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Paradoxos da revolução e da democracia

Determinados setores políticos da sociedade brasileira, tem apontado nos últimos anos que a democracia está ameaçada no País. Verdade seja dita, tanto esquerda quanto direita fragilizaram a nossa confiança na democracia, ao longo dos anos. O sistema democrático exige uma construção constante e, por mais que esse sistema seja bastante avançado em relação a outras experiências, ele sofre seus tropeços e inseguranças.

A construção democrática passa por equívocos também, embora haja muitos acertos nessa caminhada. Um dos acontecimentos mais relevantes na história da democracia, é a Revolução Francesa (final do século 18 e início do século 19). Este movimento derrubou uma estrutura de poder opressiva, em que o rei, a nobreza e o clero dominavam as ações políticas e desfrutavam de altos privilégios – enquanto isso, a pobreza se alastrava. Essa situação de grande desigualdade fez com que a Revolução fosse deflagrada, e a estrutura opressiva de poder fosse derrubada. Era o triunfo da razão e do iluminismo.

Porém, leiam esta reflexão do pensador francês Michel Foucault (1926-1984) sobre a Revolução Francesa: “O primeiro grande livro consagrado à saúde pública, na França, foi escrito em 1784, cinco anos antes da Revolução e dez anos antes das guerras napoleônicas”. O combate à desigualdade, e uma tentativa de avanço democrático, podem também incorrer em equívocos gravíssimos, caracterizados pela violência. Segundo Foucault, “é no momento mesmo em que o Estado começa a se preocupar com a saúde física e mental de cada indivíduo que ele começa a praticar seus maiores massacres”.

Podemos arrematar com outro pensamento de Foucault: “O que há de mais perigoso na violência é sua racionalidade. Certamente, a violência é em si mesma terrível. Mas a violência encontra sua ancoragem mais profunda na forma da racionalidade que nós utilizamos”.