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Dia do Índio: a convivência indígena na sociedade

Ana Souza
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Hoje, 19 de abril, comemora-se o Dia do Índio. A data foi criada pelo presidente Getúlio Vargas através do decreto-lei 5540 de 1943, esta remete ao dia 19 de abril de 1940, ocasião em que várias lideranças indígenas do continente resolveram participar do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México.
Temendo que suas reivindicações não fossem ouvidas pelos ‘homens brancos’, eles boicotaram os dias iniciais do evento. Durante o congresso foi criado o Instituto Indigenista Interamericano, também sediado no México, este tem como função zelar pelos direitos dos indígenas na América. O Brasil não aderiu imediatamente ao instituto, mas após a intervenção do Marechal Rondon apresentou sua adesão e instituiu 19 de abril como o Dia do Índio.
A convivência dos índios, no tempo dos nossos antepassados, era restrita mais às aldeias onde viviam, o que atualmente mudou. Hoje eles convivem tranquilamente em sociedade. Um exemplo é o Cacique João Paulo da Costa, da aldeia Ka Aguy Poty (Flor da Mata), da Reserva do Salto do Jacuí. Vindo de Estrela Velha, no Rio Grande do Sul, onde a aldeia está instalada, o Cacique Kuaray (tendo seu nome o significado Sol, na língua indígena), falou sobre seu papel na aldeia e as mudanças ocorridas entre o passado e o presente.
Durante a Oficina de Língua Guarani, realizada nos dias 17 e 18, no Auditório da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec), e promovida pelo Departamento de Cultura, o indígena trouxe a vivência na aldeia e seus costumes, despertando a curiosidade dos participantes. Também participou do evento como palestrante o professor e doutor Sérgio Klamt, do Centro de Pesquisas Arqueológicas da Unisc (Cepa).
Como seria recebido durante a palestra era uma preocupação para o Cacique. “Aprender a falar a Língua Portuguesa é bem mais complicado. Aos poucos fui conhecendo os hábitos e aprendendo, assim me descontraí. Através da imprensa estou conseguindo mostrar os nossos costumes”, enfatizou.
Um dos pontos destacados por ele foi referente ao apoio recebido do meio político. “Também podemos votar e recebemos ajuda dos meios políticos, inclusive a área onde está instalada a aldeia foi conseguida através de ajuda do ex-governador Olívio Dutra, assim como recebemos o auxílio de outros políticos, entre eles o atual senador Paulo Paim. As lideranças abriram diversos caminhos para nós.”

ESTUDOS

Em várias Universidades existem determinadas cotas para o ingresso na instituição. Assim também para os índios. “As cotas universitárias são muito importantes para nós. Sem o estudo seria ainda mais complicado termos as conquistas que queremos. As crianças devem sempre estudar para ter um futuro melhor”, frisa.

Fotos: Ana Souza

Cacique João Paulo da Costa, integrante da aldeia Ka Aguy Poty,
repassou ensinamentos sobre a Língua Guarani durante oficina da Smec

Cacique Kuaray: convivência em harmonia com a sociedade

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Passado x tempos atuais

“Em tempos passados o índio não saía da aldeia para a cidade. Os costumes na aldeia continuam os mesmos, mas hoje procuramos conversar com o Governo para buscar melhores condições de vida”, enfatiza o Cacique.  Sua aldeia é composta por 50 integrantes que formam 9 famílias. Os recursos para manter o local provêm basicamente do artesanato manual que fabricam. “O Governo nos auxilia, pois é difícil viver só do artesanato. Eu também faço trabalhos artesanais como a confecção de cuias e miniaturas de animais. Na aldeia temos professores, merendeiras e também aposentados indígenas.”
Cacique Kuaray destacou que o convívio com a sociedade, atualmente, é mais tranquilo. “O nosso espaço na sociedade aumentou com a passar do tempo. Aqui em Santa Cruz do Sul tenho um grande vínculo com a Unisc, através da Pró-Reitora de Pesquisa, Ana Luiza Teixeira. Fazemos um trabalho em conjunto, uma caminhada cultural. No dia 4 de maio um grupo da Unisc irá até a aldeia.”
Com o aprendizado baseado na educação formal da aldeia onde vive, chegou ao posto de Cacique mais novo do Estado do Rio Grande do Sul. São oito anos de trabalho. “Para ser cacique tem que saber todos os hábitos da aldeia, somos um líder. Devemos seguir as regras, assim como um prefeito. Ter sabedoria e conhecimentos.” João tem 38 anos e quatro filhos. Além de ser Cacique, exerce a função de Agente de Saúde e Conselheiro do Povo Indígena, sendo o Conselho instalado em Porto Alegre. “Todos os integrantes são indígenas. Inclusive o Coordenador faz parte do Governo do Estado.”

João mostrou aos participantes da oficina os artigos de artesanato que confecciona

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O Dia do Índio na visão de um descendente

Comemorar o Dia do Índio é diferente em cada aldeia. “Esta data é pensada e comemorada de várias maneiras. Alguns rezam, lembrando que muitas aldeias já não existem mais. Outros lembram dos antepassados, que graças a eles estamos aqui e mostrando as nossas tradições.”
Os costumes indígenas prevalecerão sempre na aldeia. A mãe de João é a integrante mais velha do local. Aos 70 anos, Catarina segue as tradições indígenas. “Ela cultiva os antepassados através da fabricação de chás com ervas medicinais”, explica o Cacique.

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IBGE
Censo 2010 mostra diminuição na população indígena do RS

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na manhã de ontem, 18, dados preliminares que fazem parte do Censo 2010. Segundo o estudo a população de índios no Estado do Rio Grande do Sul diminuiu 15%. O número foi 5.729 a menos em 10 anos, passando de 38.718 no ano 2000 para 32.989 em 2010.
Da população gaúcha, de 10,7 milhões em 2010 o número de pessoas que se autodeclararam índios representa, conforme o IBGE, 0,53%. No Rio Grande do Sul, no total de índios do Brasil, são 4,03%. Das 817 mil pessoas que se autodeclararam indígenas no Censo 2010, o percentual nacional chega a 0,4%. No período de 2000/2010 chegou-se ao número de 84 mil pessoas (11,4%). O aumento, é bem menor em comparação ao período 1991/2000, com cerca de 440 mil pessoas (150%). No Censo de 1991, em 34,5% dos municípios brasileiros residia pelo menos um indígena autodeclarado. Em 2000, o percentual foi de 63,5% e, em 2010,  80,5% dos municípios brasileiros.
O IBGE elaborou um documento especial e uma página com análises e dados comparativos dos Censos de 1991, 2000 e 2010 acerca da distribuição espacial da população que se autodeclarou indígena. O documento é uma homenagem ao Dia do Índio.

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Dia do Exército também é comemorado hoje

Outra comemoração importante marca o 19 de abril. Hoje também é o Dia do Exército. Este surgiu com a vitória do País na 1ª Batalha dos Guararapes, em 19 de abril de 1648, expulsando os invasores holandeses, nos Montes Guararapes, no Estado de Pernambuco. Desde os primórdios da colonização portuguesa na América, desenvolveu-se em terras brasileiras uma sociedade marcada pela intensa miscigenação. O sentimento nativista aflorou nos brasileiros, a partir do século 17, quando brancos, índios e negros, em Guararapes, expulsaram o invasor estrangeiro.
Os momentos épicos ali vividos encerram profundo significado para o Exército. Representam ideais cultuados no coração e na alma de cada um dos seus integrantes: fé, bravura, honra e Pátria. O Exército, sempre integrado por elementos de todos os matizes sociais, nasceu com a própria Nação e, desde então, participa ativamente da história brasileira.
Para marcar a data, o 7º Batalhão de Infantaria Blindado “Regimento Gomes Carneiro”, de Santa Cruz do Sul, fará na manhã de hoje, a partir das 9h, uma solenidade com formatura no Batalhão no Pátio Duque de Caxias.