Início Geral Na Tailândia: “ninguém sai de casa sem máscaras”, diz brasileira

Na Tailândia: “ninguém sai de casa sem máscaras”, diz brasileira

O acessório de proteção só é retirado na residência, segundo a brasileira Carla Fischborn Wollmann, que reside há 15 anos no País

Luciana Mandler
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Capital Bankok – Foto: Pixabay

Há pouco mais de um ano se confirmava o primeiro caso de coronavírus na China. Não demorou muito para que o vírus se alastrasse e consequentemente levasse a um caos na saúde pública por se tratar de uma doença totalmente desconhecida. O medo assolou não apenas os brasileiros, mas as comunidades de todo o mundo. Na Tailândia, que no início da pandemia foi considerada o segundo País com maior número de pessoas com o vírus, não foi diferente.

Segundo a brasileira Carla Gladiane Fischborn Wollmann, que ao lado do marido Altemir e dos filhos William e Hannah, mora na Tailândia, mais precisamente na capital Bangkok, há mais de 14 anos, hoje o vírus está controlado no País. Ela conta que do dia 8 de abril até 19 de dezembro do ano passado, a média de casos era entre três a oito por dia. “Em dezembro tivemos uma segunda onda, em que no dia 20 os casos subiram para 576 e chegaram a 826 por dia até o dia 2 de fevereiro deste ano”, conta. Hoje, são 78 casos novos no País todo. “Quando isso aconteceu em dezembro, as províncias se fecharam. Ninguém mais podia ir de um Estado para outro justamente para se conter o vírus”, explica.

A família Wollmann: Altemir, Carla, William e Hannah. – Foto: Divulgação



Até o momento, a Tailândia teve um total de 27.005 casos. Onde 26.234 se recuperaram e 87 vieram a óbito, enquanto que o restante está em tratamento. Mesmo com o vírus sob controle, em todos os lugares que se frequenta é obrigatório o check-in e check-out em um aplicativo. “Por exemplo, caso se descobre que alguém infectado visitou tal lugar, seja shopping, mercado, feira, escola, etc… todas as pessoas que fizeram o check-in nesse local serão notificadas e terão que ficar em casa até que o resultado de seu exame saia negativo”, esclarece. Assim, é possível controlar a transmissão do vírus.

Carla também ressalta que é de extrema necessidade o uso de álcool gel e máscaras. “Ninguém sai de casa sem máscaras, e só se tira elas quando se está em casa”, frisa. Inclusive, na entrada da casa da família há um medidor de febre e spray automático de álcool em gel.

Primando sempre pela saúde da família, todos os cuidados necessários são tomados na casa de Carla. A brasileira, natural de Vera Cruz, conta que em nenhum momento a família, na Tailândia, se infectou com o vírus e destaca que também não teve nenhum conhecido ou amigo que tenha se contaminado. “Isso só comprova o ótimo trabalho feito pelo governo”, sublinha. “É importante lembrar que a Tailândia, economicamente é bem mais pobre que o Brasil. Então não se pode dizer que tem mais recursos que o Brasil, pois não é verdade”, enfatiza.

A VACINA

As vacinas AstraZeneca e Sinovac chegaram na Tailândia no dia 1º de março, e as primeiras doses foram aplicadas em pessoas que trabalham na área da saúde, idosos e pessoas em situação de alto risco. Entre maio e junho, a Tailândia já vai estar produzindo localmente a vacina AstraZeneca, e o plano é vacinar mais ou menos 45% dos 66 milhões de habitantes até o fim do ano.

Ainda segundo Carla, alguns hospitais privados vão receber doses para estrangeiros (pois para os tailandeses a vacina é gratuita). Esta terá um custo de cerca de R$ 373. Carla e a família ainda não se vacinaram e ela reforça que não tem pressa, “pois não temos planos para viajar no momento, e como a situação aqui está controlada e a vida continua normal resolvemos esperar, mesmo porque as contraindicações e reações da vacina não estão bem claras”, comenta.

Depois de fechar por três meses, setores estão abertos

Carla, que ao lado do marido, é empresária no setor de sistema fotovoltaico, diz que atualmente todos os setores estão abertos, inclusive as escolas. O único setor que está sofrendo e muito no País é o turismo. “Pois as pessoas que vem para cá a trabalho ou férias precisam fazer a quarentena de 14 dias em hotéis específicos, escolhidos pelo governo. E depois de 14 dias fazem o exame, se deu negativo podem entrar no País, se der positivo (na entrada no País) vai direto para o hospital, e só são liberados depois do exame negativar”, esclarece.

A brasileira explica que na quarentena, no hotel, as pessoas não são permitidas a sair do quarto, e recebem alimentação no mesmo local. “Ninguém recebe visita”, diz. “A pessoa entra no hotel e fica lá no quarto por 14 dias sem contato nenhum com ninguém”, acrescenta. Ela relata que se escolher um hotel melhor é possível escolher o que vai ter de café da manhã, almoço e jantar. Também pode pedir para colocar alguns equipamentos de ginástica no quarto, entre outros, porém, vai depender da questão financeira de cada um, pois os custos quem arca é a própria pessoa.

Devido a todos os cuidados, hoje a situação é tida como “normal” no País. Mas houve lockdown em dois momentos: um no início da pandemia e também no mês de janeiro deste ano, das 20h até as 5h. “Sempre lembrando que nesse período de lockdown as pessoas não podiam ir de uma cidade a outra ou de um Estado a outro”, conta. “A movimentação era somente permitida dentro da própria cidade. Lembrando também que no início da pandemia tudo fechou, escolas, todos trabalhavam de casa, e todo empreendimento que não era considerado essencial fechou por uns três meses”, completa. Apenas mercados e farmácias mantiveram abertos.

NEGÓCIOS

Carla e o marido Altemir possuem a empresa Esolar Brasil, que trabalha com sistema fotovoltaico. No início, a brasileira conta que a empresa foi afetada. No entanto, agora a situação já se normalizou, “por sermos uma empresa que sempre cumpriu com o prometido e focou exageradamente na satisfação do cliente, resultando no ótimo crescimento”, reflete. “Nós apenas fechamos ano passado, no período que o governo exigiu o fechamento de todas as empresas”, ressalta.

E AS VIAGENS?

Há quase dois anos a família não vem para o Brasil, e há dois motivos para isso: “primeiro que, com a viagem de quase dois dias para chegar no Brasil corremos o risco de pegar o vírus e como o Brasil não exige a quarentena de ninguém quando entram no País temos medo de transmitir o vírus a parentes e amigos. E no caso de pegarmos o vírus vamos ter que passar muito tempo isolados até se curar. Então não tem sentido em ir e correr este risco se no fim vamos passar mais tempo isolados em vez de passar tempo com as pessoas que não vimos por muito tempo”, aponta.

O segundo motivo é porque, “quando voltarmos para cá vamos ter que fazer a quarentena, e vamos ser realistas, deve ser muito chato ficar 14 dias trancado em um quarto de hotel”, avalia.

Carla reforça que no Brasil não se exige a quarentena de ninguém quando entram no País e isso só facilita a transmissão do vírus. “Nós até hoje não compreendemos porque isso não é implantado no Brasil, assim como na maioria dos outros países”, pensa.

O QUE SE OUVE DO BRASIL

E por falar em Brasil, ao ser questionada sobre o que tem recebido de informações sobre a doença no País, a brasileira revela: “ultimamente só notícia ruim, que os casos estão aumentando a cada dia, que os hospitais estão cheios, que o Brasil passa a ser um País com mais casos e mortes nos últimos dias, que a piora da pandemia no Brasil leva países vizinhos a reforçarem medidas nas fronteiras, medida essa que ao nosso ver já deveria de ter sido tomada muito antes, juntamente com o uso da quarentena para quem entra no Brasil”. Ainda segundo ela: “na nossa percepção, o governo não está fazendo o suficiente para resolver a situação, tanto na área da saúde quanto economicamente”, finaliza.