Início Geral Artesão encontrou na confecção de cuias uma maneira de sobreviver após problemas...

Artesão encontrou na confecção de cuias uma maneira de sobreviver após problemas de saúde

Santa-cruzense Octacilio Rodrigues da Costa encontrou no artesanato uma maneira de continuar trabalhando

Ricardo Gais
[email protected]

A arte de criar coisas, pintar cerâmicas, produtos em madeiras ou até mesmo desenvolvê-los através de pedras ou vegetais, como é o caso da planta Lagenaria siceraria, popularmente conhecida como Porongo, faz parte da vida de artesões gaúchos que utilizam o vegetal para desenvolver e colocar em prática o dom de confeccionar cuias, sejam elas em formatos grandes, pequenos, lisas ou decoradas, produtos esses que, após finalizados, fazem parte do cotidiano de muitas pessoas adeptas ao chimarrão.

O artesanato brasileiro é muito rico em cultura e revela a identidade, costumes e características de cada região do País, além de garantir o sustento de muitas famílias. No Bairro Vila Schultz, em Santa Cruz do Sul, o artesão Octacilio Rodrigues da Costa, 70 anos, é um dos poucos que realiza o trabalho manual com cuias no Município e o Riovale Jornal foi conversar com o artista, que contou sobre seu trabalho.

Octacilio é artesão há 30 anos. – Fotos: Ricardo Gais



Octacilio revelou que antes de ser artesão trabalhou como mecânico agitador em algumas empresas da cidade, mas como teve problemas de saúde, envolvendo a coluna, teve que parar com a atividade. Para contornar a situação e não ficar parado e sem renda, ele enxergou em seu irmão, que produzia algumas cuias, uma maneira para seguir a vida. Então, aprendeu o trabalho manual para também realizar a confecção de cuias.

“Há 30 anos já desenvolvo este trabalho. Meu irmão achou que eu não conseguiria, e consegui. Naquela época, o estilo das cuias era diferente, sem muitos detalhes. Comecei com dez produtos e fui vender de porta em porta, sendo meu primeiro cliente o meu ex-patrão, que comprou todas, então voltei para a casa e comecei a produzir mais e assim fui construindo essa caminhada”, contou Octacilio.

Ele pontuou que, na época, as cuias não possuíam os pezinhos e precisavam de um suporte, então resolveu, com a cola em massa “durepoxi”, criar a parte que sustenta o produto, o que deu muito certo. “O pessoal gostou muito e desde então fui aperfeiçoando meus produtos e passei a viver somente disso desde quando me aposentei”.

Produtos são confeccionados manualmente



O artesão também resolveu desbravar o Estado e abriu uma pequena loja, chamada de Casa do Chimarrão, no Município de São Sepé, mas após 18 anos retornou a Santa Cruz e continuou seu trabalho por aqui. “Hoje, eu vendo na Praça Getúlio Vargas, nas sextas-feiras e sábados. Faço tudo sozinho, saio de casa às 7h30 com os produtos e retorno às 17h. As vendas estão sendo menores que antes da pandemia e preciso de três dias para ter o valor que vendia em apenas um dia”, disse.

As cuias são compradas em formato bruto. Octacilio faz a parte de lixar e o acabamento com detalhes em seu local de trabalho, onde também cria outros produtos que aprendeu em meio à pandemia. “O artesão que não modificar seus produtos e fazer coisas novas não vende, por isso estou sempre mudando e atento às novidades”, enfatizou.