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Clube de leitura: No isolamento, o livro é a melhor companhia

Grupo segue se reunindo pela internet para manter a tradição de discutir literatura

Grasiel Grasel
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Primeira reunião do grupo, em 2019, se deu na casa de um dos membros – Arquivo pessoal

Em meio à quarentena imposta pela pandemia da Covid-19, uma das poucas companhias que podemos ter é a de um livro. E é assim que tem sido este período para os membros do Grupo de Leituras de Clássicos e Fundamentais, um clube de leitura santa-cruzense que teve que adaptar seus encontros para um modelo virtual.

Batizado carinhosamente por um dos membros de “Os Marlianos”, em homenagem à fundadora, a escritora Marli Silveira, o clube de leitura costumava se encontrar nos sábados pela manhã na Casa das Artes Regina Simonis, no entanto, passaram a organizar suas leituras e discussões pela internet, visando garantir o máximo de segurança para todos durante a pandemia.

Fundado em 2019, o grupo se reúne para ler, conversar e dialogar sobre as temáticas dos livros que estuda, além de escrever cartas, a partir dos encontros, que são trocadas entre os integrantes. Atualmente são sete integrantes que fazem parte d’Os Marlianos, mas a adesão às reuniões varia em número.

Em entrevista ao Riovale Jornal, Marli afirma que o grupo é aberto a receber novos integrantes, sejam quais forem suas idades, profissões ou condições sociais. As discussões, portanto, costumam ser bastante plurais, pois são pessoas diferentes umas das outras que as fazem. “Cada um dos integrantes segue itinerário intelectual e profissional distinto, o que enriquece as discussões e desconstrói a linearidade de interesses e sentidos”, afirma.

A escritora conta que a cada novo encontro uma nova leitura é definida para a reunião posterior, procurando focar em um tema ou autor. “No momento estamos discutindo autores de viés existencialista ou mesmo absurdista, se consideramos Albert Camus como um autor que busca romper com tal classificação. Lemos três ou quatro obras de Albert Camus e agora começamos a ler obras de Sartre” explica Silveira.

No grupo, as discussões costumam ir para além da literatura, pois, a partir dela, os membros estreitam um diálogo com a Filosofia e a História, fazendo correlações e buscando trazer o pensamento abordado para a realidade atual. A ideia é compartilhar, a partir de cada experiência de leitura, os olhares, compreensões, tensões suscitadas pela obra e o autor.

Segundo Marli, a leitura é uma experiência fundamental independente da existência ou não de uma quarentena, mas neste momento ela se mostra ainda mais sentida e necessária. “Diria mais, hoje, penso que escrever também é fundamental, pois é na escrita que podemos nos dar conta de nós mesmos acontecendo no processo”, adiciona, afirmando que este exercício de introspecção também pode servir para entender o outro, gerar empatia.

Para a escritora, manter um clube de leitura enquanto tantas pesquisas apontam que o brasileiro lê pouco é essencial. “Incluir o livro e a leitura em realidades tão díspares é um compromisso de todos, mas que não depende apenas de levar livros e bibliotecas para as comunidades”, afirma. Segundo ela, incentivar o gosto pela leitura e a aproximação com os livros é tão prioritário quanto fornecer educação e cultura.