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Guerreiros que superam as adversidades

Alexsanderson recebendo o carinho da mãe Loreni – Rolf Steinhaus

Luciana Mandler
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Em 2020, a estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) era de que no Rio Grande do Sul haveriam 300 novos casos de câncer entre crianças e adolescentes. No Brasil, a projeção era de 8.460 novos casos da doença. O Dia Internacional de Luta Contra o Câncer Infantil foi marcado no dia 15 de fevereiro, mas nunca é tarde para abordar um assunto tão importante e que assola muitas famílias brasileiras.

É o caso do jovem Alexsanderson da Silva Soares, de 15 anos, que foi diagnosticado no ano passado com um tumor denominado Sarcoma de Ewing. Conforme a operadora de produção Loreni de Fátima da Silva, mãe do jovem, tudo começou quando o garoto queixou-se de dores na perna. Inicialmente, quando era levado no Hospitalzinho próximo de sua casa, no Loteamento Berçário Mãe de Deus, no Bairro Santuário, e era tratado com injeções apenas para problemas no nervo ciático.

Após muitas idas no local, um dos médicos solicitou raio X. Após um dos médicos verificar e perceber que se tratava de algo mais grave, foi solicitada uma ressonância, que confirmou o tumor. Em abril do ano passado, o jovem internou por um dia no Hospital Ana Nery e logo foi encaminhado para o Hospital da Criança Santo Antônio, referência no atendimento pediátrico.

A partir dali, iniciaram as sessões de quimioterapia. No começo eram mais fortes e com o passar do tempo foram reduzindo. De setembro a outubro do ano passado, passou ainda por 30 sessões de radioterapia.

Não bastando o tumor na perna, a doença estava se espalhando e foi para o pulmão. Mas graças a quimio conseguiu combatê-lo. Atualmente, Alexsanderson toma medicamentos em casa e uma vez por semana, nas quintas-feiras, vai para Porto Alegre receber uma injeção de quimioterapia. Recentemente fez ressonância e em breve mostrará o resultado do exame para a médica. Se o tumor estiver estável, poderá levar uma vida praticamente normal, tomando apenas medicação em casa e uma vez por semana, uma dose pequena de quimioterapia.

Graças ao diagnóstico, o garoto pode seguir com seus sonhos. Entre seus hobbies estão: jogar no celular, assistir filmes e séries. Ele também arrisca até jogar bola com a irmã. Assim que estiver com a perna direita mais fortalecida – perna que tem fraqueza em decorrência do tumor – quer jogar futebol com os amigos. Além disso, Alexsanderson é um bom aluno. No ano passado, mesmo sem poder acompanhar as aulas devido ao tratamento, realizou alguns trabalhos e passou de ano e deve ingressar no 1º ano do ensino médio.

O garoto, com olhos de esperança e cheio de jovialidade, agradece a atual médica, que lhe dá ânimo e incentivo para seguir em frente e na luta. “A doutora Camila é humana, carismática. Bem positiva e nos apoia, o que faz toda diferença quando se está num tratamento como este”, diz.

Além disso, Loreni agradece também todo o apoio da Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) de Santa Cruz do Sul, que auxiliou a família com doações de ranchos. “Meu marido precisou parar de trabalhar para acompanhar nosso filho. Hoje, contamos com minha renda e os ‘bicos’ que ele faz. A Aapecan nos ajudou e ainda auxilia muito”, salienta.

Ainda, segundo a operadora de produção, é extremamente importante ter o apoio das pessoas próximas. “No começo, principalmente recebemos bastante ajuda de amigos, familiares e empresa onde trabalho. Um amigo do Alex sempre o incentivou e esteve do lado dele também”, agradece. “Foi difícil, mas graças a Deus ele evoluiu e ficará bem. Já está bem”, frisa.

ACOMPANHAMENTO É IMPORTANTE

Dar a notícia de uma doença nunca é fácil. Se for o diagnóstico de uma doença crônica então é pior ainda. Conforme a psicóloga da Aapecan, Grasiela Lopes, este é um momento de crise para a família. “O paciente e a família geralmente não estão preparados para as mudanças físicas, período alternados de estabilidade, crise e incerteza do futuro”, avalia. “Quando se trata de ser criança ou adolescente, diagnosticada com um tumor maligno, esse impacto é ainda maior, pois estamos falando de alguém que tem o futuro pela frente, correr risco da vida”, reflete.

Grasiela aponta que o enfrentamento da doença vai depender muito da criança ou adolescente e como sua família vai gerenciar essa situação. “A doença é vivenciada de forma singular, ou seja, como uma experiência pessoal”, sublinha. Assim, o acompanhamento se dá a partir do que a criança e a família estão vivendo. Na Aapecan, por exemplo, o apoio e acompanhamento se inicia já no primeiro contato, onde se escuta as necessidades, acolhendo-os, dando suporte para o enfrentamento da doença.

Na entidade é ofertado um espaço de escuta, onde a criança pode expressar o que está vivenciando, com o objetivo de contemplar não somente os aspectos técnicos, mas também suas necessidades emocionais e sociais e que, através de estratégias, minimize o estresse ocasionado pelas intervenções, tanto físicas quanto emocionais.

SUPERAÇÃO EM DOSE DUPLA

Isabela em período de tratamento – Divulgação


Em média, 15 crianças e adolescentes já passaram pela Aapecan. Geralmente, a criança vai para atendimento após o tratamento que é realizado em Porto Alegre. Foi o caso da pequena Isabela Fengler Melchiors, hoje com nove anos, que recebe atendimento psicológico assim como sua família. O que os faz se sentirem acolhidos.

Isabela foi diagnosticada com tumor maligno de ovário pela primeira vez em novembro de 2019, quando tinha sete anos. “Ela sentia muita dor de cabeça e de barriga. Levei-a no pediatra. O médico fez alguns testes no consultório e acreditava ser psicológico, tendo em vista que pouco tempo antes eu havia perdido meu pai e ela era muito apegada a ele”, conta a mãe Maria Inês Farias Melchiors.

No entanto, as dores da pequena Isabela continuavam, e pior, aumentavam. A garota tomava remédios, a dor amenizava por algumas horas e voltava. “Levei-a uma semana inteira no Cemai. Ela chegou fazer exame de urina, pois tinha também dificuldade para urinar, e por isso poderia ser uma infecção, mas no exame não acusou nada.

Foi então, que no final de semana, já com bastante dor, a médica, na ocasião pediu raio X, onde também não apareceu nada. No sábado daquela semana, Isabela começou a ficar com o entorno do umbigo roxo. Ela foi internada e logo foi diagnosticada com glaucoma de ovário direito. Na segunda-feira da semana seguinte foi levada para o Hospital da Criança Santo Antônio.

Em dezembro de 2019, a pequena guerreira fez cirurgia de retirada do ovário. E naquela ocasião, os médicos entenderam que não precisaria de quimioterapia. Porém, em janeiro do ano passado, ao realizar exames de acompanhamento, numa ecografia se constatou um nódulo no ovário esquerdo. A pequena Isabela internou e precisou de quimioterapias, pois também haviam metástases nos dois pulmões, uma na costela e outra no rim.

As quimioterapias ocorriam três dias com medicamentos, com sessões de 10 horas, com intervalos de 21 dias. Foram cinco ciclos, somando cinco meses de tratamento. Apesar do tratamento agressivo para uma criança, Isabela reagiu bem. Sumiram todas as metástases e a guerreira não teve complicações e reações durante as quimios. Em junho do ano passado, Isabela fez a retirada do segundo ovário, e hoje, precisa apenas de acompanhamento e exames de rotina.

A mãe, Maria Inês, diz que hoje a filha leva uma vida normal. Mas todos tiveram que se adaptar à situação, já que a santa-cruzense e o marido Elenilton têm mais uma filha, a Maria Eduarda, de quatro anos. “Na época, nossa outra filha era pequena. Graças a Deus meu marido contou com apoio da empresa, que foi flexível com os horários, pois também precisávamos cuidar da Maria Eduarda”, conta.
Maria Inês também reforça o quanto é importante conhecer os filhos. “A gente os conhece e sabe quando algo não está normal. Tem que investigar, ir atrás”, frisa. “Se eu tivesse investigado antes, ela não passaria por tanta dor e por esse sofrimento”, lamenta. “É algo triste. Essa doença tira vidas”, reflete.

Além da Aapecan, que hoje auxilia no acompanhamento psicológico já que Isabela está entrando na pré-adolescência, Maria Inês diz que teve anjos em suas vidas. “Nessas horas não é só a ajuda financeira que conta. Precisamos ser solidários, dar força, uma palavra de carinho”, sublinha.

A psicóloga Grasiela reforça que o atendimento de apoio é importante nesse momento para readaptação da vida social, restabelecimento de vínculos, a construção de novos sentidos, além de trabalhar questões referentes à saúde da criança e o que passou durante o tratamento. Para a profissional, o sentimento é de satisfação, de dever cumprido com o usuário. “De gratidão por poder fazer um pouquinho diante de uma imensidão de necessidades que cada um traz com a sua história”, finaliza.

As histórias de Alexsanderson e de Isabela são verdadeiras superações. Cada uma com suas batalhas e conquistas. Apesar de jovens, mostram para todos que é possível vencer e lutar contra o câncer. São olhos para a esperança e para a cura.