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Ah meu filho…

Fabiane e seu filho Miguel – Divulgação

Um dia 2020, 2021 serão apenas datas “importantes” nos livros de História (se ainda existirem livros quando tiveres 30 anos). Você terá a mesma sensação que temos quando falam em “Ditadura”, que foi terrível, cruel, mas que não vivemos, não sabemos exatamente como é. Então por isso, para que você não saiba apenas a versão dos fatos de quem um dia registrou este momento como profissional, quero te falar de quem viveu este momento como mãe, onde estávamos e como me senti, com você tão pequeno, com dois anos e três meses quando tivemos nosso primeiro lockdown.

Pensar sobre isto lendo um jornal é um fato, longe, isolado. Mas viver isto dói demais. Vou te contar a razão. Faz um ano meu amor, um ano que este vírus, chamado coronavírus invadiu o mundo. Jamais pensamos que seria desta forma, com esta intensidade, que teria nossa liberdade arrancada e medo de morrer. Sim, ele mata. No começo, achávamos que eram somente os idosos. E fomos nos perdendo em discussões políticas, ofensas pessoais, até que ele chegou bem pertinho, para nos lembrar novamente para que ele veio, pois a gente tem o hábito de esquecer o principal, o propósito de tudo.

Então meu amor, além de todos os estudos científicos, teorias de especialistas e tudo que está sendo falado a respeito, quero que saiba o meu olhar e meu sentimento, tua mãe. Para que quando tiver a minha idade, quem sabe, possa contar aos teus filhos, o que significou para nós, tua família, este momento. Mamãe trabalha em casa, desde que você nasceu. Cuido da casa, de você e do meu trabalho como terapeuta. Teu primeiro ano, em dezembro de 2019, logo após teu primeiro aninho, em março de 2020, tudo isso começou. Levamos na “brincadeira”, não nos cuidamos o suficiente, não aprendemos a respeitar regras mínimas de higiene e de conduta, para o bem de todos. Cada um achou que poderia levar a vida como quisesse, que tem muitos direitos, poucos deveres e que a culpa é sempre dos outros, dos políticos, do governo. Mas esquecem que cabe a cada um, fazer a sua parte, sem julgar ou se preocupar se o outro faz ou não, simplesmente fazer o certo.

Olhamos demais para fora, apontamos demais e nos comparamos excessivamente. Não podemos “ficar para trás”, mudar a rotina, deixar de ver quem gostamos, de fazer o que queremos. E nosso egoísmo e falta de consciência custou muito caro. Custou vidas. Sabe, está sendo muito triste! Ver que todo este processo, para alguns será em “vão”. Que tanta dor, solidão, saudade e perdas de toda ordem, não irão nos fazer pessoas melhores. Ah, quase esqueci! Este é o propósito meu filho, nossa evolução! E eu tenho certeza que você já sabe o que ainda estamos tentando aprender, evoluir pelo amor e não mais pela dor! Sei que tudo isso ficará registrado na tua energia de alguma forma e que mesmo não tendo consciência, sente que algo acontece ao teu redor. Aprendeu a se acostumar com pessoas de máscaras, a passar álcool gel constantemente e a ficar em casa, lembrando que a nossa casa deveria ser o lugar mais prazeroso, agradável e seguro do mundo. Nem sempre é, mas a nossa missão é torná-la, seja onde e como for.

Então meu querido, eu peço que esta tua mãe esteja aprendendo a lição, porque vontade de acertar, melhorar, crescer e evoluir, não falta. E que essa vontade toque tua alma e faça de você um ser que faça a diferença, neste mundo de indiferentes. Te amo, mamãe.