Início Especiais Patinação | A arte de coreografar sobre rodas

Patinação | A arte de coreografar sobre rodas

Em Santa Cruz do Sul, patinação artística se tornou um esporte de tradição e já levou o nome do município mundo afora

Ex-atleta, Radtke dá aulas para crianças e jovens de 6 a 20 anos
Fotos: divulgação/RJ

Luísa Ziemann
[email protected]

Uma mistura de arte, competição e muita classe em um só esporte. A patinação artística é um misto da leveza da dança com a força do patinar, onde os competidores desenvolvem suas coreografias em cima de patins com quatro rodas. Em Santa Cruz do Sul, duas escolas de patinação fazem história e acumulam participações em torneios e competições que vão de nível estadual até mesmo mundial. O esporte é tradicional no município, e todos os anos, atrai mais crianças interessadas em se divertir e evoluir calçando os patins.

No caso da professora de Educação Física e técnica de patinação Fabiane Helena Knak, proprietária da Escola de Patinação Xlise, a paixão pelo esporte a acompanha desde a infância. “Desde criança, quando andávamos de patins na calçada na frente de casa, já comecei a gostar da patinação. Quando iniciaram as aulas de patinação aqui em Santa Cruz do Sul, fui participar e, de lá pra cá, nunca mais parei. Comecei aos 12 anos, como aluna; depois, fui auxiliar e aí me tornei professora.”

Fabiane conta que uniu o amor por crianças ao sonho de ser professora. “Nunca pensei em ser profe de patinação, mas o gosto por essa arte me fez seguir na área.” O clube iniciou suas atividades em novembro de 1994 e, desde o início, ensinou crianças e jovens a arte de deslizar sobre os patins. A participação em campeonatos e torneis em nível estadual e nacional iniciou logo em seguida, em 1995, quando a escola filiou-se à Federação Gaúcha de Patinagem (FGP) e à Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP).

A história se assemelha com a de Regina Kafer, proprietária da Pattins Sul. “Quando criança, assisti a um show de patinação na minha cidade natal, Estrela, e fiquei encantada pelo esporte e pela arte da patinação. Assim como eu, várias crianças e adolescentes que assistiram ao show resolveram organizar um grupo de interessados em aprender a patinar e trouxeram um dos principais patinadores deste espetáculo para dar aulas”, relembra. “Desde aquele dia não parei mais. São mais de 40 anos envolvida nesse esporte.”

Com o amor ao esporte – e não somente à patinação, mas a todos em geral – já enraizado em seu peito, ao concluir o ensino médio, Regina não tinha dúvidas sobre qual caminho seguir: iria cursar a faculdade de Educação Física. “Ao cursar Educação Física na antiga Fisc, surgiu a oportunidade de iniciar o trabalho da patinação no município com o apoio da Prefeitura de Santa Cruz do Sul. Foi aí que, em 1983, eu comecei a dar aulas, na época com sete alunas. Aos poucos, o trabalho foi evoluindo.”

Este ano, Regina completa 40 anos de trabalho com a patinação em Santa Cruz. “Nosso primeiro show de patinação foi durante a 1ª Oktoberfest, em 1984. Depois disso, o meu trabalho com a patinação só evoluiu e fui sentindo a necessidade de envolver os patinadores em competições”, salienta. “Formei, por meio do Clube Pattins Sul, vários expoentes que conquistaram títulos nacionais e internacionais em diferentes modalidades. Seguimos com atletas convocados para representar o Brasil em competições estaduais, nacionais e internacionais e, além disso, muitos ex-atletas ou atletas que ainda estão na ativa se tornaram profissionais na área da patinação.”

Da mesma forma, os alunos da Xlise também fizeram – e ainda fazem – história, trazendo muitas medalhas para Santa Cruz do Sul. “Em 1998, participamos pela primeira vez de um Campeonato Sul Americano no Uruguai. Desde então, foram vários campeonatos pelo Brasil e pelo mundo”, conta a professora Fabiane. “A equipe se renova de tempos em tempos e, quem gosta de patinar, continua sempre calçando os patins. Hoje temos aulas para crianças, jovens e adultos. Além das aulas, também oferecemos a recreação uma vez por mês, onde todos os interessados podem vir praticar a arte da patinação.”

Fabiane: “Aprendi a nunca desistir no meio do caminho”

De Santa Cruz para o mundo

Um dos alunos mais brilhantes de Fabiane, o santa-cruzense Carlos Radtke, é o responsável por levar o nome do município para o mundo, quando o assunto é patinação. O atleta conta que começou patinando de roller pelas ruas próximas a sua casa, quando tinha apenas cinco anoås de idade. “Era uma brincadeira junto de uma prima minha, que já patinava no Clube XLise”, lembra. “Como meus pais viram que eu me interessava pelo esporte, me colocaram para fazer uma aula experimental com ela. Lembro da sensação de colocar os patins de quatro rodas no pé pela primeira vez e foi mágico. Dali em diante, nunca mais larguei.”

A partir daí, tudo aconteceu muito rápido na vida de Radtke. Apenas dois anos depois, em 2000, ele participou do seu primeiro campeonato estadual e, já em 2003, foi convocado a integrar a Seleção Brasileira para disputar um campeonato Sul-americano no Uruguai. Hoje, o fisioterapeuta e técnico de patinação é responsável por ministrar aulas para alunos de 6 a 20 anos da Xlise e se orgulha de levar a bandeira da patinação santa-cruzense mundo afora. “A tradição do esporte é grande aqui na cidade. Já tivemos diversos medalhistas nacionais e internacionais nesses 25 anos que estou na patinação. O público reconhece nosso esforço e nos prestigia sempre que realizamos alguma apresentação pela região.”

Mas, para alcançar tantos objetivos com alcançou, o caminho de Radtke não foi fácil. “Por ser um esporte não-olímpico, sofremos com a falta de investimento muito grande. Durante toda a minha carreira, cansei de vender rifas e fazer “vaquinhas” para poder arcar com meus custos e os da minha técnica, Fabiane. Grande parte dos atletas, infelizmente, abandona o esporte muito cedo por conta disso.”

Hoje, o trabalho do ex-atleta está focado em incentivar crianças e jovens apaixonados por patinação a seguir em buscar de seus sonhos. “Todas as idades são bem-vindas. Temos turmas de iniciantes a partir dos quatro aninhos, assim como turmas de jovens e adultos”, conta. “Quem tiver interesse em conhecer mais sobre o esporte pode me chamar no meu Instagram @carlosradtke, ou no @oficialclubexlise e marcar uma aula experimental. Temos turmas de todos os níveis e para todos os objetivos: recreação, apresentações e também para aqueles que desejam se tornarem atletas.”

Falta de incentivo ainda é um problema

Assim como muitos atletas que vivem longe dos grandes centros esportivos, os alunos da Xlise e da Pattins Sul também passam por dificuldades. Uma delas é encontrar um local adequado para a prática da patinação. “A escola sempre teve suas aulas em lugares particulares ou clubes. Atualmente elas estão sendo realizadas no Espaço Xlise, que fica junto ao pavilhão da Igreja São José. A equipe de competição treina no pavilhão 2 da Oktoberfest, que teve o piso renovado recentemente, sendo um grande marco para os patinadores de competição, que agora tem um espaço que está sendo destinado para a patinação”, conta Fabiane.

Regina reitera que a falta de espaços apropriados para treinamentos é uma dificuldade que acompanha o esporte ao longo de todos esses anos. “Mesmo que seja partilhado com eventos que são realizados no Parque da Oktoberfest, agora contamos com um ginásio preparado para a prática”, acrescenta. O segundo entrave, de acordo com as professoras, é a falta de apoio e patrocínio, sobretudo de empresas locais. “Para as apresentações e participações em campeonatos, o apoio e incentivo vem unicamente dos pais”, conta Fabiane. “A falta de apoio financeiro é um empecilho, já que são muitas despesas e investimentos para participar do calendário de competições”, acrescenta Regina.

Mas, apesar das dificuldades, a patinação trouxe inúmeras alegrias e momentos marcantes para essas duas mulheres, responsáveis por evidenciar o esporte no município e lapidar o talento de centenas de atletas que passaram por suas escolas. “Um momento muito marcante foi a participação, com o atleta Carlos Radtke, em campeonatos mundiais, levando o nome do Brasil por diversos lugares do mundo. A conquista de uma medalha mundial por ele também ficará para sempre guardada na nossa memória”, relembra Fabiane. Regina guarda com carinho em sua memória a lembrança de Santa Cruz representar o Brasil pela 1ª vez no Campeonato Mundial, realizado na cidade de Novara, na Itália, em 2015. “O atleta Leonardo Machado Azambuja, da Pattins Sul, esteve lá com a Seleção Brasileira.”

Regina: 40 anos de trabalho em Santa Cruz do Sul

ONDE ENCONTRAR

Clube Xlise
Instagram: @oficialclubexlise
Página no Facebook: Clube Xlise de Patinação
Escolinhas: Pavilhão da Igreja São José – Rua Capitão Fernando Tatsch, 1237, Bairro Schulz

Clube Pattins Sul
Instagram: @clubepattinssul
Página no Facebook: Clube Pattins Sul
Escolinhas: Ginásio Bom Pastor – Avenida Independência, 1847, Bairro Universitário