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Cegos, mas não invisíveis…

Na proporção de todos os nossos sentidos físicos, o sentido da visão é o mais amplo e complexo, representando cerca de 80% de nossa percepção de mundo. Afinal, de acordo com a ciência, esse sentido está diretamente relacionado com a luz que nos vem do Sol, – luz visível ou espectro visível da luz – que é um conjunto de ondas eletromagnéticas que, o penetrar em nossos olhos, sensibilizam a retina e desencadeiam o mecanismo da visão. E, especificamente, com relação à luz, os elétrons, partículas negativas presentes em todos os átomos da matéria, ao receberem energia por colisões com outras partículas mais energéticas, excitam-se e passam a ocupar níveis energéticos mais altos. É essa a luz que impressiona as retinas de nossos olhos.

Mas o que é essa luz e de onde ela vem? E como vemos a luz? A luz que vemos é a luz refletida ou devolvida pelo objeto, que condiz ao inverso da luz absorvida por esse objeto. Assim, um objeto iluminado que absorve todos os comprimentos de onda da luz visível, menos o comprimento de onda referente ao vermelho, terá uma cor refletida, reconhecida, como por exemplo, o vermelho. Essa regra vale para cada uma das cores que vemos. Mas e quando nascemos cegos ou por alguma eventualidade, ficamos cegos, o que acontece com relação à visão?

De modo geral todos nós temos medo, entre tantos outros medos, do escuro, da velhice, do que não podemos ver, do glaucoma e das doenças incapacitantes, entre elas a cegueira. De certo modo, esses medos nos assolam desde que o mundo é mundo… Temos medo porque nos sentimos vulneráveis, fragilizados… Mas lamento informar que o sentimento que permeia a relação entre “ficar no escuro” e perder a visão física é totalmente divergente…

Quando abri minhas redes sociais essa semana, me deparei com o desabafo de uma amiga – um ser iluminado – que está com problemas degenerativos de visão… a cada linha que eu lia, menos reconhecia a empatia e a humanidade… O Luis capitou em toda a sua espirituosa percepção, e peço licença aqui para descrever, os relatos de sua mãe Alessandra Quadros: “Hoje comprei uma bengala para me auxiliar em uma caminhada de afazeres pelo Centro, automaticamente saí pela área urbana de Santa Cruz do Sul utilizando-a, pois eu senti necessidade de algo que me desse mais segurança em meu trajeto, eu estava acusando bastante dificuldade visual, sendo que possuo a visão apenas no olho direito e o mesmo já está bastante enfraquecido. O que me assusta um pouco é perder a noção de superfície quando amanheço com mais sensibilidade no olho e, pela primeira vez, eu senti na pele o que é a sensação de invisibilidade. Porém tem algo que senti ainda mais na pele, a diferença de reação de terceiros ao ver a minha posição como deficiente visual! As pessoas quando me viam com a bengala, provavelmente, achando que eu não conseguia perceber nada do que estava acontecendo ao meu redor se afastavam automaticamente, faziam a volta para não passar por perto…. Talvez com medo de atrapalharem meu percurso, ou simplesmente por também se fazerem de cegas, com a finalidade de não enxergar o que estava acontecendo. Era como se não quisessem se sentir responsáveis a ajudar alguém com deficiência, e quando falo que senti na pele a situação, não estou me enquadrando como vítima, muito pelo contrário, mas foi uma sequência de fatos que me fez perceber, o que uma pessoa com deficiência física passa em meio à nossa sociedade… Muitas vezes é tratada uma fruta estragada em meio a uma floresta que gera sempre frutos perfeitos na maioria das vezes (O ser Humano).

Uma deficiência física não impede uma pessoa de ser ela mesma, não tira seu poder de raciocínio, e muito menos perde sua percepção sobre o comportamento egoísta dos frutos bons! O ser humano em grande parte talvez tenha medo que alguém com dificuldades peça ajuda em alguma coisa, talvez em atravessar a rua ou descer algum degrau… Hoje, com a bengala, isso ficou muito claro… eu solicitando um pouco mais de empatia das pessoas e afirmando com todas as letras que as pessoas que possuem qualquer tipo de deficiência possuem as mesmas capacidades intelectuais e emocionais e que não se faz necessário a exclusão por parte de ninguém e afirmo com certeza que que esse tipo de atitude fica claro para quem está sofrendo exclusão. Não adianta falar de empatia, de inclusão, de amor ao próximo se a gente não consegue fazer isso por um irmão que passa o nosso lado na rua.”
Impactante. Muito.

Assim como essa jovem, muitas pessoas se sentem dessa maneira: invisíveis. Sofrem caladas, passam dias e dias tentando desvelar os segredos da humanidade, da empatia, da inclusão, da solidariedade que uma sociedade hipócrita e doente tanto presa. Não é uma pessoa apenas! São inúmeras! São pessoas represadas, excluídas… diminuídas… ou mesmo, menosprezadas por essas fraquezas que não as fazem melhores ou piores que outras pessoas. Pelo contrário, destacam suas potencialidades de percepção de vida. De percepção de humanidade, de empatia… de comprometimento social.

Cegos, não são invisíveis… e que possamos abrir os nossos olhos, aguçar nossa percepção e sermos, de fato, humanos, em nossa espiritualidade, em nossa transcendência e imanência e, acima de tudo, em nossa essência.

Fica o alerta… os problemas no campo da visão são delicados e podem ser bem silenciosos, mas estão presentes em nosso dia a dia… Que possamos enxergá-los em sua proporção e complexidade… Vamos lutar juntos por essa causa?

Hoje foi a Alessandra, amanhã pode ser eu ou você… Afinal, não somos invencíveis, tão pouco, invisíveis!