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O movimento não está perdendo força

LUANA CIECELSKI
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SARA ROHDE
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Buzinaço percorreu ruas centrais e foi encerrado no trevo do Gaúcho Diesel no último domingo

Apesar das informações divulgadas pela Associação Brasileira de Caminhoneiros (ABCAM), segundo as quais as manifestações estariam diminuindo e sendo encerradas em todo o Brasil, em Santa Cruz do Sul a paralisação não deve parar tão cedo. É o que afirmam os manifestantes que estão parados junto ao trevo do Gaúcho Diesel desde a terça-feira passada, 22 de maio. Apesar de todas as tentativas do governo federal, de apresentar medidas e fazer acordos nos últimos dias, o grupo – entre os quais estão caminhoneiros, professores, agricultores e comerciários – afirma que as propostas apresentadas são provisórias demais para encerrar as manifestações. 
No que se refere especificamente aos caminhoneiros, eles também dizem que não se sentem representados pelos líderes da ABCAM que estão fazendo acordos em Brasília. Além disso, segundo um dos porta-vozes da paralisação local (que prefere não se identificar), a manifestação deixou de ser apenas dos caminhoneiros e passou a ser de todos. “Nós já conseguirmos baixar um pouco o valor do Diesel, que era uma das coisas que nós queríamos, mas como os caminhoneiros receberam o apoio da população, agora nós só vamos sair daqui quando as medidas apresentadas forem mais definitivas e quando baixar o preço da gasolina e do gás também”, comentou ele. 
Além disso, após as propostas apresentadas pelo governo federal, que foram consideradas “absurdas”, há também a vontade de permanecer manifestando até que ocorra a saída do Presidente Michel Temer do poder. “Nós não vamos sair daqui enquanto não houver uma mudança verdadeira. E não acreditem nisso que a associação está dizendo. A manifestação não perdeu força. Muito pelo contrário. A associação pode estar encerrando sua participação no movimento, mas os caminhoneiros e a comunidade estão cada vez mais engajados”, garantiu. 

COMUNIDADE ENGAJADA

E por falar em comunidade engajada, foram várias as manifestações vistas nos últimos dias. Por um lado, houve aqueles que se posicionaram contra o desabastecimento, exigindo uma ação por parte do Governo Federal, mas por outro, muitos grupos também passaram a apoiar a manifestação. Um desses grupos é o dos produtores rurais. Desde a última sexta-feira, O Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares vêm organizando quase que diariamente ações, entre elas, as mais significativas ocorreram na manhã de sexta-feira, dia 25, e na tarde da última segunda-feira, 28. Em ambas as ocasiões mais de 25 tratores percorreram as ruas centrais da cidade em direção ao trevo do Gaúcho Diesel, onde permaneceram durante o restante do dia, apoiando outros grupos que estavam no local. 
 “Apoiamos com toda certeza a greve, é um grito de revolta por tudo que está acontecendo no país”, disse o presidente do sindicato, Renato Goerck. Renato pontou também que os agricultores estão juntos na paralisação devido o alto custo da produção de alimentos. “Nós carregamos uma carga tributária altíssima e sentimos isso na carne. Não podemos afrouxar porque senão ocorrerá tudo novamente”, destacou. 
Além deles, a população em geral de Santa Cruz do Sul também se mobilizou no último domingo, dia 27. A pé, de bicicleta, motocicleta ou com seus veículos particulares, centenas de pessoas participaram de um buzinaço que iniciou por volta das 15 horas no Trevo do Gaúcho Diesel, percorreu as ruas centrais e voltou ao cruzamento entre a RSC-287 e a BR-471. Durante o trajeto, muitos manifestaram seu desagrado com as propostas que vêm sendo apresentadas pelo governo. O mesmo estava previsto para acontecer no fim da tarde de ontem, dia 29, no centro de Santa Cruz, a partir das 18h30. 

PELO BRASIL

A situação vista em Santa Cruz do Sul não é diferente daquela vista em outros locais do Rio Grande do Sul e do país. Nessa terça-feira, dia 29, a Abcam estimava que mais de 250 mil caminhões estivessem mantendo pontos de paralisação em todo o Brasil. Os caminhoneiros, porém, acreditam que esse número é muito maior. 
Municípios vizinhos também tiveram um grande engajamento no movimento nos últimos dias. Em Candelária, por exemplo, na última segunda-feira, todo o comércio fechou suas portas a partir das 15h30 e a comunidade foi às ruas. O mesmo aconteceu em outras cidades.
E se faltam mantimentos e combustível por aqui, a situação é ainda mais caótica em grandes cidades como Rio de Janeiro de São Paulo. Em muitos mercados e feiras, já não estão sendo encontrados diversos produtos perecíveis, como frutas, verduras e legumes. Desde a última sexta-feira também estavam sem combustível a maior parte dos postos do país. 
Em algumas localidades, escoltas foram organizadas para que pelo menos um pouco dos mantimentos pudesse chegar às cidades. Esse foi o caso do Rio Grande do Sul. Brigada Militar e o Corpo de Bombeiros escoltaram 92 caminhões com combustível para 30 municípios – seis desses caminhões chegaram à Santa Cruz -, 94 caminhões carregados com ração para animais para 15 municípios, quatro caminhões carregados com gás para Canoas e dois caminhões carregados com alimentos para Porto Alegre. 

GASOLINA NOS POSTOS

Em Santa Cruz do Sul, os postos também receberam gasolina nas manhãs de segunda e terça-feira. O volume, porém, não o suficiente para abastecer todos os veículos da cidade, mesmo com a limitação de R$ 100,00 (ou 20 litros) por automóvel. De acordo com os manifestantes do Gaúcho Diesel, essas quantias correspondem a caminhões tanque que estavam presos em manifestações desde a semana passada. Eles foram liberados propositalmente para que serviços essenciais fossem abastecidos. “A orientação que a gente dá, é de que as pessoas abasteçam e economizem, guardem para emergências, pois agora não há previsão de novas liberações”, explicou o porta-voz. 
Em função desse desabastecimento na cidade, no último sábado, dia 26, a Prefeitura decretou Situação de Emergência no município. Esse decreto foi aprovado na noite de segunda-feira pelos vereadores. O decreto orientou os postos de gasolina a abastecerem os veículos particulares de forma fracionada. “Esta orientação se dá diante da necessidade de atender o maior número de pessoas”, disse o Coordenador da Defesa Civil, José Joaquim Dias Barbosa. 

GREVE PETROLEIROS

A situação do país deve ficar ainda mais complicada a partir dessa quarta-feira, dia 30. Isso porque foi anunciado no último domingo que a partir de hoje, os petroleiros também deflagrarão uma paralisação de advertência por pelo menos 72 horas. O objetivo é pressionar o governo federal a reduzir os preços do gás de cozinha e dos combustíveis, também é uma manifestação contra a eventual proposta de privatização da Petrobras e a gestão do presidente da empresa, Pedro Parente. 
De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), entre as refinarias e fábricas de fertilizantes que deveriam aderir ao movimento estavam a Rlam (BA), Abreu e Lima (PE), Repar (PR), Refap (RS), Araucária Nitrogenados (PR) e Fafen Bahia. Parente chegou a enviar uma carta aos servidores na segunda-feira, dia 28, pedindo que eles fizessem uma reflexão. Além dele, os Ministros do governo Temer também estariam trabalhando para evitar a paralisação. Entretanto, ela deverá acontecer mesmo assim. 
 
MEDIDAS DO GOVERNO

Enquanto isso tudo acontece, em Brasília o Senado aprovou nessa terça-feira, dia 29, a urgência na votação da proposta apresentada pelo Governo Federal, de isenção de PIS/Cofins sobre o valor do diesel através da reoneração de outros setores da economia. Apesar da urgência, porém, ontem ainda não havia um consenso para a votação do projeto, tanto do lado do governo quanto da oposição.
No domingo, dia 27, o presidente Michel Temer também anunciou que o reajuste do valor de combustíveis nas refinarias passará a ser feito mensalmente (e não mais diariamente). Visando conter as manifestações, ele também congelou o preço do diesel por 60 dias, valor com desconto de R$ 0,46 centavos, se comprometendo a fazer esse valor chegar às bombas dos postos. 
Além disso, o presidente também concedeu a isenção da cobrança do eixo suspenso em todo o país. Essa medida, porém, está gerando polêmica. Os manifestantes consideram que ela não está sendo seguida. Em contato com o pedágio de Venâncio Aires, foi afirmado que a medida passou a ser seguida nessa segunda-feira, e que só não serão cobrados os eixos suspensos se o veículo estiver sem carga.  
Outros melhoramentos concedidos foram o estabelecimento de uma tabela mínima de frete e a ordem de que os caminhoneiros autônomos terão um mínimo de 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimentos (Conab). No fim da última semana, o presidente também autorizou a intervenção militar para obrigar os manifestantes a encerrarem as paralisações. Nos pontos em que não há bloqueio de rodovias, porém, nem mesmo o exército pode agir, porque manifestar é um direito da comunidade. 

Produtores rurais se aliaram aos caminhoneiros e manifestaram na manhã de sexta e na tarde de segunda-feira

Você sabe o que é uma intervenção militar?


Muitas pessoas estão pedindo intervenção militar em meio às manifestações contrárias aos caminhoneiros. Mas será que elas sabem o que isso significa? Entenda um pouco: a intervenção militar usa as forças militares da Marinha, Aeronáutica e Exército para controlar qualquer ação de uma nação. No Brasil, onde vigora o Estado Democrático de Direito, uma intervenção militar só pode ocorrer sob ordem dos poderes constituídos. Conforme a Constituição Brasileira, a intervenção militar só pode efetivar-se legalmente em três casos específicos: Intervenção Federal, Estado de Defesa e Estado de Sítio. 
Há dois tipos de intervenção militar: uma é apenas uma convocação do Exército para auxiliar as polícias caso elas não deem conta de determinada situação, como aconteceu no Rio de Janeiro. A outra forma segue o caminho da ditadura, quando o Exército toma conta do país, cancela a democracia e as eleições, fecha os partidos, os sindicatos, as liberdades democráticas de reunião e opinião. A intervenção militar concentra o poder nas mãos de um grupo de generais, o que abre brecha para censuras, assassinatos e perseguições à mão armada.

 Segunda-feira foi marcada pelas filas nos postos de gasolina

Como estão os serviços em Santa Cruz? 


Postos de combustível: alguns postos da cidade receberam combustível no início da semana, mas a maioria já está novamente sem gasolina. Não há previsão de novos abastecimentos. 

Gás de cozinha: Está em falta em todas as distribuidoras de Santa Cruz do Sul e região sem previsão de retorno.

Transportes: O consórcio TCS responsável pelo serviço de ônibus das empresas Statdbus e TC Catedral segue com horários e linhas reduzidas sem previsão de normalidade. Já as linhas da empresa Viação União seguem normalmente com monitoramento frequente dos ônibus.

Taxis: A Associação Rádio Taxi de Santa Cruz do Sul informou que os taxistas estão atendendo e trabalhando normalmente nesta semana.

Educação: As Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis) estão funcionando normalmente esta semana e as Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emefs) estão com atividades suspensas até o retorno da normalidade nos postos de gasolina devido o transporte em áreas rurais. Já as escolas estaduais seguem com aula normal nesta semana e quaisquer casos de alunos ou professores que não consigam chegar às escolas, serão tratados individualmente. 
Na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), as aulas foram retomadas nessa terça-feira com orientação dos professores para que os estudantes não sejam prejudicados. Já na Faculdade Dom Alberto as aulas seguem normalmente, mas todos os clubes esportivos estão cancelados nesta semana.

Alimentação: Os mercados de Santa Cruz do Sul estão sem abastecimento de hortifrúti e outros produtos perecíveis, como já era previsto, e agora, de acordo com o Sindigeneros também começa a escassear o oferecimento de carnes. O sindicato, porém, pede que as pessoas tenham calma na hora das compras. “É preciso pensar nas outras pessoas”. 

Coleta seletiva: devido à escassez de combustíveis nos postos, a Cooperativa de Catadores e Recicladores de Santa Cruz do Sul (Coomcat) irá interromper temporariamente a coleta seletiva do lixo no turno da noite. Durante o dia, no entanto, o serviço continuará normal. A expectativa é de que a coleta seja regularizada logo que o abastecimento nos postos seja normalizado.

Copame: houve mudança na rotina dos servidores e das crianças atendidas pela Associação Pró-Amparo do Menor (Copame). Um dos setores mais prejudicados foi a cozinha, onde foi revisto o cardápio em função da falta de alguns insumos. Houve mudança também nas visitas às crianças – pais de outros municípios não puderam comparecer – e na rotina escolar. 

Frutas, verduras, leite e ovos já estão em falta na cidade