Início Destaque A atividade do motorista que lida com a vida e a morte

A atividade do motorista que lida com a vida e a morte

Márcio Junkherr conta um pouco sobre a rotina de um condutor de ambulância e as principais características de sua profissão

Lavignea Witt
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Entre tantos tipos de profissões que envolvem pessoas atrás de um volante, existem os condutores de veículos de emergência que abrem caminhos nas ruas para salvar vidas. Dessa profissão Márcio Junkherr entende bem. Ele é condutor de ambulâncias há mais de 20 anos e começou o interesse pelo trabalho de motorista logo cedo, quando ainda morava com seus pais na lavoura. “Eu trabalhava no interior com eles, dirigindo máquinas agrícolas. Depois de algum tempo, antes de ir para o exército, fiz minha carteira de habilitação para veículos grandes, aí comecei profissionalmente na área. No exército fui designado como motorista e participava de todas as missões”, conta.

Após o seu período de permanência no serviço militar, Junkherr prestou concurso para a Prefeitura de Santa Cruz do Sul também na área de motorista. “Fiquei na atividade de caminhões durante dois anos e depois disso já passei para o serviço de ambulância. Busquei isso porque a área da saúde me interessava bastante”, relata. No início de 2004, Márcio entrou para a secretaria de saúde do município e começou a sua trajetória na condução de ambulâncias.
A sua integração no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) iniciou em 2008, quando a atividade inaugurou em Santa Cruz. “Na época nós tivemos uma seleção interna na secretaria de saúde. Eu e meus colegas acabamos sendo selecionados para integrar o SAMU e estou lá até hoje. Sou concursado há 21 anos na prefeitura”, declara. Por conta dos atendimentos no SAMU ocorrerem por regime de plantões, Junkherr decidiu ocupar seus momentos de descanso com um empreendimento próprio e assim nasceu a Santa Cruz Ambulâncias.

“Eu e um colega começamos uma empresa da mesma área de ambulância só que com um serviço complementar ao que se tinha aqui na cidade. Inicialmente um serviço mais básico como ida e volta do hospital para exames e outras situações. Posteriormente, alavancamos a empresa para a mais alta complexidade que é a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) móvel, para pacientes críticos. A partir disso, nós obtivemos muito sucesso. Trabalhamos no estado inteiro e foi tudo muito rápido”, relembra o empresário.

Nos dias atuais, a empresa conta com mais de 20 colaboradores que atendem o Estado em diversos tipos de serviços. “Possuímos cinco ambulâncias sendo de UTI móvel. Fazemos transporte de pacientes com alta complexidade e na cidade alguns transportes mais básicos. Trabalhamos também em grandes empresas, em eventos em geral como shows, jogos de futebol, enfim, a gente abraça tudo que é da nossa atividade. Eu e meu sócio fazemos plantão no SAMU, mas ficamos 24 horas via celular ou computador, que é o modo como comandamos a nossa empresa.”, explica.

Márcio expõe que a área em que trabalha é complexa, e a pessoa que deseja entrar nessa carreira precisa gostar muito de estar no modo acelerado. “O pessoal que trabalha nessa área gosta de compartilhar conhecimentos porque é algo difícil, é preciso estar aprendendo o tempo todo. Eu sempre digo que estou em alta rotação. Precisamos ser rápidos, ter muita agilidade e estar bem concentrados no que estamos fazendo. Eu sempre gostei muito disso, consigo fazer várias coisas ao mesmo tempo e isso me agrada muito”, afirma com muito orgulho da sua profissão.

Sobre momentos marcantes durante sua trajetória profissional, o empresário destaca que episódios ruins acontecem, mas situações positivas são as que mais perduram em sua memória. “Vivenciamos as partes boas todos os dias, quando ajudamos as pessoas é muito bom e gratificante. Dias muito pesados também aconteceram, a gente se depara com cenas de muitos óbitos. Outros atendimentos que marcam são os de paradas cardíacas, quando a gente consegue trazer o paciente de volta é muito gratificante”, explana.

A atividade

Segundo explicação de Junkherr, para conduzir ambulâncias, a primeira exigência é a carteira de habilitação na categoria D. Após, é preciso à realização de um curso de transporte de emergência. Porém, para trabalhos no geral, o profissional também necessita de conhecimentos em atendimentos, afirma o condutor. “Para isso, deve-se ter pelo menos um curso de atendimento pré-hospitalar (APH), que tem duração entre 20 a 40 horas, onde te proporcionam uma noção de teoria e prática em todos os tipos de atendimento pré-hospitalar que existe”, esclarece.

Outro critério é o curso de suporte básico de vida (BLS), que concerne no atendimento específico para paradas cardíacas. “Aprendemos como identificar e como tratar, em conjunto com o desfibrilador externo automático. Em uma eventual parada cardíaca, a agilidade é extremamente necessária”, afirma o profissional. “Seriam esses dois cursos para garantir um currículo básico e poder se candidatar a trabalhar nessa área. E no decorrer da carreira a pessoa pode ir se especializando. Um curso técnico vem muito a calhar nessa profissão, porque você aprende muito sobre anatomia, fisiologia, a questão de medicações, e todas as outras partes de atendimento básico”, salienta.

No passado, os condutores de ambulância apenas dirigiam os veículos – que, inclusive, eram diferentes dos atuais. A cabine do motorista era isolada do baú de atendimento. Agora, o veículo é aberto, o que integra as duas partes para que o condutor participe de toda a assistência. “Ele precisa fazer parte da equipe, estar ciente de tudo que está ocorrendo para auxiliar da melhor forma”, explica Junkherr.

Em questão de conduta atrás do volante, muitas pessoas pensam que as ambulâncias podem fazer o que quiserem no trânsito, mas esse é um pensamento errôneo, de acordo com o empresário. “Nós temos preferência de passagem em qualquer situação, para fazer um transporte mais seguro e com um tempo razoável. Para isso, não paramos em semáforos. Entretanto, isso não dá uma prioridade absoluta, precisamos ser visto pelos outros condutores e isso demanda muita paciência. Ficamos no limbo entre a legalidade e a necessidade de agilizar o máximo possível e isso é uma adrenalina constante”, relata.