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O outro eu

Talvez você já o conheça há anos. Ou, nunca o tenha visto. Hipoteticamente, pode tê-lo visto em uma ou duas oportunidades aleatórias… e nem sabia que seu outro eu existia. Não falamos aqui em dupla personalidade, nem de bipolaridade. Descrevemos, sim, o outro eu, como sua alma gêmea. Traduz-se por aquela pessoa que consegue ler a sua mente, que te conhece, que te entende… que te completa…. Uma conexão que aflora em um simples olhar, um gesto…

Geralmente com essa pessoa a ligação não se limita apenas aos takes de sexualidade, um simples segurar em suas mãos já faz suas sinapses mergulharem em um turbilhão de lembranças, emoções e memórias afetivas que te fazem sentir vivo. Com seu outro eu, você pode ser quem você é, sem medo de represálias, sem medo de ser julgado ou mal interpretado, pois se sentem confortáveis um na presença do outro. É aquele tipo de pessoa que arrisca e divide com você seu mundo interior, suas necessidades… suas emoções, como se fossem um só.

De acordo com a Mitologia Grega, nas palavras de Platão: Os seres humanos foram criados originalmente com quatro braços, quatro pernas e uma cabeça com duas faces. Temendo o seu poder, Zeus dividiu-os em duas partes distintas, condenando-os a passar a vida em busca de suas outras metades. Muitos são os mitos e as lendas que falam de “cara metade”, “metade da laranja”, “alma gêmea”, “carne e unha”… oriundas de reflexões filosóficas acerca da origem da humanidade…

Na verdade, o mito da alma gêmea foi criado por Platão que em seu livro ‘O Banquete’ tenta definir o que é o amor. E nessa busca, muitos convidados de uma festa, cada um por vez, faz um elogio ao deus Eros (deus do amor). No entanto, um dos momentos mais fascinantes do texto é quando toma a palavra o comediógrafo Aristófanes. Ele faz um discurso belo e que se imortalizou como a teoria da alma gêmea.

Contrapontos dessa discussão atentam para a ilusão perigosa de nos fazer crer que alguém, além de nós mesmos, veio a este mundo com a missão de nos fazer felizes. E depositar nossa fonte de contentamento no outro nos faz tão infantis quanto dependentes. Pois, enquanto acreditarmos que existe uma parte de nós perdida pelo mundo nos esperando para formarmos o encaixe perfeito, vamos romantizar as relações ao ponto de ficarmos frustrados com qualquer diferença entre nós e a alma que esperamos ser gêmea. Afinal, não somos metades. Nascemos sós e, no meio do caminho, encontramos pessoas que podem vir a ser bons companheiros de jornada – às vezes por uma estação, e outras por muitas primaveras. Por isso gosto da teoria do outro eu, aquele que me completa… que pensa como eu… que complementa o meu pensamento, que sente o que eu sinto… que me vê como eu sou… que é literalmente, meu outro eu… em uma conexão de loop infinita, programando e reprogramando a nossa felicidade!

Fique com a cabeça e o coração abertos; assim, quando seu outro eu vier bater à porta, você estará preparado para atender…