Início Especiais Empoderamento feminino | Lugar de mulher é na cozinha sim, inclusive oriental

Empoderamento feminino | Lugar de mulher é na cozinha sim, inclusive oriental

No Santa Sushi Delivery é assim que funciona: a cozinha, a recepção e a administração do estabelecimento são comandadas exclusivamente por mulheres

A proprietária Juliana e as funcionárias Jade, Gilda e Larissa são as responsáveis pelas delícias da culinária oriental
Fotos: LUÍSA ZIEMANN

LUÍSA ZIEMANN – [email protected]

Dedicação, amor ao que se faz e uma dose extra de empoderamento feminino. Essa é a receita da cozinha do Santa Sushi Delivery para o sucesso do restaurante em Santa Cruz do Sul. Formada somente por mulheres, a equipe do estabelecimento, que é especializado em culinária japonesa, demonstra a força e potencial do trabalho feminimo. Ao todo, quatro profissionais são responsáveis pelo processo de preparação e montagem de todos os pratos disponíveis no cardápio.

De acordo com a sócia-proprietária do estabelecimento, Juliana Kannenberg Vieira Santos, o Santa Sushi surgiu em 2013, inicialmente com o nome de Mizuki Cozinha Oriental. Em 2020, o nome fantasia mudou para Santa Sushi, no entanto, inicialmente a maior parte da equipe era masculina. “Como haviam poucas mulheres trabalhando neste ramo, nós ainda não tínhamos nenhuma.” A ideia de formar uma equipe formada somente pelo sexo feminino foi de Juliana, que viu na possibilidade uma forma de valorizar o trabalho das mulheres em áreas ainda predominantemente masculinas.

No caso da sushiwomen, ela aprendeu a arte da cozinha oriental praticamente sozinha. “Fui aprendendo os sushiman prepararem os pratos, pois na cultura oriental muitos não desejam ensinar mulheres a serem sushi chef e sim somente auxiliar de sushi”, conta. “Então mesmo eu sendo a proprietária do estabelecimento eu senti na pele o quão difícil era na época uma mulher desbravar este mercado, e em vários locais do mundo ainda é.” Por conta disso, em uma conversa com seu sócio e marido, após Juliana se tornar uma sushi chef, que eles decidiram montar uma equipe só de mulheres.

Hoje, além de Juliana, a equipe é formada pela recepcionista Jade Luiza Suanes, pela auxiliar de sushi Gilda Maria de Moura, e pela auxiliar de cozinha Larissa Kannenberg, que é irmã da empresária e possui síndrome de down. “Além de dar espaço para o trabalho de mulheres, atuamos ainda com inclusão social. Minha irmã já esta na equipe há dois anos, como auxiliar de cozinha, e já estou preparando ela para ser uma sushi chef em um futuro próximo.”

Para a proprietária do Santa Sushi, a principal vantagem de ter uma equipe exclusivamente feminina é o clima agradável que se forma no ambiente de trabalho. “Trabalhamos em família, com um clima leve, descontraído, ou seja, todas se ajudam no trabalho de ponta a ponta”, destaca. “Somos uma equipe muito unida. Vejo como vantagem este clima amigável que temos e sempre nos entendemos independente do cargo e função.”

Um sonho antigo que se tornou realidade

Juliana conta que quando ela e o marido, Paulo Vieira Santos, decidiram comprar o então Mizuki Cozinha Oriental, o objetivo era de que ela aprendesse sobre a culinária oriental e tocasse o próprio negócio. “Eu sempre gostei de cozinhar e trabalhar com isso. Desde o início adquirimos o estabelecimento com o objetivo de eu aprender a fazer sushi. No entanto, quando passamos a administrar o local esbarramos em uma dificuldade. O homem que era o sushi chef na época se negava a repassar os conhecimentos da área. Ele chegava a me dizer que não iria me ensinar, que mulher não poderia aprender a fazer sushi”, lembra a empresária.

Mas, mesmo com esse impecilho, Juliana não pensou em desistir. “Lembro que a única coisa que ele me ensinou, e muito contra a sua vontade, foi a fazer temaki. Eu treinei isso por mais de um ano”, afirma. “Como eu pedia muito para ele me ensinar e ele não me ensinava, eu passei a ficar parada do lado, observando tudo que ele fazia. Foi assim que eu aprendi. Até que um dia ele simplesmente não veio trabalhar, meu marido pensou em não abrirmos o estabelecimento nesse dia, já que dependíamos dele, e eu falei que iríamos abrir sim, que eu faria. E foi nesse dia que tudo começou, e vem dando certo até hoje.”

Logo após esse acontecimento, o sushimen foi substítuido por outro, também homem. “Em Santa Cruz não encontramos uma mulher que pudéssemos contratar. Mas com esse segundo sushimen já aprendi mais algumas coisas, fui me aperfeiçoando.” Com as habilidades na cozinha oriental afloradas, Juliana passou a se sentir apta a comandar uma equipe somente de mulheres. “Passei a pensar muito nessa ideia. Acreditava que seria um tapa na cara da sociedade, já que até então não existia isso no município. Hoje sei que existem outras sushiwomen em Santa Cruz, mas ainda somos poucas.”

A empresária acredita que, no ramo da culinária, trabalhar com uma equipe formada somente por mulheres pode ser um diferencial. “Sobretudo no mercado da cozinha oriental, onde as mulheres ainda sofrem um certo preconceito quando estão em busca de uma posição de liderança”, salienta. “Nós gostamos muito de trabalhar dessa forma, somente com o sexo feminino. Nos entendemos e damos muitas risadas.”