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Para onde anda o trabalho

Amanhã, 1º de maio, comemora-se o Dia do Trabalhador. Mas ainda existem motivos para celebrar essa data? Os mais recentes dados mostram um aumento no desemprego, que hoje atinge 14,3 milhões de brasileiros. Ainda que o Brasil esteja sofrendo com a crise provocada pelo coronavírus, estes números não são apenas um reflexo da pandemia. O atual projeto neoliberal colocado em prática no País aprofunda desigualdades e aumenta a pobreza. No entanto, não estamos sozinhos, pois o mundo decidiu tomar o mesmo rumo.

Até a década de 70, o desemprego, a inflação e as contradições sociais eram atribuídas ao capitalismo. Porém, a partir dos anos 90, estes mesmos problemas foram sistematicamente sendo atribuídos ao Estado. Com a queda do Muro de Berlim, o capitalismo deixou de ser o problema para se tornar uma solução universal, enquanto se constituía a ideia de que o Estado inchado, que distribui privilégios aos mais ricos, era o responsável pela pobreza e a miséria. Através da opinião pública se formou um consenso de que era hora de repensar o Estado, diminuí-lo, modernizá-lo e torná-lo menor. E ele se tornou menor e menos acessível aos pobres e mais necessitados dos serviços públicos que foram sendo precarizados e entregues ao patrimônio privado, através das privatizações.

Com isso, a organização de trabalhadores que funcionava na forma da cooperativas, sindicatos e entidades de classe, acabou sendo desmantelada. Quando não se conseguia privatizar, entravam em cena as parcerias público-privadas com a terceirização. Tudo isso com a promessa de serviços melhores e mais eficientes para a população.

O mundo do trabalho passou por grandes mudanças que não foram acompanhadas de políticas de proteção social. Os vínculos trabalhistas foram sendo rompidos e as relações de trabalho passaram e ser individualizadas. Com isso, surge uma nova classe trabalhadora precarizada e prestadora de serviços. A realidade do Brasil de hoje é do trabalhador que recebe um CNPJ para empreender, sem nenhuma estrutura de amparo social. Basicamente, um salve-se quem puder, com pessoas sendo entregues à própria sorte. Micro e pequenos empreendedores que prestam serviços se tornaram uma tendência no País pela falta de elaboração de políticas voltadas ao mundo do trabalho.

Estudos apontam que os pequenos negócios representam 30% do Produto Interno Bruto do País, no entanto, não vemos isso nos noticiários. Ao contrário do agronegócio, os micro e pequenos empreendedores não podem comprar espaços na TV para que falem bem do seu setor. Estão muito preocupados em seguir vivos mês após mês.

Isso sem contarmos a legião do dito “precariado”, que trabalha sem carteira assinada, independentemente de final de semana ou feriado, através de aplicativos, bicos e outros serviços. No dia do trabalhador, a grande ironia é que poucos trabalhadores vão poder desfrutar do merecido descanso.