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Chico e Francisco

Há um ditado que diz que “Pau que bate em Chico, bate em Francisco”. Os ditados populares resumem de forma simples analogias complexas. Ou seja, deve-se dar o mesmo tratamento e o mesmo rigor aos diferentes lados, independentemente da situação. Se há uma regra para um lado, ela deve valer para o outro também. Não há como aplicar a lei para alguém e fechar os olhos quando isso envolve outra pessoa. No entanto, o Brasil é uma exceção quanto a isso. Nem sempre pau que bate em Chico, também bate em Francisco.

O Brasil de Bolsonaro pode ser definido com uma riqueza profunda de adjetivos segundo o dicionário e, ainda assim, seria difícil definir o quão ruim e perverso é. Mas, resumidamente, podemos dizer que há uma grande inversão de valores. Isso sempre fez parte da natureza desigual de nosso País, entretanto, se acentua neste governo.

Como falei na coluna anterior, tudo está ao avesso. Aqui, no Brasil, se duvida de vacinas, mas se aposta em cloroquina, medicamento sem comprovação científica. Aqui também se dá prioridade ao e-mail da Conmebol, ao invés de responder à Pfizer sobre a compra das vacinas. Afinal, o que é mais importante: sediar uma competição de futebol ou garantir a imunização das pessoas? Neste País governado por Bolsonaro, tudo está ao contrário.

Mas o que me impressiona é que este ditado popular citado acima nunca esteve tão atual e há provas disso. No início da pandemia nós nos impressionávamos com o recorde de vidas perdidas na Itália. Hoje, nós naturalizamos as mais de mil vidas ceifadas diariamente. O presidente pode falar “E daí?”, “Não sou coveiro”, ou então: “O erro da ditadura foi torturar e não matar”. Tudo isso pode ser dito sem alarde e sem sofrer consequências. Porém, basta chamá-lo de “genocida” e isso rende até mesmo prisão.

Vamos nos lembrar de outras frases? “Ele merecia isso: pau-de-arara. Funciona. Eu sou favorável à tortura. Tu sabe disso. E o povo é favorável a isso também”. “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”. “Morreram poucos. A PM tinha que ter matado mil”. “Eu jamais ia estuprar você porque você não merece”.

Eu gostaria de dizer que o Brasil é um País justo, que a lei pune de forma igual ambos, que não há regra para um que não vá valer ao outro. Entretanto, o exemplo do presidente da República é claro. Alguém que não foi punido por falar atrocidades. Pior do que isso, foi condecorado com um prêmio por tudo aquilo que disse ao longo de sua trajetória.

Quando a exceção se torna regra e não há respeito algum pelas regras estabelecidas, fica muito claro que no Brasil nada é igual, são dois lados da moeda que recebem tratamentos diferentes. Espero que algum dia ainda vejamos uma situação em que teremos justiça de verdade.