Início Geral Tabaco pode ser esperança no combate ao vírus ebola

Tabaco pode ser esperança no combate ao vírus ebola

Everson Boeck
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Em meio a tantos ataques à cultura do tabaco nos últimos anos, um sinal de alívio pode chegar aos produtores de fumo, principalmente na Região Sul do Brasil – o maior exportador do produto no mundo. A revista Época, na edição de 11 de agosto deste ano, divulgou a história do médico norte-americano Kent Brantly, de 33 anos, que recebeu um recurso inédito contra o vírus ebola. O que chama a atenção é que a droga, testada pela primeira vez em um humano, trata-se de um coquetel de anticorpos criados em laboratório a partir de tabaco transgênico capaz de produzir as proteínas desejadas.
O médico contraiu o vírus quando participava de uma ação humanitária em países africanos afetados pelo ebola – tão letal que chega a matar nove em cada dez infectados. Devido aos graves sintomas (dificuldade respiratória e erupções generalizadas sobre a pele), ele acreditava que morreria. Em uma tentativa desesperada, seus colegas propuseram injetar nele uma droga experimental nunca antes testada em humanos: o ZMapp. Em algumas horas os sintomas diminuíram e em poucos dias ele estava recuperado.
Segundo a publicação, o ZMapp é desenvolvido por funcionários da MappBiopharmaceutical Inc; uma pequena empresa de biotecnologia situada em San Diego, no estado da Califórnia. A droga, experimental, é um coquetel de anticorpos criados em laboratório para reconhecer o ebola e estimular o organismo a atacá-lo. Para produzir anticorpos em quantidade suficiente para a pesquisa, os cientistas criaram uma variedade de tabaco transgênico capaz de produzir as proteínas desejadas.
De acordo com a MappBiopharmaceutical Inc; genes que produzem os anticorpos desejados contra o ebola são fundidos com genes de um vírus que, na natureza, infecta o tabaco. A planta doente passa a produzir anticorpos contra o ebola. Eles são extraídos das folhas amareladas. Do cultivo à extração, tudo leva algumas semanas.

“Acreditamos num futuro melhor”

O presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Albano Werner, recebeu a notícia com boas expectativas. Embora ainda não haja maiores informações sobre o tabaco produzido no laboratório e nenhuma certeza sobre a eficácia da droga, não sendo possível afirmar que a recuperação do médico Brantly tenha realmente sido causa pelo ZMapp, não deixa de ser uma esperança para o setor. “Temos a certeza de que a produção de tabaco ainda durará muitas décadas e todas as restrições que estão sendo discutidas pela Organização Mundial da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nas Conferências das Partes (COP) e outros órgãos poderão dentro de algum tempo desaparecer. Tudo muda muito rápido, inclusive a ciência, e uma nova era para o cultivo do fumo pode estar surgindo”, considera. Conforme Werner, outro fator que influenciará bastante no futuro do cultivo do tabaco é quanto às restrições no uso de aditivos e ingredientes.

Arquivo/RJ

Tabaco poderá ser usado contra o ebola

Burley pode ter redução na área plantada

A área de plantio da safra 2014/15 também fez parte das análises durante os encontros individuais ocorridos em Santa Cruz do Sul na terça, 26, e quarta-feira, 27 de agosto, entre as entidades representativas dos produtores de tabaco. Segundo a Afubra, a necessidade de diminuir o volume de produção é compactuada entre as partes, embora tenham surgido divergências sobre o percentual. Para as entidades, a estimativa atual indica 8% de redução, em média, na variedade Virginia, e 20% no Burley. Algumas indústrias discorreram previsões semelhantes. Outras, porém, afirmam que o percentual pode ser maior.
Benício Albano Werner, presidente da Afubra, explica que a área de Burley a ser plantada também depende das definições da COP 6, que ocorre na Rússia este ano. “Na conferência será tratado sobre a questão do uso de aditivos e ingredientes e este é o tipo de tabaco que mais necessita dessas adições. Nosso receio é que a OMS defina que certos aditivos e ingredientes não poderão ser mais usados. Se isso acontecer, a produção de Burley será muito prejudicada”, observa.
Para Werner, será necessária por parte dos produtores uma adequação da oferta/demanda. “Acreditamos que esta redução não significa exclusão desses produtores, mas é preciso ter muita cautela na produção do Burley. Isto é, se oferecermos mais do que a demanda necessita, estaremos prejudicando nossa lucratividade”, alerta. Outra preocupação além da COP 6, segundo ele, é o aumento expressivo dos países africanos na produção deste tipo de tabaco. “Felizmente o Virgínia ainda comporta uma produção maior, mas é preciso considerar esta redução no Burley o crescimento na produção nesses países”, frisa.
Um levantamento realizado pela Afubra este ano mostra que para a safra 2014/2015 a redução na área plantada do Burley é de 20%, baixando de 44.415 hectares para 37.470. Outro levantamento apresenta um comparativo de área plantada entre tabaco e soja, por exemplo. Para se chegar ao mesmo faturamento, é preciso plantar quase seis vezes mais soja em comparação ao tabaco (Veja tabela abaixo). “Estes números mostram que o País precisa se estruturar para poder exigir diversificação”, esclarece.

Cultura       Área plantada (ha)    Produção (toneladas)     Faturamento (R$)
Tabaco       309.750                        723.550                               5.412.154.000
Soja            1.515.203                     4.706.221                            5.412.154.000

Arquivo/RJ

Werner: “Cautela na produção do Burley”