angélica voltou a trabalhar, e até então Clara mamava apenas no peito. “Com o meu retorno ao trabalho, foi preciso nos reorganizarmos. Minha mãe passou a cuidar da Clara durante o dia e ela precisou aprender a mamar na mamadeira (mas o meu leite)”, explica. “Ela mama em torno de seis vezes por dia: (1) de manhã cedo, antes de eu começar a trabalhar; (2) ao meio-dia, no meu intervalo de almoço; à tarde ela toma uma mamadeira; (3) à tardinha, quando chego do trabalho ela mama; (4) depois de jantar e (5 e 6) durante a noite/madrugada ela acorda mais umas duas vezes para mamar”, completa.

Ao ser questionada se chegou a ficar com medo da Clara deixar de mamar por estar inserindo outros alimentos, Angélica afirma que não. “Nunca cheguei a ficar preocupada que ela não fosse mais querer mamar, mas tinha muito medo de acabar produzindo menos leite por conta disso, pois em alguns horários, em vez de mamar, ela estaria ingerindo alimentos. Mas com o passar dos dias, vi que não era assim. O nosso corpo se adapta e produz a quantidade de leite necessária para o nosso bebê em cada fase de vida”, ressalta.

Quanto às mamadas, elas vão continuar e levar o tempo que for bom para mamãe e filha. “Nunca cheguei a pensar num prazo, por exemplo: ‘vou amamentar até os dois anos’. Penso que a amamentação deve ser algo bom para o bebê e para a mãe. Enquanto for bom, seguimos amamentando. Quando deixar de ser bom, vamos buscar fazer o desmame gentil”, projeta.

Hoje, se pudesse dizer alguma coisa para as mamães que estão iniciando este processo de amamentação ou passarão por isso em breve, seria para não desistirem e buscarem ajuda se tiverem dificuldades. “Hoje em dia existem muitas pessoas especializadas que podem auxiliar na amamentação, com a rotina e sono do bebê, a introdução alimentar e vários outros temas. Também é importante buscar informação. Existem muitas páginas no Instagram que falam sobre o tema, com dicas e cursos on-line”, sugere. “Uma boa rede de apoio também faz toda a diferença. Logo que o bebê nasce, a gente passa por uma série de transformações, não só físicas, mas psicológicas também. Vem o puerpério, o baby blues, a privação de sono e se a gente não tiver com quem contar, conversar e em quem se apoiar, fica tudo mais difícil”, analisa. “Além do apoio integral da minha família, do meu marido, mas também muito da minha mãe, eu também participo de um grupo de WhatsApp, de mamães de primeira viagem. A gente não só troca experiências, mas se apoia, se ajuda, torce umas pelas outras. Isso me faz muito bem. Outra coisa que eu sempre escutei, como forma de incentivo, é que a natureza é muito sábia e o nosso corpo tem tudo aquilo de que o nosso bebê precisa para se nutrir, não existe leite fraco”, finaliza.

Posto de Coleta de Leite Humano ajuda a promover a saúde

Com intuito de apoiar e promover o aleitamento materno, orientando a extração, armazenando e distribuindo o leite materno da nutriz ao seu bebê prematuro e/ou de baixo peso, com todo o controle de boas práticas de manipulação, garantindo a segurança sanitária, produzindo a indução da lactação e promovendo a orientação necessária, visando o prolongamento do período de amamentação, sendo parte importante na estratégia em prol da amamentação e redução da mortalidade infantil, é que o Hospital Santa Cruz criou, no dia 3 de fevereiro de 2020, o Posto de Coleta de Leite Humano.

De acordo com a nutricionista da casa de saúde, Maiara de Queiroz Fischer, são coletados, em torno de 10 litros mensalmente, numa média de 130 atendimentos. A coleta do leite é indicada, segundo a profissional, sempre que a mãe não conseguir amamentar diretamente no seio materno. “A coleta do leite materno realizada de forma manual é também uma excelente forma de estimular sua produção, em casos em que a mãe apresente alguma dificuldade na produção de leite”, salienta.

Como funciona a coleta? De acordo com Maiara, no posto de coleta realiza-se o acolhimento, orientação, higienização e a capacitação da mãe para a realização da extração. “O leite obtido no local é destinado ao próprio bebê internado na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) ou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. Após a coleta, o leite é armazenado por até 12 horas, sob refrigeração, depois fracionado e aquecido para a distribuição. O leite da mãe é utilizado somente para o próprio bebê, não é utilizado para outros bebês”, esclarece a nutricionista.

A existência do posto de coleta é importante, pois ajuda a promover a saúde do bebê e da mamãe, incentiva o aleitamento materno, garante a segurança alimentar e nutricional do leite materno ofertado e contribui para redução da morbimortalidade infantil.

Com o posto de coleta foi possível perceber que as mães se sentem mais seguras, pois no local elas recebem orientação profissional. “É um espaço de acolhimento, onde tentamos acalmá-las e esclarecer suas dúvidas, muitas chegam nervosas devido à gravidade da situação do seu filho que está internado, com muitas dúvidas em relação à ordenha. Além de ser um momento de descanso e trocas com as outras mães que estão passando por uma situação semelhante”, reflete Maiara.

Em alusão ao Dia Mundial da Amamentação, nessa sexta-feira, 30, as mamães receberam um cartão com uma mensagem e um bombom.

Município orienta por meio da atenção básica

Em Santa Cruz do Sul, a semana voltada ao estímulo ao aleitamento materno é realizada através da colocação de murais/cartazes nos serviços oferecidos, principalmente no Cemai e Bem Me Quer, segundo a secretária Municipal de Saúde, Daniela Dumke. “Na atenção básica são realizadas orientações mais focadas na amamentação para as mães”, aponta.